Escrito por dois jornalistas pessoalmente interessados nos fatos, a aclamada obra LORDS OF CHAOS finalmente é lançada em português, em sua edição mais recente e atualizada pela editora Estética Torta. 23 anos após seu lançamento, originalmente em pela editora americana Feral House (Lords of Chaos: The Bloody Rise of the Satanic Metal Underground ), a edição nacional chega em formato de luxo, capa dura, em tiragem extremamente limitada. O lançamento oficial será dia 10 de julho, mas já encontra-se em pré-venda pelo site da editora, com 30% de desconto AQUI.
Uma obra essencial não apenas para os fãs de Black Metal, mas para todos que desejam se aprofundar nos aspectos formativos de um gênero musical que influenciou toda uma geração.
O tão aguardado – ou não – livro sobre a banda MAYHEM e a cena black metal finalmente chegou ao Brasil. Com centenas de fotos raras e dezenas de entrevistas com músicos, padres, policiais, fãs e os principais protagonistas dos eventos narrados, LORDS OF CHAOS se tornou um livro aclamado por milhares de fãs em todo o mundo, servindo de inspiração para o filme de mesmo nome, lançado em 2018, bastante elogiado pela crítica especializada, e que pode ser visto no Youtube e outras plataformas, com legenda em português.
Sobre o filme
Dirigido por Jonas Akerlund, um sueco vencedor do Grammy e conhecido por clipes como “Ray of Light”, de Madonna, e “Paparazzi”, de Lady Gaga, o filme trata da cena controversa, que é o black metal norueguês, envolvendo polêmicas e histórias pesadas e trágicas, onde até hoje é difícil de saber o que realmente aconteceu. O próprio filme mostra o seguinte em seu início: “Baseado em fatos reais…ou mentiras”. De forma resumida, é um estilo sombrio, cru e agressivo que incorpora em suas letras temas como satanismo, anticristianismo e paganismo, sendo considerado usualmente o gênero musical mais extremo.
O Black Metal norueguês já foi retratado em vários documentários. “Lords of Chaos” não é um documentário, é um longa baseado no livro de mesmo nome, escrito por Michael Moynihan e Didrik Søderlind para contar sobre a série de crimes ocorridos no país, envolvendo bandas como Mayhem, Burzum e Emperor. Embora o filme tenha um tom adolescente – algo que realmente era, uma cena adolescente com jovens que acreditavam em auto promoção através de atos bárbaros – , é uma boa diversão para quem quer conhecer um pouco sobre as polêmicas macabras que envolvem a banda Mayhem e a cena Black Metal, de forma simples e com boas cenas de terror. |
Já no livro, como de costume, é um pouco diferente. Os primeiros capítulos descrevem a progressão do heavy metal de bandas como Black Sabbath , Coven e Black Widow para proto-black metal bandas como Bathory , Mercyful Fate , Celtic Frost , Sarcófago , Hellhammer e Venom e, finalmente, a banda norueguesa de black metal Mayhem.
Existem diversos pontos de vista e percepções para a história, nesta versão, podemos acreditar que Euronymous era o rapaz bom que só queria sucesso e promover sua banda enquanto Varg acreditava que tudo era uma forma de protesto, era o jovem solitário que queria participar da cena e induziu os jovens a realizarem atos criminosos, visto que tudo virou uma competição de quem fazia atos mais macabros. Tendo em vista que a história foca nos personagens Euronymous, Varg Vikernes e Dead. A relação pessoal entre eles, em principal a relação entre Euronymous e Dead e a vida normal de um adolescente com depressão e suas peculiaridades – envolvendo o lado sentimental, onde Euronymous pensa constantemente na morte do amigo e se sente assombrado por ele. E a amizade que virou disputa e acabou de forma trágica entre Euronymous e Varg – Euronymous nunca foi simpatizante de Varg, eram apenas de parceiros de banda e tudo virou uma disputa onde não sabe os motivos que realmente levou Varg a realizar o assassinato de Euronymous. Ao que se sabe, isso de amizade sentimental é apenas a parte fantasiosa que pôde ser vista no filme, na realidade, Euronymous não era muito amigável, e ao ler o livro, você pode tirar várias conclusões sobre sua personalidade.
Segundo o diretor, eles estiveram em contato com os familiares dos personagens que morreram e são retratados no filme, para tentar garantir um roteiro correto. Diante dessa declaração, imagino que por esse motivo, o filme transmite a ideia de bom moço para Euronymous. Em momentos do filme, ele se mostra arrependido, emotivo pela morte do amigo Dead, apaixonado pela namorada e tentando levar uma vida normal. O filme traz claramente licenças poéticas para dar toques de violência, humor e até romance na trama, pois foi produzido para o grande público. “Eu acho que as pessoas esperavam que eu faça um filme muito obscuro, mas meu foco era nos personagens e no relacionamento entre eles, a parte emocional do que aconteceu, o que sinto que é muito importante”, disse Akerlund, à “Rolling Stone”.
Um fato é que Euronymous era um jovem de família bem sucedida, ele tinha uma casa alugada para ensaios, e seu pai montou a loja de discos e a gravadora. Teve tudo que queria para montar sua banda e por em prática suas estratégias para torna-la famosa. Para quem acompanhou mais a fundo a história da banda , Euronymous não era tão são – ou fez tudo que fez para simples promoção da banda. Até porque, encontrar o corpo de um amigo de banda, que tinha se suicidado, tirar uma foto do cadáver e colocar a imagem grotesca na capa de um bootleg da banda, não é algo que uma pessoa normal faria.
Apesar de tudo, o filme cumpriu sua proposta de mostrar a cena Black Metal e os acontecimentos macabros mais conhecidos. A ideia nunca foi de ser uma retratação fiel de tudo que aconteceu, assim como diversos filmes que contam histórias de bandas, sempre há um mix de fantasia e drama. Muitos fãs fiéis podem ter criticado o filme, assim como fez os músicos envolvidos – Necrobutcher, baixista que estava na cena durante todo este tempo e que segue no Mayhem, não gostou nada do filme, disse que a história está longe da realidade vivida pelos jovens naquela época – mas o trabalho final foi bem recebido pela maioria da crítica e é uma maneira de mostrar um pouco desse estilo musical, fazendo com que o público pesquise mais sobre as bandas envolvidas para ter uma ideia formada. As cenas do filme são muito bem feitas, e as interpretações dos atores também é boa. Apesar das várias críticas feitas por alguns fãs e pelas bandas que fazem parte do cenário black metal que expressaram descontentamento absoluto em postagens nas redes sociais ás vésperas do lançamento, vale muito a pena reservar 2 horas da sua vida para apreciar essa arte.
Mas também vale a pena dedicar um tempo para ler o que o livro conta. Pois diferente do filme, o livro aborda outros casos de assassinos “satânicos”, como o de Sandro Beyer por membros da banda nacional-socialista alemã de black metal Absurd e Caleb Fairley nos EUA. Também dedica várias páginas ao caso de uma milícia adolescente denominada “Lords of Chaos” que realizou assassinato e incêndio criminoso em Fort Myers, Flórida , em abril de 1996. Embora este seja o nome dado ao livro, não encontrei explicações dos autores do motivo dessa escolha. Outros depoimentos que estão no livro são do Anton LaVey , fundador da Church of Satan, Tomas “Samoth” Haugen, Emperor, e Dani Filth, vocalista da banda Cradle of Filth. Os autores apresentam sua própria tese sobre a razão da música extrema, os incêndios e os casos de assassinato.
Na época, o livro recebeu muitas críticas, algumas elogiando por oferecer uma visão informativa e interessante sobre uma subcultura relativamente obscura e marcante para os fãs do estilo, mas também teve críticas negativas sobre a distância em relação ao assunto em questão, algo considerado especialmente alarmante para grupos e figuras que acusaram o autor Moynihan de simpatizar com a extrema direita. A acusação se deve ao fato de que Moynihan trata com naturalidade às ideologias retratadas no livro, uma vez que deixa várias declarações de extrema direita e racistas de entrevistados como Vikernes. Declarações que não foram questionadas. Na época pode ter dado um burburinho, mas hoje dia, todos conhecem as ideologias ridículas do Varg e suas declarações polêmicas. Gosto do estilo Black Metal e sua importância na cena do metal extremo, assim como as outras lançadas pelos músicos, mas infelizmente muitos deles carregam essas ideologias preconceituosas e fascistas.
Por fim, a história real que temos sobre um dos acontecimentos mais polêmicos é contada por um lado só, o do Varg, que deu várias entrevistas que estão espalhadas por várias seções do livro, sobre o ocorrido e foi condenado a 21 anos de prisão (pena máxima na Noruega), pelo assassinato de Euronymous e também por acusações de queima de igrejas. Na prisão, dedicou alguns anos ao Burzum, lançando dois álbuns somente com sons ambiente, o “Dauði Baldrs” e o “Hliðskjálf”. Varg deixou a cadeia após cumprir pena por quase 16 anos. Foi libertado em regime de liberdade condicional em maio de 2009 e voltou a ser preso junto com sua esposa em 2013, na França, acusado de planejar um massacre. Foi libertado mas ambos ainda estão sob investigação. Atualmente Varg tem um canal no youtube onde continua com declarações polêmicas e fez diversas críticas ao filme “Lords of Chaos” na época do lançamento. Mas ele também fez várias críticas quando o livro foi lançado em 1998, afirmando que os autores não tinham “conhecimento ou até um bom conhecimento sobre os assuntos discutidos e não entendem nem um pouco o que era o Black Metal em 1991 e 1992” e que “conseguiram preencher uma geração de fãs de metal com mentiras”.
A Loja que pertenceu ao Euronymous existe até hoje em Oslo, na Noruega com o nome Neseblod Records onde existe diversos itens especiais da cena Black Metal, entre itens raros e autografados. Abaixo da loja, há o chamado Museu do Black Metal, local com itens que pertenceram ao Euronymous, e o local onde acontecia as reuniões do Inner Circle, o grupo ideológico-musical, formado por integrantes do Mayhem, Burzum, Emperor e outros, que é mostrado no filme. Infelizmente, a maior parte do acervo é online e pode ser conferido no site blackmetalmuseum.no.
Os membros restantes da banda Mayhem, Hellhammer (bateria) e Necrobutcher (baixo), juntaram-se ao vocalista Maniac e ao guitarrista Blasphemer e reativaram o Mayhem dois anos após o ocorrido. Atualmente a banda é composta por Hellhammer, Necrobutcher, Attila Csihar (vocal), Teloch e Ghul (guitarras). E segue gravando álbuns e realizando turnês, a última passagem da banda no Brasil foi em Junho de 2018.