Na Quinta-Feira passada, o Heaven´s Guardian se apresentou no Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, com a Chronos Tour e nosso colaborador Rubem Barreto esteve presente no evento, no qual ele fotografou e nos conta o que ele viu dessa turnê extremamente ousada da banda Goiana, a foto de capa dessa cobertura foi feita por Jennifer Kelly.
Desde sua criação em 1997, a banda brasileira de heavy metal Heaven’s Guardian vem emocionando o público por onde passa. Já são quase 30 anos de estrada, 5 álbuns e 2 DVDs, o que apenas ratifica a sólida carreira daquela que é uma das bandas mais importantes do estilo no país. Em 2023, foi lançado o quarto álbum de estúdio, o épico Chronos, que marca o retorno do vocalista e fundador Carlos Zema à banda, e também a entrada do baterista Francis Cassol (Scelerata e Rage in my Eyes) e da vocalista lírica russa Natalia Sarsgård que, junto aos Ericsson Marin e Luiz Maurício (guitarras), Everton Marin (teclados) e Murilo Ramos (baixo), criaram essa que, em minha opinião, é a obra prima da banda. Já na lindíssima capa do disco criada por Carlos Fides, que retrata ciclos de cronologia da humanidade, da antiguidade aos dias de hoje, já conseguimos perceber a sensibilidade e sutileza que toda a obra passa; com a produção assinada pelos renomados Roy Z e Addasi Addasi, Chronos soa grandioso; nesse álbum a banda ainda pode contar com a participação da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás e do Coro Sinfônico Jovem de Goiás. Não é a toa que o álbum foi aclamado pela crítica especializada.
O que esperar da turnê de um álbum tão imponente? Para a Chronos Tour, a Heaven´s Guardian preparou concertos a altura. O que vimos na noite de quinta-feira (27/06/24) no Rio de Janeiro foi algo inédito no país; A banda tocou o álbum quase na íntegra (faltou apenas The Fall of The Empire), se apresentando ao lado da Orquestra Sinfônica Jovem e do Coro Sinfônico Jovem de Goiás, e ainda contou com algumas participações mais que especiais. Felizmente para todos os presentes, o batera Francis que não pode participar da turnê, foi substituído por Daniel Moscardini impecável nas baquetas. Com um setlist matador, e dezenas de músicos no palco, a banda não decepcionou seus fãs, entregando um show ao mesmo tempo agressivo e melódico, no padrão das melhores apresentações de metal sinfônico do planeta.
Como não ficar boquiaberto com a grandiosamente de uma orquestra, coro e banda de metal juntos? Toda a ambiência já apareceu na excelente introdução Tempus, que trouxe à tona os elementos que nos esperiam no restante do show. Dali, em diante o que pudemos presenciar foi uma grande e histórica apresentação de heavy metal. Ora, passando pelo metal sinfônico, ora pelo power metal, a banda transitou com maestria por diferentes vertentes entregando ao espectador tudo aquilo que ele esperava e muito mais. Já na segunda música, Sirens of the Past, Zema apresentou toda a sua versatilidade vocal. General of Peace e Drowning Land seguiram na mesma pegada pesada com melodias marcantes. Destaco ainda os sopros e coro que me chamaram a atenção, e os refrões fortes onde o contraste dos vocais com drive e os líricos altos não deixavam a platéia piscar. Músicas como The Color of Injustice, Wall of Shame, Master of Streets não podiam faltar, deixando o setlist ainda mais arrebatador.
Os convidados deram um show à parte. Guilherme Siervi arrebentou no clássico da banda Screams of 1964, reiterando toda a sua potência vocal no hino Vicking Valhalla Call, contrastando com os riffs matadores das guitarras. Destaco a linda Tristan and Isolde com suas nuances folk, épicos backing vocals, maravilhosa orquestração, como um dos pontos altos do show. Os contrastes entre as vozes de Zema e Sarsgård são o ponto mais alto da canção sem dúvida, que ainda contou com a participação especial da cantora Vanessa Lockhart, colocando mais uma vez em evidência a famosa história de amor entre o cavaleiro e sua princesa. Lockhart, ainda retornou para cantar na música Strenght.
Ao melhor estilo Rhapsody of Fire, foi a vez da Mari Torres se juntar os cantores da banda e interpretar a linda Sail Away, canção com refrão chiclete que não sai da cabeça do espectador. Na balada Home of Time, Gui DeLucchi foi convidado a interpretar o solo, e não desapontou. Dono de grande técnica, Delluchi mostrou um grande domínio do seu instrumento, abrilhantando ainda mais o espetáculo. Já Odete Salgado emprestou seus melismas a Fighters, outra canção antiga da banda, ao lado de Zema e Sarsgård, sendo o trio muito aplaudido. O último convidado a se apresentar foi ninguém menos que o gigante Gus Monsanto. Com seu timbre inconfundível, e bastante à vontade, Gus quebrou tudo em Artificial Times.
Caminhando para a parte final do espetáculo, a dupla de cantores emocionou a platéia interpretando The Phantom of the Opera. Toda a atmosfera, ambiência da orquestra e do coro, dois cantores absurdamente talentosos. Não havia como não se emocionar. O último ato foi talvez o maior clássico da banda: Neverland do primeiro EP de 1999. Mesmo após 25 anos, a canção segue atual, guitarras pesadas, bateria moendo, linhas vocais altas, tudo que um headbanger precisa para bater cabeça. Heaven´s Guardian fez uma apresentação irretocável, recheada de momentos épicos, maravilhosos e inesquecíveis. Com toda a certeza um dos melhores shows de 2024.