Crítica Social, barulho, velocidade e vingança. Violator não decepciona e mantém sua essência no lançamento de Unholy Retribution em São Paulo

Um lindo caos tomou conta do City Lights na tarde do penúltimo sábado de 2025. Entre os cafés descolados de Pinheiros e restaurantes de “comida afetiva”, uma longa fila de gente que destoava da região se estendia para ver o Violator lançar seu mais recente trabalho, Unholy Retribution

23 anos depois da primeira apresentação em São Paulo, Cambito, Poney, Capaça e Batera, assim como o público, que é quase um quinto membro da banda, mantinham a energia caótica esperada. Pela pista voavam uma bóia de piscina em formato de donut, balões de camisinhas, tênis e muita gente no stage dive, numa ilustração perfeita da catarse que é um show do Violator. Apesar da ironia do vocalista Poney Ret Crucifier diz: “duas coisas que não combinam com Thrash Metal: show longo e ser velho, e estamos fazendo as duas”, a banda entregou um espetáculo. Gente subindo no palco, dividindo o microfone pra cantar junto, do jeito que o diabo gosta.

A noite foi uma realização do Kool Metal Fest, iniciativa que merece reconhecimento por organizar eventos democráticos e acessíveis, tendo um papel fundamental na renovação do público do metal. A sonorização estava excelente, casa lotada, mas o plano inicial era que o festival acontecesse gratuitamente no Tendal da Lapa, como é de costume do Kool. Infelizmente não foi possível, pois os eventos estão suspensos por lá em virtude do recente assassinato de Helen Vitai em frente ao local, após um Festival Punk. O episódio, que teria começado por um desentendimento fútil, expôs feridas profundas do underground. A banda não ignorou o contexto e Poney foi direto: “Por picuinhas de cena, pessoas se mataram. O inimigo não está aqui dentro. Vamos cuidar uns dos outros.” Estava dado o tom da noite, como espaço de união, não de disputa.

Outro momento muito bonito foi a reverência à memória de Alex Bucho, figura querida da cena metal, lembrado pela banda com respeito e emoção. Bucho faleceu vítima de COVID em 2021.

Clássicos como Atomic Nightmare e Respect Existence Or Expect Resistance foram acompanhadas em coro pelo público, dividindo espaço com faixas do novo disco, como Persecution Personality, Vengeance Storm e The Evil Order. Unholy Retribution foi lançado em 2025 com apoio da Kill Again Records, mantendo a sonoridade rápida do Thrash Old-School, que já é marca da banda.

Nota: no show deu pra sentir um um cheirinho de Death Metal aqui e ali. As letras são carregadas de um discurso abertamente Antifascista, coerente com os posicionamentos da banda, além da temática da vingança.

Reduzir o show do Violator a uma boa execução técnica seria injusto. A banda fez questão de contextualizar o momento político e social, criticando enfaticamente o ex-presidente da república, o genocídio contra o povo palestino em Gaza e reafirmando o orgulho da América do Sul e da importância da região para o metal. A banda tem o Thrash como ferramenta de crítica social, não como trilha sonora alienada. Num país que insiste em silenciar vozes dissonantes, Poney segue gritando.

TEXTO POR JULIANA DE ALMEIDA
FOTOS POR GUILHERME SORBELLO