Satan até quis acabar com o festival, mas… Nesta quinta, 10 de novembro, a OPEN THE ROAD, veterana agência promotora de eventos e booking de bandas, trouxe novamente o seu festival, agora na oitava edição, para a capital paulista. O Carioca, em São Paulo, ferveu ao som de quatro excelentes bandas, dois nomes nacionais que atestam o valor do underground brasileiro, e duas bandas estrangeiras de bastante sucesso. Nesta noite apresentaram-se a VAZIO, banda em ascensão e com potencial para tornar-se um dos nomes mais hypados do meio, a FLAGELADOR com seu thrash metal muito bem trampado, a tradicional norte-americana OMEN e o poderoso MAYHEM. A banda Satan, que poucos dias antes do festival, cancelou sua presença (e até mesmo todo o festival em uma montagem muito mal-feita) foi rapidamente substituída pela mencionada FLAGELADOR. Comenta-se que eles próprios teriam tido problema com sua documentação (informação que eles refutam). Estivemos no festival e vamos contar aqui tudo o que aconteceu.

VAZIO

Foto: Gustavo Diakov
Foto: Gustavo Diakov

O festival de música macabra começou com a VAZIO no palco. Daniel Vecchi (bateria), Eric Nefus (guitarra), Renato Gimenez (vocal e guitarra) e Nilson Slaughter (baixo) levaram todos os presentes (já um bom público, apesar do horário) para explorar o além-morte.

E o show prosseguiu de forma etérea, numa atmosfera de pós-existência. Vez por outra o público gritava o nome da banda, ou gritava para o próprio vazio. Depois da hipnótica “Chamado dos Mortos” as luzes se apagam, mas a banda continua no palco, louvando a “Besta Interior” que há na alma de cada um. E a voz, já cavernosa, de Renato fica ainda mais lenta em “Ancestral Rebelião”. Mais uma vez, depois de “Condenados ao Esquecimento”, as luzes se apagam e mais uma vez o público clama pela banda. É “Eterno Vazio” que fecha a viagem pelo vazio eterno.

Setlist

  1. Elementais da Matéria Obscura
  2. Sob a Noite Espectral
  3. Nascido do Fogo
  4. O Chamado dos Mortos
  5. Besta Interior
  6. Ancestral Rebelião
  7. Emanações Sinistras da Escuridão Primordial (Ancorado no Último dos Infernos)
  8. Condenados ao Esquecimento
  9. Eterno vazio

FLAGELADÖR

Foto: Gustavo Diakov
Foto: Gustavo Diakov

Com três full lengths na carreira (além de um álbum ao vivo), a FLAGELADÖR aceitou o chamado às pressas para substituir a banda britânica que estava desfalcando o festival. E, para alguns presentes, foi uma substituição à altura. O som rápido, com letras em português e solos de guitarra muito bem elaborados de Armando Exekutor (guitarra, vocal e capuz), Hugo Golon (bateria) e Alan Magno (baixo) entregaram um show competente e, inclusive homenagearam todos que “organizam zines, fazem shows” na canção “Missão Metal”. Exekutor também fez questão de agradecer ao público por lotar a casa em plena quinta-feira. Um show de altíssimo nível, com solos, intros e bases cheias de melodia, baixo e bateria conduzindo todos a um mosh frenético. Aos fãs do tradicional quinteto da Inglaterra, resta torcer que eles voltem ao Brasil algum dia (mas que verifiquem todos os seus passaportes com uma boa antecedência)

Setlist

  1. Nas minhas veias
  2. Perseguir e exterminar
  3. Ao vivo no inferno
  4. Missao metal
  5. Queimando nas chamas
  6. Maxima voltagem
  7. Obcecado por sangue
  8. Assalto da Motosserra

OMEN

Foto: Gustavo Diakov
Foto: Gustavo Diakov

A próxima atração no palco foi a banda de Heavy Metal Tradicional (ou, Epic Metal, como queiram) OMEN, dos Estados Unidos. Formada atualmente pelo grego Nikos Antonogiannakis (de Heraclião, Ilha de Creta) nos vocais, Roger Sisson no baixo, Reece Stanley na bateria e Kenny Powell (único membro fundador) na guitarra. O show privilegiou canções principalmente dos dois primeiros álbuns, “Battle Cry” e “Warning of Danger”, ou seja, só clássicos, mas passando brevemente (muito brevemente) por algum material mais novo.

Logo na primeira canção, a arrebatadora “Termination” (que curioso começar o show com uma música com esse título), o veteramo Kenny Powell ja tenta se aproximar da galera. Possívelmente, se na ocasião fosse mais fácil descer do palco, ele teria certamente feito isso. Apesar do empenho dos colegas “mais novos”, Powell é, indiscutivelmente, a alma da banda. Os outros membros da formação mais clássica, Jody Henry e Steve Wittig, se afastaram há pouco tempo, mas o vocalista J.D. Kimball faleceu em 2003. E Powell arrasa, como no clássico “The Axeman”. Quem não se curvaria para ele.

Nikos Migus (Migus é uma forma mais amigável de falar seu sobrenome) tenta levantar o público (Teeth of what? Teeth of what?) antes de “Teeth of Hydra”, mas o público apesar de demonstrar que estava curtindo e respeitando a banda no palco, não respondeu muito, mostrando nitidamente que a praia era outra. Opa, praia? Nada disso. Cabe notar também que Reece tocava na bateria pequena. A grande, atrás do palco, estava reservada para Martelo do Inferno

Em “Last Rites”, a “Hallowed Be Thy Name” do OMEN, um pequeno grupo ainda acompanhava com as mãos para o ar. E antes de “Evil Seductress”, Migus falou do Brasil (“país de demônios, nós gostamos de alguns demônios”). O destaque, no entanto, continua com Powell, que mal termina um solo e já começa outro. Impressionante como Powell não para de tocar nem enquanto Mingus está falando com o público. Cabelo ele não tem (Ronaldo em 1998 tinha uma cabeleira mais decente), mas como toca esse velhote. O som é NWOBHM sem ser britânico.

Foi um show arrasador, de fazer ficar fã, mas penso como teriam empolgado mais o público se estivessem em um line up diferente. Não digo que foram inadequados, mas, certamente estariam melhor posicionados entre bandas de estilo mais próximo.

Powell terminou o show como queria desde o começo. No meio da galera.

Setlist

  1. Termination
  2. Dragon’s Breath
  3. Ruby Eyes (of the Serpent)
  4. The Axeman
  5. Teeth of the Hydra
  6. Last Rites
  7. Evil Seductress
  8. The Curse
  9. Warning of Danger
  10. In the Arena
  11. Die by the Blade
  12. Guitar Solo
  13. Battle Cry

MAYHEM

Foto: Gustavo Diakov
Foto: Gustavo Diakov

Reconheçamos a verdade. Embora o público tenha ficado feliz com as bandas que tocaram até este momento, o número de camisas vermelhas e até de fãs com corpse paint denunciava. Era Mayhem que o povo queria. Então, foi MAYHEM que o povo teve.

A polêmica banda hoje formada pelo baixista Necrobutcher, pelo exímio senhor das baquetas Hellhammer, pelo performático vocalista Attila Csihar e pelos guitarristas Teloch e Ghul subiram ao palco já perto das 23h. As luzes azuis do palco logo se tornam vermelhas. Mal dá pra ver Hellhammer por trás daquela iluminação tão característica do gelado Black Metal. Interessante notar que, apesar de bastante comum em bandas do estilo, Ghul e Necrobutcher optam por se apresentar sem corpse paint. Já Attila, principal responsável pela teatralidade da apresentação, aparece com capuz e uma cruz, sempre pra baixo, de ossos.

A primeira parte do show trouxe canções do álbum mais recente, “Daemon”, lançado pela Century Media em outubro de 2019, mais algumas do “Chimera” e do “Grand Declaration of War”, alternando também momentos mais arrastados com canções mais velozes. “Voices Ab Alta”, do recente EP “Atavistic Black Disorder/Kommando” fechou a primeira parte do show.

Foto: Gustavo Diakov
Foto: Gustavo Diakov

Para o segundo ato, todos voltam encapuzados. O público vai completamente ao delírio com a lua congelante. E canta junto. E até forma roda, que fica cada vez mais violenta. A luz, propositalmente incômoda, produz um efeito de cegueira branca (como a criada por Saramago). Em transe, o público canta “Life Eternal”. Em transe. Em transe.

So ao fim do segundo ato, com as canções mais emblemáticas do “De Mysteriis Dom Sathanas” o backbanner com o nome da banda e exibido. Agora todos estão sem capuz, até mesmo Attila. E, embaixo, está o público enlouquecido com o Deathcrush. Attila não está sozinho, traz uma caveira consigo. E ora faz movimentos de cópula com os ossos, ora age como ventríloquo, dando a entender que é a caveira que canta através dele.

Necrobutcher, por sua vez, até parece mais baixo diante dos colegas, mas o som de seu baixo o agiganta. Aqui não cabe dizer que o músico é a alma do MAYHEM, até porque o MAYHEM não tem alma. Mas a entidade MAYHEM também carrega a aura dos passados Dead e Euronymous.

Foto: Gustavo Diakov
Foto: Gustavo Diakov

Setlist

 

  1. Falsified and Hated
  2. To Daimonion
  3. Malum
  4. Bad Blood
  5. My Death
  6. Symbols of Bloodswords
  7. Voces Ab Alta

 

  1. Freezing Moon
  2. Pagan Fears
  3. Life Eternal
  4. Buried by Time and Dust

 

  1. Silvester Anfang @Tape
  2. Deathcrush
  3. Chainsaw Gutsfuck
  4. Carnage
  5. Pure Fucking Armageddon

Agradecimentos:

Open The Road e LP Metal Press, pela atenção e credenciamento.

Gustavo Diakov, pelas imagens que ilustram esta matéria,