“E se a composição original da música não fosse o produto final?”
NOTA: 4/5.
Comecei a acompanhar o trabalho do Kiko Loureiro no Angra. Eu não fazia ideia ou não lembrava que ele havia integrado o grupo Dominó (boyband que fez sucesso no Brasil no final dos anos oitenta), mas isso não importa porque, afinal, ele se tornou um dos maiores expoentes do talento brasileiro na música e, sem dúvida, nos dá orgulho.
Kiko é dono de um talento realmente incrível e de uma discografia invejável considerando todas as suas atuações nos álbuns do Angra, Tribuzy, Megadeth e, claro, na carreira solo. Ao todo, são 5 discos: No Gravity (2005), Universo Inverso (2006), Fullblast (2009), Sounds of Innocence (2012) e Open Source (2020) e mais o Neural Code (2009), que é um álbum do trio formado por Thiago Espírito Santo (baixo e percussão), Cuca Teixeira (bateria) e o próprio Kiko.
Open Source, 5º trabalho solo, é um divisor de águas na carreira do músico porque agora, é reconhecido globalmente como um artista de alta performance. Mas não apenas por isso, por haver atingido a maturidade musical de uma forma muito consciente e por demonstrar clarividência em sua visão pessoal de mundo. Pra se ter uma ideia, o conceito do álbum gira em torno da noção de que o código aberto da tecnologia algorítmica poderia ser incorporado a todos os campos da vida própria.
Como disse ao site Blabbermouth.net: “Por definição, ‘código aberto’ está relacionado a [fisiologia] de softwares cujo código fonte original é disponibilizado gratuitamente e pode ser redistribuído e modificado. Isso nos traz um maior senso de comunidade, aprimora nossa criatividade e cria novas [possibilidades]. Então, por que não levar esse conceito à nossa arte, à nossa música? Quão mais rica uma música poderia ser se outras pessoas tivessem acesso ao seu código-fonte? E se a composição original da música não fosse o produto final? Algo que pode ser constantemente atualizado e evoluir ao longo do tempo. E, além de uma máquina, nós, como seres humanos, também estamos preocupados com aprimoramentos, sendo nós mesmos um código aberto…”. Kiko quis levar esse conceito para a arte da capa do álbum e, para tanto, contou com o trabalho de Gustavo Sazes, que já concebeu artes para bandas como Machine Head, Amaranthe, Arch Enemy.
Em todos os aspectos, Open Source se mostra um produto ousado, complexo e elaborado com amarraduras dinâmicas. Uma crítica simplista poderia no máximo apontar alguns excessos que – a bem da verdade – são a principal característica desse gênero. Mas, como nossa proposta é nos elevar (na medida do possível) ao trabalho do músico, não faremos o trivial que seria algo como tentar descrever músicas ou desvendar a inspiração através da qual, o músico as concebeu. Open Source tem múltiplas linguagens e não parece razoável tentar enquadrá-lo em padrões que mais dizem respeito as nossas crenças e valores do que as do artista que lhes deu vida.
A formação que gravou o disco conta como Kiko Loureiro (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria). Marty Friedman (ex-Megadeth) e Mateus Asato, ambos guitarristas, participaram como convidados especiais.
> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo