Belo Horizonte voltou a respirar a densa introspecção na noite em que o Groza subiu ao palco. Em um cenário carregado de expectativa e de um público que reconhece quando o Black Metal é entregue com verdade e intensidade, a banda alemã transformou a capital mineira em um templo de catarse.

Antes de tudo, é necessário lamentar a ausência da Outlaw, que infelizmente não pôde se apresentar devido ao cancelamento da vinda do baterista, que enfrenta problemas de saúde. Deixo aqui meus votos sinceros de melhoras e confesso que fiquei extremamente chateada uma vez que espero vê-los ao vivo desde 2018.

A apresentação da Outlaw era muito aguardada, e sua ausência deixou um espaço emocional no evento, embora compreensível e plenamente justificável diante da situação.

Quando o Groza tomou o palco a atmosfera se condensou imersa no escuro com nuances de tons azuis. A banda entrega um Black Metal existencialista profundo que toca intensamente a alma. Não é um som que apenas atinge os ouvidos mas se instala no mais profundo da alma. Cada faixa parece expor uma ferida, uma busca, um confronto íntimo com o próprio vazio.

A alternância entre a beleza etérea das guitarras limpas e a agressividade feroz dos riffs rápidos cria uma dinâmica de contraste que dá ao Groza sua assinatura emocional. É como observar o caos e a quietude coexistindo, cada um puxando o outro para dentro, sem jamais romper o equilíbrio. A banda constrói essa tensão com uma habilidade impressionante, evocando sensações que vão muito além do mero impacto sonoro.

A alegria dos músicos em tocar em Belo Horizonte era impressionante. A todo momento agradeciam ao público por fazerem daquela noite inesquecível. Os nórdicos, com fama de frios, demonstraram que são pessoas demasiadamente humanas, com um calor absurdo e entrosamento único com o público. Foi lindo ver e sentir aquela troca maravilhosa de energia entre eles e nós.

Ao final, ficou a certeza: o Groza não apenas passou por Belo Horizonte mas nos marcou. Atravessou a noite com uma apresentação que continua ecoando muito depois do último acorde, permanecendo ali, no fundo da alma, onde o Black Metal verdadeiro finca as raízes.

Apesar dos problemas de sonorização e um desfalque de equipamentos devido ao extravio da companhia aérea na vinda para o Brasil, os músicos mostraram sua técnica e profissionalismo impressionantes, num espetáculo sem erros. Uma sonoridade que marca profundamente, com variações incríveis até de se acreditar e uma presença de palco absurda: essa foi a noite com o Groza.

TEXTO POR GERMANIA OPUS MORTIS e FOTOS POR CLÁUDIO NASCIMENTO.