Embora já não tenhamos veículos como a MTV, que durante décadas ditou tendências e eternizou videoclipes que fizeram história, o formato audiovisual continua sendo fundamental para as bandas, tanto na expressão de suas performances quanto no aprofundamento de sua estética e proposta artística.

Com os atuais recursos tecnológicos, os videoclipes ganham produções cada vez mais grandiosas, mesmo no cenário independente, onde os orçamentos disponíveis são muito mais limitados do que os de artistas amparados por grandes gravadoras. Ainda assim, essas bandas criam produções cinematográficas, que ampliam o impacto emocional e conceitual da sua obra.

Na lista de hoje, destacamos dez videoclipes cinematográficos que ilustram com perfeição a força do formato. Vale ressaltar que a seleção não busca estabelecer um ranking de melhores ou piores, mas simplesmente reconhecer grandes trabalhos e incentivar o público a descobrir e se conectar com mais artistas da cena underground e independente.

Finita – “Quicksand”

O que a Finita construiu por meio de sua obra já pressupõe a ideia de grandiosidade, algo que se confirma nas produções ambiciosas da banda gaúcha, que vem se destacando como um dos principais expoentes do gênero no país e uma representante consistente da força do Metal brasileiro no exterior. Após impressionar com os videoclipes épicos de “Gates of Oblivion” e “Witch’s Laugh”, o grupo reafirmou seu nível de excelência em “Quicksand”, apresentando uma performance teatral e uma produção digna de cinema.

Manger Cadavre? – “Efêmero”

É inegável que o Manger Cadavre? se consolidou como um dos nomes mais relevantes do underground contemporâneo, mas o álbum “Como Nascem os Monstros” e, em especial o videoclipe de “Efêmero”, elevam sua proposta artística a um novo patamar. Fiel ao que a letra anuncia, “Efêmero” é um registro angustiante, que traduz com precisão a sensação física e mental de sufocamento, desespero e agonia. Trata-se de uma produção independente, mas conduzida com a consciência estética e a potência simbólica de quem entende profundamente o alcance e a representatividade de sua própria arte.

Creatures – “Beware the Creatures”

O Creatures lançou um dos trabalhos mais expressivos de 2025, e a performance da banda no videoclipe de “Beware the Creatures” alcança um patamar compatível com grandes produções internacionais do formato. Com uma atmosfera que remete à nostalgia e uma energia pulsante, o grupo resgata a estética oitentista sem depender do saudosismo para justificar sua proposta. O resultado é uma obra que dialoga com os clássicos do gênero, mas permanece plenamente contemporânea em identidade e linguagem.

Eskröta – “Mantra” feat. Mc Taya

Blasfêmea” é definitivamente um dos discos mais importantes de 2025 e a faixa “Mantra”, com participação de Mc Taya, talvez seja a faixa mais representativa do álbum. O videoclipe adota uma estética nitidamente DIY, mas ainda assim transmite com precisão a mensagem urgente e empoderadora que sustenta a obra, reforçando a força política e emocional do trabalho mesmo sem recorrer a excessos de produção.

Vakan – “The Hunter”

O Vakan vem construindo uma narrativa de amplitude impressionante para o seu vindouro segundo álbum, uma obra conceitual instigante que por si só já carrega a força de um roteiro de cinema, mas que vem ganhando contornos ainda mais ambiciosos com videoclipes ambiciosos, que expandem ainda mais a profundidade e a estética proposta por sua obra.

Vazio – “Ritual de Destruição”

A música do Vazio já justificaria por si só o adjetivo “cinematográfica”, tamanha a carga dramática e o caráter teatral de suas composições. Essa dimensão, porém, ganha proporções ainda maiores em seus trabalhos audiovisuais. No videoclipe de “Ritual de Destruição”, a banda expande de forma contundente a estética que sua música já sugere, reforçando a autenticidade de sua proposta e consolidando a força visual que acompanha o universo de sua obra.

Santa Cora – “Ancient Road”

A Santa Cora vem apostando alto para o seu segundo álbum de estúdio e logo no primeiro single e videoclipe do disco, a banda já apresentou um cartão de visitas de altíssimo nível. A estética visual evidencia as mudanças na sonoridade do grupo, agora mais ambiciosa, moderna e amadurecida. Tudo isso se manifesta de forma orgânica em uma performance que reforça a confiança e a clareza de rumo de uma banda que sabe exatamente onde pretende chegar.

Madame Chaos – “There’s No Time for Longing”

É praticamente impossível sair incólume ao videoclipe de “There’s No Time for Longing”, da banda gaúcha Madame Chaos. A mensagem da música já carrega emoção suficiente para tocar qualquer pessoa que tenha enfrentado perdas significativas, mas a intensidade do videoclipe amplifica esse sentimento de forma avassaladora, tornando a comoção inevitável. Ele toca em lugares que muita gente tenta evitar, expõe feridas que achamos que estavam cicatrizadas e, de forma quase brutal, nos faz encarar o vazio que fica quando alguém importante se vai.

Anversa – “1484” feat. Meire D’Origem

É impossível assistir ao videoclipe de “1484” e permanecer indiferente. Lançado pela Anversa em parceria com a rapper Meire D’Origem, a fusão entre hardcore e rap ganha contornos ainda mais sombrios quando o vídeo confronta, sem desviar o olhar, a violência estrutural que atravessa séculos. “1484” é um lembrete brutal de que a opressão que queimou mulheres na fogueira continua viva, agora em forma de feminicídio, silenciamento e medo. O clipe é um chamado direto, visceral e urgente para que essa história, repetida tantas vezes, encontre cada vez mais resistência.

Crônica Ativa – “Colateral”

O videoclipe de “Colateral”, da Crônica Ativa, é cinematográfico em todos os sentidos, e não por acaso. A faixa integra a trilha sonora de “A Última Peça”, novo filme de terror independente dirigido por Raphael Carlos e Jeziel Bueno. O nível de produção impressiona e reforça, mais uma vez, como o cenário brasileiro é plenamente capaz de entregar obras audiovisuais potentes, imersivas e visualmente marcantes. É impossível não ser capturado pela narrativa apresentada: música e imagem se entrelaçam para envolver o espectador por completo na atmosfera densa e inquietante que o clipe propõe.