Uma noite épica com Alice Cooper, Judas Priest e Scorpions na Heinz von Heiden Arena

Alice Cooper em Hannover

No último sábado, 5 de julho, Hannover virou a capital mundial do rock — e não estou exagerando. A Heinz von Heiden Arena, casa do Hannover 96, ficou absolutamente lotada para receber três gigantes: Alice Cooper, Judas Priest e os anfitriões da noite, os lendários Scorpions, celebrando seus impressionantes 60 anos de estrada, em sua própria casa. Um evento histórico com cara de despedida emocionada, mas com energia de estreia. E tudo isso aconteceu no mesmo dia em que Ozzy Osbourne fazia sua despedida definitiva dos palcos com o Black Sabbath, lá em Londres. Ou seja: uma noite que marcou a história do rock mundial.

Desde cedo, a cidade estava diferente. Fãs com camisetas vintage, coturnos, glitter e até crianças de jaqueta jeans circulavam como se estivessem indo para um ritual coletivo. E, bem… estavam mesmo.

Alice Cooper – O mestre do teatro macabro

Abrindo os trabalhos no fim da tarde, Alice Cooper subiu ao palco com toda a teatralidade que se espera dele. E olha, não parecia um senhor de 76 anos — parecia um personagem saído diretamente de um filme B de terror dirigido por Tim Burton.

O set trouxe clássicos como “No More Mr. Nice Guy“, “I’m Eighteen“, “Under My Wheels“, “Billion Dollar Babies” e, claro, “School’s Out“, fechando em apoteose com direito a bolhas de sabão, balões, confete, e a participação afiadíssima da guitarrista Nita Strauss, que esbanjou carisma e solos rascantes, principalmente em “Poison” e “Feed My Frankenstein“. Era impossível tirar os olhos do palco: bonecas gigantes, guilhotinas e um Alice teatral como sempre — sarcástico, encantador e perfeitamente bizarro. E o público? Hipnotizado.

Rob Halford em seu habitat natural.

 Judas Priest – Metal com M maiúsculo

Se Alice Cooper incendiou o palco, o Judas Priest chegou com um lança-chamas sônico. Rob Halford surgiu todo de couro e óculos escuros, parecendo um general do apocalipse — e não decepcionou. Com a turnê “Invincible Shield”, os britânicos entregaram uma apresentação pesada, sólida e emocionante.

Abriram com “Panic Attack”, faixa nova que já soa como clássico. Emendaram com “You’ve Got Another Thing Comin’”, “Lightning Strike”, “The Sentinel” e o hino “Turbo Lover”. E aí veio aquele momento que me pegou no coração: “A Touch of Evil”. Assim que começaram os primeiros acordes, me arrepiei inteira. É a minha música favorita da banda, e ouvi-la ao vivo foi surreal — aquela intro hipnótica, os vocais sombrios de Halford e a intensidade crescente me deixaram com os olhos marejados. Foi um dos momentos mais emocionantes da noite, impossível não se deixar levar.

O set seguiu com uma sequência destruidora: “Painkiller” veio como um cometa, seguida de “Breaking the Law” e o encerramento perfeito com “Living After Midnight”. Halford ainda solta gritos que desafiariam qualquer vocalista na casa dos 30, e a banda, como sempre, afiadíssima!

O público respondeu com coros, air guitar e muita, muita vibração. Um show direto, pesado e inesquecível — com espaço até para lágrimas sinceras de quem viveu um sonho. (Eu nunca tinha ouvido A Touch of Evil in loco).

Scorpions – Um verdadeiro “Coming Home”

E aí vieram eles: os donos da casa. Quando os Scorpions entraram ao som da poderosa “Coming Home”, foi impossível não se arrepiar. Não só por ser o nome do show, mas porque ficou claro: eles estavam, de fato, em casa. Hannover pulsava com cada riff.

O setlist foi um presente cuidadosamente empacotado para os fãs de todas as gerações:

Klaus Meine agitando seus súditos

E como se tudo isso não fosse suficiente, a cereja do bolo foi o espetáculo de luz sincronizada: o público recebeu pulseiras de LED que se acendiam com as músicas. O efeito visual foi estonteante — durante “Wind of Change”, por exemplo, o estádio virou um céu de estrelas pulsantes. Em “Big City Nights”, o lugar parecia estar flutuando, sinceramente, em muitos momentos você via pessoas hipnotizadas de costas para o palco filmando as luzes em volta de todo o estádio, eu nunca vou esquecer!

Klaus Meine, com aquele carisma calmo e voz intacta ( é até difícil de acreditar que o tempo passou para ele) , se emocionou ao falar da importância daquele momento. Era como se ele estivesse se despedindo da cidade — ou melhor, se abraçando com ela. Matthias Jabs estava em seu auge, e Mikkey Dee mostrou que é uma locomotiva de bateria e fez um solo de cair o queixo.

No final das contas…

Foi mais do que um show. Foi uma celebração de gerações, de hinos eternos, de amor pelo rock e da certeza de que, em 2025, ainda é possível sentir aquele arrepio coletivo que só a música ao vivo proporciona. Ver famílias inteiras cantando “Still Loving You” com os braços erguidos, ou senhores de jaqueta de couro chorando ao som de “Wind of Change”, foi testemunhar o poder transformador da música — e o quanto ela nos conecta.

Saí da Heinz von Heiden Arena com os ouvidos zunindo, o coração leve e a alma vibrando em dó maior com distorção. Hannover viveu uma noite inesquecível, e quem esteve lá vai guardar esse 5 de julho como um capítulo gravado para sempre na história do rock — e na sua própria também.

Porque no fim, quando os últimos acordes ecoaram e as luzes se apagaram, ficou claro: o rock não está morrendo. Ele está mais vivo do que nunca.

TEXTO E FOTOS POR CINDY SEIDEL – TEAM EUROPA

Scorpions, os donos dessa festa.