O Alcatraz Metal Festival, realizado em Kortrijk (Bélgica), é um dos eventos de metal mais respeitados da Europa. Em uma entrevista de mais de 27 minutos, Bernard De Riemacker, um dos organizadores principais do festival e responsável pelo contato com a imprensa, compartilhou detalhes sobre sua trajetória com o evento, bastidores, números, projetos especiais e planos para o futuro.

Fonte: vez.be

Quem é Bernard De Riemacker e seu papel no festival

Headbangers Brasil: Bernard, você pode se apresentar e contar sobre sua relação com o Alcatraz?

Bernard: “Meu nome é Bernard De Riemacker e faço parte do Alcatraz há mais ou menos 13 anos. Fui convidado pelo dono do festival e desde então me envolvo em várias partes do evento, desde a logística e seleção de bandas até a interação com o público e a comunidade local. Cada edição tem seus desafios e detalhes que acompanho de perto.”

Origens e crescimento do festival

Headbangers Brasil: Como surgiu a ideia do Alcatraz e qual era o público inicial?

Bernard: “O festival começou muito pequeno, com cerca de 300 pessoas. A ideia era criar algo diferente dos grandes eventos de metal, com identidade própria e proximidade com o público. Hoje, reunimos cerca de 60.000 pessoas, mas sempre mantendo a atmosfera acolhedora que caracteriza o Alcatraz.”

Headbangers Brasil: Como o festival cresceu sem perder sua essência?

Bernard: “O crescimento foi gradual e planejado. Mantemos sempre a proximidade com o público e buscamos autenticidade em cada edição. Não queremos necessariamente ser o maior festival da Europa, mas sim oferecer a melhor experiência possível para o público. É isso que diferencia o Alcatraz de outros festivais grandes.”

Inclusão, acessibilidade e conforto do público

Headbangers Brasil: O Alcatraz oferece algum tipo de inclusão e acessibilidade?

Bernard: “Sim, somos um festival inclusivo. Existem espaços designados tanto no camping quanto na área de shows para pessoas PCD. Além disso, os restaurantes do festival procuram servir mais do que comida típica de festival, oferecendo variedade para todos: veganos, vegetarianos, peixes, carnes. Essas opções também se estendem à área dos artistas. Eu mesmo procuro acompanhar de perto a percepção do público sobre o festival. Por exemplo, no dia da abertura dos campings, fui pessoalmente checar quanto tempo as pessoas precisavam esperar na fila e, ao ouvir que alguns esperavam cerca de uma hora, já anotei isso como uma mudança necessária para melhorar ainda mais o conforto do público para o próximo ano.”

Bastidores e relação com a imprensa

Headbangers Brasil: Como vocês selecionam as mídias que participam do festival?

Bernard: “Não podemos aceitar todo mundo, então avaliamos com cuidado quais veículos realmente trazem valor. Procuramos jornalistas e mídias que tenham paixão pelo metal e que compreendam a essência do Alcatraz. É fundamental que eles transmitam isso ao público de forma verdadeira.”

Comunidade local e acesso gratuito

Headbangers Brasil: O festival tem algum envolvimento com a comunidade local?

Bernard: “Sim, na quinta-feira a comunidade local tem acesso gratuito ao festival. É uma forma de incluí-los, fazer com que Kortrijk se sinta parte do Alcatraz. Sem o público, não teríamos festival; eles são o coração de tudo que fazemos.”

Bandas e diversidade musical

Headbangers Brasil: Quantas bandas se apresentam e qual a proporção de grupos locais?

Bernard: “Em cada edição, cerca de 130 bandas se apresentam, e aproximadamente um quinto delas são locais, da região das Flandres. Isso mostra nosso compromisso com a cena local e a diversidade musical que oferecemos.”

El Presídio: festa temática dentro do festival

Headbangers Brasil: Pode nos falar sobre o El Presídio e os DJs que tocam lá?

Bernard: “O El Presídio foi criado a partir da percepção de que as pessoas não querem passar quatro dias apenas em um festival, elas também querem ir a um bar, uma festa. O El Presídio é exatamente isso: uma festa temática dentro do festival, com bar e DJs. Contamos com 14 DJs especializados em rock e de renome na cena local, sendo o principal deles o Franky De Smet-Van Damme, que também é vocalista da banda belga Channel Zero. Ele traz uma energia única e é referência dentro desse espaço.”

Momentos memoráveis no festival

Headbangers Brasil: Qual foi o momento mais memorável que você vivenciou no festival?

Bernard: “O mais memorável foi, sem dúvida, o Marilyn Manson. Ele estava pedindo um container que precisava estar a 17 graus, nem 16, nem 18. Tudo tinha que ser preto, então tivemos que colocar cortinas por todo o container. Depois, ele pediu muitos quilos de sushi, mas nem chegou a comer. Também pediu 30 ou 40 bíblias. O container ficava a cerca de 60 metros do palco, então ele precisava ser transportado de carro até lá, e os seguranças tinham que ficar na parte traseira, sem olhar para ele. Eu nunca vou esquecer isso, mas, hey, é o Marilyn Manson e é assim que funciona com ele.”

Headbangers Brasil: Quando há pedidos assim, tão especiais, como você organiza tudo?

Bernard: “Quando há pedidos assim, já tenho uma equipe à espera para cumprir tudo. Você agenda o artista, eles dizem o prazo que você tem para cumprir cada exigência, e se você não fizer, é simples: não tem o artista no seu festival.”

Espaços de relaxamento e experiência do público

Headbangers Brasil: Que espaços o festival oferece para relaxar e conversar?

Bernard: “Temos áreas dentro do festival onde o público pode relaxar, conversar e socializar. Alguns visitantes comparam esses espaços ao Tomorrowland, mas com uma identidade própria do metal, permitindo que o público tenha uma experiência completa e confortável.”

Impacto econômico e social

Headbangers Brasil: Qual é o impacto do festival para a cidade de Kortrijk?

Bernard: “O festival movimenta hotéis, restaurantes e o comércio local, contribuindo para a economia da cidade. Queremos ser mais do que um evento musical; buscamos criar impacto social e cultural positivo.”

Sustentabilidade

Headbangers Brasil: Quais iniciativas sustentáveis estão em prática?

Bernard: “Trabalhamos com gestão eficiente de resíduos, incentivamos o transporte coletivo e buscamos fornecedores conscientes. É essencial crescer de forma responsável. O futuro precisa ser sustentável.”

Planos para o futuro

Headbangers Brasil: Quais são os planos para as próximas edições do Alcatraz?

Bernard: “Continuaremos equilibrando grandes nomes com espaço para novos talentos, reforçando diversidade, inclusão e sustentabilidade, sempre mantendo a autenticidade e a experiência única para o público.”

A entrevista com Bernard De Riemacker revela os valores centrais do Alcatraz: honestidade, autenticidade, proximidade e paixão pelo metal. Como ele mesmo disse: “O segredo é permanecer verdadeiro, seja com as bandas, com o público ou com a própria essência do festival.” O Alcatraz Metal Festival se apresenta assim não apenas como um evento musical, mas como uma experiência completa, conectando artistas, público e comunidade.

Um enorme agradecimento a Bernard De Riemacker por disponibilizar seu tempo e compartilhar conosco todas essas informações detalhadas sobre o Alcatraz Metal Festival. Sua dedicação e paixão tornam o festival uma experiência única para todos os fãs de metal.

Por: Cintia Seidel