Nascido em 02 de março de 1962, John Francis Bongiovi Jr. sempre sonhou em ser um rockstar.
Antes de americanizar seu sobrenome e cantar em uma das maiores bandas da história, Jon tocou com Atlantic City Expressway, Raze e The Wild Ones, que na maior parte do repertório, reproduziram covers de artistas como Bruce Springsteen (conterrâneo de New Jersey e sempre foi uma de suas maiores referências). Desse período, são poucos os registros encontrados. Aliás, Jon cruza seu caminho com David Bryan, tecladista que o acompanha até hoje, durante essa época, mais precisamente no Atlantic City Expressway.
Bon Jovi – Início Promissor, Marasmo Inesperado

Em 1983, chegam à banda, o guitarrista Ritchie Sambora, o baterista Tico Torres e o baixista Alec John Such, e assim nascia Bon Jovi, carregando o sobrenome do vocalista, que chamava a atenção tanto pela voz rouca e potente quanto pela sua beleza.
Rapidamente a banda passou a se destacar no circuito de New Jersey e durante um show que a banda fez abrindo para o Scandall, Derek Shulman, executivo da PolyGram os viu e os contratou para o selo. Nesse mesmo período Bon Jovi passa a abrir shows para medalhões do calibre de ZZ Top e Kiss.
Quando o primeiro álbum, Bon Jovi (1984) foi lançado, outra faceta do jovem descendente de italianos foi relevada: a composição. Das 9 musicas presentes no debut, 8 tem a participação de Jon na composição, sendo 4 delas com seu “partner in crime” Richie Sambora. Nascia ali uma das maiores duplas da história do rock n’ roll.
Sobre o álbum, é o lar de Runaway, primeiro super hit da banda, que hoje em dia é praticamente a única música lembrada.
O álbum seguinte, 7800° Fahrenheit (1985), teve um desempenho inferior ao primeiro, o que impediu o grande salto projetado pela banda. É um álbum com sonoridade mais próxima ao anterior que álbuns que os consagraram, porém sem uma “Runaway”. E o disco (com um nome “impossível” de ser pronunciado em voz alta sem passar o mínimo de vergonha) ficou pelo meio do caminho, mas isso não abalou Jon, que continuava firme no seu intuito de ser um rockstar, porém, a banda percebeu que ainda teria que ter um pouquinho mais de resiliência e fé, além do trabalho duro que já vinha fazendo.
Slippery When Wet – A Oração que Quase Não Deu Certo

Em 1985, a banda “Black n’ Blue” lançou o álbum “Without Love”. Tanto o disco quanto a banda em si nunca chegaram perto de ser relevantes, mas a produção do álbum chamou a atenção de Jon, que passou a querer o canadense Bruce Fairbairn como produtor de seu próximo trabalho. Essa decisão perpetuou anos de glória para a banda, pois Bruce é o responsável pela produção das maiores obras do Bon Jovi.
Outra parceria valiosa que se estendeu por anos foi a de Jon com Desmond Child, hitmaker por trás de músicas como “I Was Made For Lovin’ You” do Kiss, “Poison” do Alice Cooper, “Angel” do Aerosmith, entre outros. Mas foi em Slippery When Wet que Desmond criou o maior hit do seu vasto material, o furacão chamado “Livin on a Prayer”.
A curiosidade aqui é que, pasmem, Jon não gostou do resultado da musica por achar que era muito “rock de arena”. Mal sabia ele que seria só o começo de uma carreira repleta de “arenas”. Em uma entrevista ao site iheart, reproduzida pelo webzine Bon Jovi Brasil Show, Desmond comentou sobre o assunto:
“Nós meio que a escrevemos dessa maneira assustadora, sombria e sensível“, lembra Child. “Jon não achou que seria certo a direção em que eles estavam indo, que era como hard rock, rock de estádio … A música era tão boa que Richie Sambora e eu literalmente ficamos de joelhos e, meio brincando, meio sério, e imploramos para ele gravar.”
Jon resolveu ceder e assim nasceu o maior hit do Bon Jovi. Desmond viria a trabalhar com eles em mais 30 músicas (além dessa), durante os 40 e poucos anos de banda. Para o Slippery, contribuiu ainda com “You Give Love a Bad Name”, outro clássico.
O lançamento do terceiro álbum jogou a banda ao status de banda de hard rock mais relevante da cena. Ao mesmo tempo, Jon começava a enfrentar seus primeiros problemas vocais, tendo de diminuir um pouco o altíssimo tom durante os shows.
New Jersey – Fincando de Vez A Bandeira No Topo

Bon Jovi explodiu, agora o desafio era se manter no topo do mundo. Já com a experiência que viveu nos dois primeiros álbuns, Jon resolveu apostar novamente na fórmula de glam rock de arena e chamou o mesmo time para contribuir com a produção. Continuou também sendo o principal responsável pelas composições em New Jersey (1988), ora com Richie (como na clássica power ballad “I’ll Be There For You”), ora com Desmond (a poderosa “Bad Medicine”).
Blaze of Glory – O Primeiro Vôo Solo
Em 1990, em meio a um hiato do Bon Jovi, Jon resolveu resgatar seu primeiro nome e lançar “Blaze of Glory”, trilha sonora do filme “Young Guns II” (No Brasil chamado de “Jovens Demais Para Morrer”). Um álbum que traz participações de músicos lendários como Elton John e Jeff Beck. O álbum em si é um hard rock misturado com country, com composições que se encaixam com o andamento do filme, que conta a história de Billy The Kid (Jon inclusive faz uma pequena ponta no final do filme, onde aparece, leva um tiro e morre. 0/1 no rank pra quem é da área de games).

O álbum inclusive teve uma análise um pouco mais detalhada no “Além do Óbvio – Bon Jovi”, onde eu comentei sobre músicas subestimadas da banda, e o álbum inteiro entrou no bônus. Músicas como a animada “Billy Get Your Guns”, a épica “Santa Fé” ou a incrível “Miracle” (que o fã de sitcoms dos anos 90 vai notar que Matt Leblanc, o Joey Tribianni de Friends participa) são os grandes destaques. Uma das grandes trilhas sonoras da história, e totalmente subestimada. Se quiser conferir mais sobre o “Além do Óbvio – Bon Jovi” é só clicar AQUI.
O sucesso da faixa título e a boa aceitação do público com o álbum, em geral, fez com que Jon percebesse que sozinho também conseguia compor música boa, e isso começou a mexer um pouco com as coisas na banda.
Keep The Faith – Uma Nova Banda

Quando Keep The Faith foi lançado, o primeiro impacto foi o visual. Os cabelos longos e bagunçados deram lugar a um cabelo bem mais curto e liso, com roupas bem mais sóbrias do que dos tempos áureos. As músicas também adotaram um tom um pouco mais politizado do que se viu antes.
Outro ponto que chamou a atenção a partir de Keep The Faith (1992) foi o número de canções que Jon trabalhou sozinho: ele assina todas as 12 canções presentes, sendo metade delas sozinho. Nunca Jon havia trabalhado tanto sem parceiro em um álbum da banda, mostrando seu talento “solo” em músicas como “Bed of Roses” e “Dry County”.
Após o lançamento do álbum, a banda foi convidada pela MTV para um show batizado de “Keep The Faith – An Evening With Bon Jovi” onde a banda toca alguns de seus sucessos de forma desplugada, e alguns outros de forma elétrica. Destaque para a potente versão de “Blaze of Glory”, que a banda sempre tocou sem maiores problemas mesmo sendo uma música da carreira solo de Jon. Alguns covers como “With a Little Help From My Friends” (Beatles) e “It’s My Life” (The Animals). Contanto, o vídeo mais famoso dessa apresentação é o de “Bed Of Roses”.
Aqui vale uma pequena menção para a coletânea “Cross Road” (1994). O Best Of mais completo do Bon Jovi foi a porta de entrada da banda para muitos novos fãs (inclusive para mim), além de ter duas inéditas arrasa quarteirão: a primeira, “Always” se tornou simplesmente a balada mais famosa da banda, uma Power (com P maiúsculo mesmo) ballad onde os cafajestes ganham um hino para chamar de seu, afinal “I’ve made mistakes, I’m just a man” (eu cometo erros, sou só um cara); a segunda é a animada e deliciosa “Someday I’ll Be Saturday Night” com sua pegada mais tranquila, uma das minhas músicas favoritas da banda. Faz parte de inédito no álbum, a estreia do baixista Hugh McDonald, que substituiu o – hoje saudoso – Alec John Such, falecido em 2022.
These Days – O Último Grande Trabalho?

Em 1995 o grunge já havia enterrado praticamente todas as bandas de hard rock do planeta, e as poucas que sobravam tentavam se encaixar como podiam no cenário. Assim o Bon Jovi chegou em “These Days”, um álbum claramente mais obscuro, com letras muito mais socialmente críticas do que tudo que a banda já havia feito até então. Ainda em 1995, Bon Jovi fez uma das maiores e mais bem sucedidas tours de sua história, passando inclusive pelo Brasil pela segunda vez (a primeira havia sido em 1990).
Destination Anywhere – Como Ator, Um Ótimo Músico

Em 1997, aproveitando mais uma pausa na carreira da banda, Jon resolveu dar um outro passo na arte. Se o primeiro trabalho solo foi trilha sonora de um filme, o segundo álbum foi a inspiração direta para o filme de mesmo nome: Destination Anywhere – The Film. Com a ajuda do diretor Mark Pellington, Jon até conseguiu reunir atores do mais alto escalão como Demi Moore, Whoopi Goldberg e Kevin Bacon. A trama gira em torno de Janie (Demi) e Jon (interpretado por Jon), um casal em crise com traumas pesados do passado que tentam recolocar as suas vidas no lugar após uma reviravolta. É um filme OK, em que Jon mostra que quando você é muito bom em algo, não necessariamente significa que você seja muito bom em tudo. Jon entrega uma atuação engessada e pouco inspirada, que contrasta com a atuação intensa de seu par de cena. Não da para crucificar o cantor por isso, afinal, Demi também não conseguiria cantar “In These Arms” no Wembley lotado. Quanto ao álbum que acompanhou o filme, também pouca inspiração por parte do vocalista, apresentando uma fórmula um pouco mais voltada ao pop do que de costume, destaque para “Janie Don’t Take Your Love to Town”, uma baladinha bonitinha que chegou a fazer algum barulho.
Apesar de ser o primeiro protagonista da carreira de Jon, não foi o primeiro e nem o último trabalho cinematográfico de sua carreira. Após a ponta em “Blaze of Glory”, trabalhou em “O Jogo da Verdade” (1995), e após Destination ainda participou de “Três Sócios Duvidosos” (1998), “A Corrente do Bem” e “U-571 – A Batalha do Atlântico” (2000), “Vampiros: Os Mortos” (2002) “Cry Wolf – O Jogo da Mentira” (2005), “Pucked” (2006) e “Noite de Ano Novo” (2011). É inegável que, se não era digno de um Oscar, as atuações de Jon foram ficando melhores conforme os anos passavam. Vale a pena conferir essa faceta pouco explorada.
Anos 2000 – Longe das Raízes, Mas Ainda Capaz de Abalar o Mundo!

O último ano do milênio chegou, e com ele o Bon Jovi 3.0: ainda mais moderno, com sonoridade que não lembrava em nada os tempos de glam, hard e muito menos o rock mais denso do “These Days”, mas ainda com lenha para chocar o mundo mais uma vez. Se o álbum não é nada de tão bom assim, ele cumpriu com maestria o objetivo de colocar novamente Jon e sua trupe em evidência. “Crush” veio, e com ele, um pedaço da história da música atual. “It’s My Life” reina absoluta entre os 5 maiores hits dos anos 2000 (quem não reconhece a música já no primeiro “wowow” do talk box?). A banda voltou ao foco, fazendo shows em lugares lotados novamente. Apesar dos fãs mais radicais terem largado a banda, uma nova onda ainda maior surgia, e Bon Jovi ia ganhando o mundo novamente. A balada “Thank You For Loving Me” também fez sucesso, mas em um nível razoavelmente mais baixo que “It’s My Life”.
Aumentando a Quantidade, Diminuindo a Qualidade


Como pudemos ver a pouco, Jon passou a ser um artista multifacetado nos anos 2000. Entre 2000 e 2006 foram 5 filmes, 3 álbuns de inéditas e um acústico em 7 anos, o que certamente influenciou na qualidade dos projetos.
Depois de “Crush”, o álbum “Bounce” (2002) fez algum barulho, mas longe de ter um mega hit, apesar de “Misunderstood” ter ido muito bem (inclusive sendo trilha da novela “Mulheres Apaixonadas” aqui no Brasil). A balada açucarada “All About Lovin You” e “Everiday” também fizeram algum sucesso.
“Have a Nice Day” veio em 2005, e também não trouxe muitas novidades. Um som que parecia meio pasteurizado demais, certinho demais. A faixa título mostra que Jon ainda tinha o “molho”, mas era tudo tão parecido que acabou perdendo força rápido demais. Por mais que os shows continuassem cheios, as pessoas queriam mais do Bon Jovi de arena e menos do Bon Jovi moderninho, o que infelizmente não aconteceu.
Perdendo a Força… E o Parceiro
Os anos seguintes não foram muito diferentes do que vinha acontecendo. A banda permanecia relevante no cenário, mas os trabalhos permaneciam abaixo. Lembrando vagamente da história de Ícaro na mitologia grega, talvez se o Bon Jovi não tivesse voado tão próximo ao sol, não se queimaria tanto. Não porque a versão dos anos 2000 era ruim, mas porque a dos anos 80 e 90 eram muito fora da curva.
O “pop rock country” de “Lost Highway”, o rock moderninho de “The Circle” (nota pessoal: que trouxe pro Brasil um espetáculo de 3 horas, um dos melhores shows que vi na minha vida) ainda conseguiram algumas boas músicas em seus tracklists, o que não se podia dizer de “What About Now”, “Burning Bridges”, “This House is Not For Sale” e “2020”, que são um pouco mais abaixo, mas é questão de opinião. O rock está cada vez mais distante da música que o grupo vinha fazendo, e isso tem um claro motivo: em 2013, Richie Sambora, eterno parceiro de Jon, enfrentava problemas familiares e acabou deixando a banda de repente, deixando seu lugar, até então impensável, vago. Para o posto, o carismático e competente Phil X, que participou a partir de “This House”.

Bon Jovi Forever – O Último Capítulo?
O ano de 2024 trouxe dois lançamentos quase que simultâneos para os fãs: o documentário “Thank You, Goodnight: A História de Bon Jovi” mostra a história nua e crua da banda desde os primórdios até os dias atuais, onde Jon enfrenta sérios problemas nas suas cordas vocais, que podem inclusive colocar um ponto final um pouco melancólico na sua brilhante carreira; e o segundo é “Forever”, um álbum cheio de nostalgia com letras saudosistas e que mostram que Jon, acima de tudo, é grato pelo que viveu, e que de certa forma, está em paz se não puder mais fazer o que ama e o que o consagrou.
Notícias recentes mostram que a banda declinou de um convite para ser headliner do festival “The Town” em São Paulo neste ano. Fica aqui a sincera torcida e oração para que Jon, se não voltar a cantar, consiga ter saúde para desfrutar da melhor forma sua aposentadoria.
Superman Tonight – A Maior Composição de Jon é o AMOR

Além de lindo, talentoso, simpático e tudo mais que a gente já sabe, Jon ainda tem a qualidade da humildade. Em 2011 foi inaugurado em Red Bank o JBJ Soul Kitchen, um restaurante comunitário onde você pode ter uma refeição decente, e o preço é – literalmente – “o que puder pagar”. Hoje, o restaurante já possui mais duas unidades, em New Jersey (2016) e Newark (2020). Não é incomum os frequentadores dos restaurantes encontrarem Jon servindo as refeições, lavando pratos e, principalmente exalando amor e carinho para aqueles que precisam.
Mais recentemente, em setembro de 2024, durante a gravação do clipe “The People ‘s House”, presente em “Forever”, Jon avistou uma mulher querendo pular de uma ponte. O cantor se aproximou da moça e conversou com ela. Ao fazer com que ela mudasse de ideia, a abraçou fortemente enquanto ela saía do lugar onde havia decidido dar um ponto final em sua vida.

Isso explicado, fica mais do que justo a brincadeira com o nome da música no começo do parágrafo, né? Isso e a tatuagem do homem de aço que ele tem no braço, é claro.
Jon é um rockstar na contramão. Casou cedo, ficou longe das drogas, não arremessou eletrodomésticos pela janela de hotéis. Jon sempre cantou cedo que “Você vive para a luta quando isso é tudo o que você tem”, que você precisa “Manter a fé”, que “Você tem que se levantar e lutar pelo que você acredita”. Cantou como ninguém, a alegria de estar amando e cantou como ninguém, a tristeza do fim de um relacionamento. Obviamente que Jon não é santo, tem vários defeitos e tomou muitas decisões erradas, mas são nossos erros e acertos que nos tornam quem somos.
Abaixo, vou deixar uma lista com as principais músicas de Jon através desses mais de 40 anos de musica da melhor qualidade. E que venham mais 40!

Vida longa a Jon Bon Jovi!
Texto por: Gabriel Furlaneto
Obs.: Agradecimentos especiais aos dois melhores jornalistas que eu conheço, Amanda Basso e Carlos Augusto Monteiro, pela crucial ajuda nessa matéria.
