“Nem só de Iron Maiden vive o homem, mas também de todo o universo que envolve a banda” – O Fã.
Adrian Smith, o guitarrista pródigo da Donzela, completa hoje, em 27 de fevereiro (nascido em 1957), 68 anos. Uma vida dedicada à música, boa parte dela ao Maiden, mas Adrian vai muito além disso. Ele passeia pelo blues, pitadas de country, o new wave salpicou suas músicas solo oitentistas também. Smith sempre olhou para frente, sempre quis trazer elementos universais e atuais para o seu trabalho.
Com a passagem da Future Past Tour pelo Brasil, os fãs tiveram a chance de (re) ver como Adrian foi importante para a construção daquele som complexo e “pop” para a época. Sem dúvidas, ele foi o guitarrista que mais trabalhou em Somewhere in Time e, consequentemente, na tour. Ouvi muitos comentários do tipo “essa tour é do Adrian, tem a cara dele”. E eu concordo!
E o que vamos fazer aqui hoje, não é comentar o que ele fez no Iron Maiden, porque vocês estão carecas de saber, mas vamos falar do antes e depois da Donzela. Os projetos e os passeios na música de Adrian Smith.
OS PRIMÓRDIOS NO URCHIN
Sua vida musical começa em 1977, com Urchin. Aliás, Smith declinou do convite que seu amigo Dave Murray fez, para que ele também entrasse no Iron Maiden, por acreditar que o Urchin (que já estava em estúdio e fazendo shows em todo circuito de pubs de Londres) chegaria a algum lugar relevante. Mal sabia Adrian que a banda apenas seria conhecida por conta de sua passagem pela Donzela.
E para matar a saudade do Maiden Chest, blood brother, vamos de “CURIOSIDADE”: esse single, She’s a Roller, foi regravado com guitarras de Dave Murray durante os seis meses em que ficou afastado do Maiden, deixando apenas o solo com Smith.
ASAP – O SEM GRACINHA
ASAP, ou Adrian Smith And Project, foi lançado em 1989 com alguns trabalhos que ele teria oferecido ao Maiden, mas acabaram não sendo aceitos. Morno, pasteurizado e, pra quem esperou um hard rock estilo Reach Out, se decepcionou bastante. Silver & Gold foi tão pouco relevante, que fator mais importante de seu lançamento foi Zack Starkey ter tocado bateria. E por que isso é marcante? Este rapaz é “somente” o filho de Ringo Starr.
THE UNTOUCHABLES – A IDEIA INTOCÁVEL QUE SE REPRODUZIU EM SMITH/KOTZEN
The Untouchables aparece em 1991 com uma proposta bem bacana. Sua primeira formação conta com Fabio Del Río na bateria (conhecemos ele do Tattooed Millionaire de um certo baixinho, que vira e mexe, aparece por aqui e causa um baita alvoroço – Bruce Dickinson) e Neil Murray (baixista do Whitesnake entre 1978 e 1984). Voltando às raízes nessa banda, Adrian Smith era o vocalista e não apenas o guitarrista principal. Lançaram um disco e alguns singles. Sua última tour em 1993, contou com Wasted Years, Hooks in You e Back In the Village, além de músicas autorais da banda.

Em entrevista ao Zine Strange Death, na época, Adrian Smith disse: “eu estava na frente, mas tinha outro guitarrista, baixo e bateria… Era tipo, tipo ZZ Top encontrando com Bryan Adams, sabe? Músicas com um pouco de coragem, sabe?”. Para mim, sem dúvidas, o melhor trabalho solo do músico.
PSYCHO MOTEL – MODERNIZANDO O HARD COM GRUNGE
Lembra que eu falei que Adrian era quem trazia a moda e modernidade ao Iron Maiden? Então, essa banda traz resquícios da última formação do Untouchables, com o norueguês Soli no vocal, e fez um hard rock simples e “clássico” misturado com o rasgado do grunge. Não chegou a alçar grandes vôos, mas durou até o retorno do Adrian ao Maiden. Aliás, essa banda ficou ativa durante a passagem dele pelos meninos de Bruce Dickinson. Esse projeto era algo sem muitas pretensões, já que o próprio Smith não queria muito compromisso. Apenas tocar com os amigos, fazendo boa música, mas nada com muito prazo ou muita responsabilidade.
Para o Zine Strange Death, durante o lançamento de Welcome to the World, Adrian citou: “nós nos tornamos amigos e decidimos formar uma pequena banda chamada The Untouchables, só por diversão. Ele não queria voltar para o mundo da música em tempo integral, e eu também não – para ser honesto, eu já estava farto disso. Começamos tocando em pequenos clubes por diversão e foi crescendo a partir daí. Tocamos em todos os lugares da Grã-Bretanha. Mas a única coisa que eu não queria fazer era me ver comprometido com gravações e turnês, como antigamente”.

Ainda durante o período de atividade do Psycho Motel, Adrian Smith dividiu as guitarras com Kai Hansen em The Calling, faixa do álbum Instant Clarity, do alemão mais gente boa que existe, Michael Kiske, de 1996.
Eu sei que vocês estão esperando eu falar da passagem incrível que o nosso homenageado tem pela maior banda de todos os tempos, mas sosseguem!
O RETORNO DA PARCERIA QUE DEU CERTO
No finalzinho de 1996, parte da notícia mais esperada pelos “Maiden Maníacos” é publicada: “Adrian Smith e Bruce Dickinson retomam a parceria de anos” e logo descobriríamos Accident of Birth, em junho seguinte.
Em novembro de 1997, Bruce Dickinson e Adrian Smith, junto com Roy Z na guitarra, Eddie Casillas no baixo e David Ingraham na bateria aterrissaram no Brasil para o Skol Rock, tocando com nomes como Dio e Scorpions.
Essa parceria durou até o final da tour de Chemical Wedding, em 1999, quando Bruce e Smith retornaram ao Maiden.
PRIMAL ROCK REBELLION – O MODERNO QUE NÃO ROLOU…
Um salto na história, porque com a volta do pescador para a Donzela, ele perde um pouco o tempo hábil para projetos extra. Uma pena a exceção de 2011, com o lançamento de Awoken Broken, do Primal Rock Rebellion, parceria com o vocalista Mikee Goodman, do Sikth. Não gosto de criticar, porque não vou fazer melhor, nem minimamente pior, mas esse disco é ruim com força!

Um álbum sem graça, cheio de clichês da época, sem personalidade e maçante. Aquela guitarrinha dropada com o mesmo som em todas as faixas. Enfim, vocês já perceberam que eu gosto um pouquinho dele, né?
Óbvio que eu acho interessante vocês conhecerem um pouco de tudo, até porque, o que não agrada a mim, pode agradar ao próximo. No fim das contas, é tudo uma questão de gosto, mesmo.
SMITH/KOTZEN – OS INTOCÁVEIS RENASCERAM

Smith/Kotzen é o projeto “out Maiden” atual e muito bem aceito pelo público. Começou como um passatempo durante a pandemia e resultou em 2 discos lançados e 5 singles, todos voltados para um estilo hard & blues, com muito slide, uma pitada de R&B… o resultado é gostoso, um som para pegar a estrada. Mesmo o fã ignorando que Adrian Smith esteja, nitidamente, emulando Stevie Ray Vaughan (inclusive no estilo de se vestir). Já fizeram pequenas tours durante as férias do Iron Maiden, com os brasileiros Bruno Valverde, na bateria, e Julia Lage no baixo.
No álbum de estreia, de março de 2021, a música Solar Fire tem a bateria feita por Nicko McBrain. Na semana passada, em 20 de fevereiro, o duo lançou o single Black Light, com a música título e White Noise.
Black Light é dançante, e o vocal de Adrian Smith lembra muito a forma de cantar de Phil Lynott, do Thin Lizzy. O que é normal, já que Smith nunca negou ser um grande fã da banda. Já White Noise é mais cadenciada e mais pesada também. As duas com uma fórmula parecida: Adrian começa cantando, com sua voz mais presa e Kotzen entra na ponte com maior potência e subindo o tom.
OS INCRÍVEIS MENINOS DE HACKNEY – THE MARSHALL TANKERS
Agora lembram que eu disse que Adrian era fã de Thin Lizzy? Então, agora uma historinha bacana. Lá no finzinho de 1985, durante as férias da exaustiva World Slavery Tour, houve o show da banda The Marshall Tankers. Mas o que é isso? Simplesmente a “Jam de Descanso” de Adrian Smith. Por isso que eu sempre digo: “o que um músico faz quando tira férias? Ele vai tocar!”.
Essa banda, The Marshall Tankers, era formada por Adrian Smith (guitarras e vocal); Andy Barnett (vocal), que tocou com no Urchin e no FM (lembram desse grupo? That Girl…); Dave Colwell (guitarras), também do FM; Martin Connolly (baixo), do Marshall Fury; Nicko McBrain (bateria). No bis, Bruce Dickinson, Steve Harris e Dave Murray assumem seus postos.
Voltando ao começo: perguntei se vocês se lembravam de eu ter mencionado que Adrian era fã de Thin Lizzy, certo? Nesse show ele cantou Rosalie, clássico da banda, imortalizado no álbum Fighting, de 1975.
Aliás, só pra informação, Massacre, lançada pelo Maiden no lado B do single Can I Play With Madness, também é do Thin Lizzy, e veio ao mundo originalmente em Johnny the Fox, em 1976.
Novamente matando a saudade do Maiden Chest, CURIOSIDADE: o nome desse show do Marshall Tankers é Entire Population of Hackney e é um bootleg incrível. Outro fato marcante é o solo de Murray e Smith. Vocês já devem ter visto a dupla dinâmica tocando Walking on Glass, que por sua vez, é idêntica a Walking in the Air, do Nightwish.
Walking On Glass ficou famosa durante a Somewhere on Tour e alguns fãs até sonharam com sua reprodução durante a Future Past Tour, o que não aconteceu. E ela realmente é parecida com Walking in the Air, mas não por qualquer tipo de plágio do Nightwish, na verdade essa música é de um filme de natal de 1983, chamado The Snowman. A música tocava enquanto o bonequinho de neve voava pelo céu escuro. Esse filme foi muito famoso na Finlândia, e Tuomas Holopainen a trouxe de volta por uma memória da infância. Já Dave e Adrian ficaram com essa música na cabeça, pois durante toda a época de compras de natal de 1985, as lojas estavam reproduzindo uma propaganda onde a trilha era essa mesma música.
Sei que muitos de vocês, com certeza esperam eu falar alguma coisa sobre Smith no Iron Maiden, mas pensando bem, desde que ele entrou em 1981, suas contribuições são incontáveis e incríveis. Então acredito que o mais coerente seja deixar vocês escolherem seus pontos favoritos.
Acredito que o auge de sua contribuição esteja em Somewhere in Time, de 1986: criativo, harmônico, técnico… Mas o que você acha?
Nestes 68 anos desse ícone chamado Adrian Frederick Smith, vamos celebrar seu aniversário e o fato de sermos privilegiados por termos a possibilidade de assistir ao show deste senhor ao vivo e muito bem!
Texto e fotos do dia 2 da Future Past Tour por Amanda Basso





















