Depois do brilho, do Eurovision e da provocação de Blood & Glitter (2022), o Lord Of The Lost apaga as luzes e convida o público a um mergulho profundo na escuridão. O lançamento de OPVS NOIR revisita uma nova fase e marca uma trilogia de 33 músicas que resgata o lado mais obscuro e emocional da banda, com uma sonoridade que mistura o peso gótico e industrial a elementos sinfônicos e cinematográficos.
Formada em 2007 em Hamburgo, na Alemanha, a Lord of the Lost é uma banda que mistura metal gótico, industrial e rock alternativo, conhecida por seu visual marcante e sonoridade sombria, mas sempre versátil. Liderada por Chris Harms, o grupo ganhou destaque internacional com álbuns como Empyrean, Thornstar e Blood & Glitter (responsável por levá-los ao palco do Eurovision 2023, representando a Alemanha e excursionar com o Iron Maiden). Ao longo dos anos, a banda consolidou uma identidade única, equilibrando peso e melodia, teatralidade e emoção, e se tornou um dos nomes mais respeitados da cena dark e metal moderna.
Durante os eventos que marcaram o lançamento da primeira parte da trilogia, a banda publicou algumas matérias em suas redes sociais e aqui trouxemos um resumo do que marca essa nova fase. O evento oficial de lançamento do álbum se deu durante o festival M’era Luna, onde estivemos presentes e você pode ver a cobertura aqui. As fotos desse evento estarão no final desse texto.
“Depois de tanto vermelho e dourado, sentimos uma necessidade enorme de escuridão — não só visualmente, mas também em som e em palavras”, conta Chris Harms, vocalista e principal compositor da banda.
Se Blood & Glitter foi político e direto, OPVS NOIR vai na direção oposta: é introspectivo, atmosférico e melancólico, um “mundo de sonho sombrio”, nas palavras de Chris. A ideia e o título surgiram na estrada, em dezembro de 2023, a caminho do segundo LORDFEST (festival que acontece todo ano em Hamburgo, onde a banda convida outras bandas parceiras para seu próprio festival e atrai fãs do mundo inteiro). “Sabíamos que seria uma grande obra, um Opus. Faltava apenas algo que traduzisse o sentimento de escuridão. Noir encaixou perfeitamente”, lembra Pi (guitarra).
O nome virou guia estético e emocional — e o ponto de partida para o que se tornaria uma das empreitadas mais ambiciosas da carreira da banda.
Uma trilogia para ser aos poucos absorvida
Em vez de lançar um álbum duplo, o LOTL decidiu dividir o projeto em três volumes, lançados com intervalos curtos. O primeiro saiu em agosto desse ano, o segundo sairá em dezembro e o terceiro está previsto para abril de 2026.
“Queríamos que o público tivesse tempo para respirar entre cada parte, mas sem esperar demais por novas músicas”, explica Chris.
A tarefa de distribuir 33 músicas e 15 participações especiais foi complexa. “Passei semanas reorganizando as faixas até chegar ao equilíbrio certo — entre vozes, estilos e climas”, diz o vocalista.
O Volume 1 representa a essência de OPVS NOIR, enquanto os volumes seguintes prometem caminhar “da escuridão para um pouco mais de luz”.
Sobre as faixas
Pi e Benji não pensaram duas vezes: “I Will Die In It” é a síntese da trilogia.
“Essa música tem tudo o que OPVS NOIR representa: atmosfera densa, melancolia, emoção e melodias marcantes”, resume Pi.
Chris, por outro lado, destaca um trio:
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“My Sanctuary”, a melhor porta de entrada para o universo do álbum;
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“Light Can Only Shine In The Darkness”, que equilibra peso e acessibilidade;
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“Bazaar Bizarre”, a mais experimental e excêntrica — descrita por Nik e Gerrit como “sombria, pesada e irresistivelmente cativante”.
Do estúdio ao caos criativo
O processo foi longo: um ano inteiro de composição e mais meio ano em estúdio. E, claro, o LOTL fez tudo à sua maneira.
“Gravamos os vocais antes de qualquer instrumento”, revela Chris. “Isso me permite moldar as músicas em torno da voz, que é o núcleo emocional de tudo.”
O método resultou em faixas coesas e orgânicas, sem o “enche-linguiça” típico de gravações convencionais.
Ainda assim, houve desafios: Gerrit cita “Moonstruck” como uma das mais difíceis, Pi fala em riffs “imaginados fora da guitarra”, e Nik destaca a necessidade de aprimorar o pedal duplo para acompanhar o novo nível de complexidade.
Sinfonia sombria: o som de OPVS NOIR
“Queríamos um som escuro, estranho, mas sinfônico — algo entre Tim Burton e Danny Elfman, mas com a essência do LOTL”, explica Benji.
O resultado é uma fusão entre peso gótico, arranjos orquestrais e melodias acessíveis, provando que a banda domina como poucas a arte de equilibrar opostos.
As participações elevam o álbum ainda mais: Sharon den Adel (Within Temptation), Chris Corner (IAMX) e Tina Guo (violoncelista de Hans Zimmer) emprestam suas vozes e timbres únicos.
“Ouvir essas colaborações pela primeira, vez foi indescritível. É o tipo de momento em que você percebe que criou algo realmente grande”, lembra Chris.
Sem regras, sem patrões
Mesmo após o sucesso no Eurovision e as turnês com o Iron Maiden, o Lord Of The Lost se recusa a seguir fórmulas.
“Nossa evolução nunca foi tentativa e erro. A gente simplesmente faz o que quer fazer naquele momento”, afirma Chris.
A banda também ignora a pressão de mercado. “A maioria dos especialistas quer sucesso rápido. Nós preferimos crescer de forma orgânica e verdadeira”, comenta Gerrit. E quando o assunto são haters, o grupo encara com leveza. “Transformamos alguns dos comentários mais ácidos em estampas de merch”, ri Nik. Chris, por sua vez, já abandonou as redes: “Não preciso da raiva dos outros pra criar.”
Contra a maré dos singles
Enquanto a indústria musical segue priorizando lançamentos curtos e descartáveis, o LOTL vai na contramão. “OPVS NOIR é um álbum só — dividido em três partes. É o nosso nono disco, não importa o que a Wikipedia diga”, provoca Chris. Nik completa: “Isso é rock’n’roll. Álbuns completos, grandes artes e nenhuma preocupação com tendências.”
E o que vem depois? Chris é enigmático: “Um pouco de tudo — mergulhar mais fundo, mudar de rumo e explorar o desconhecido.” Klaas encerra com uma reflexão certeira: “A indústria está saturada de previsibilidade. O público sente falta de surpresa. E é exatamente isso que queremos devolver às pessoas.”
Entre os destaques de OPVS NOIR, “I Will Die In It” surge como o manifesto perfeito da trilogia — densa, emocional e envolta em uma aura quase hipnótica. “Light Can Only Shine In The Darkness” mostra o lado mais acessível do álbum, unindo peso e melodia em uma mensagem sobre encontrar beleza na escuridão. Já “Bazaar Bizarre” é o caos organizado em forma de música: riffs quebrados, refrão viciante e uma teatralidade que só o Lord Of The Lost conseguiria equilibrar. E, fechando o ciclo, “One Of Us Will Be Next” traduz a filosofia sombria da banda em uma balada que lembra — com melancolia e intensidade — que viver o agora é o único antídoto contra o inevitável.
Ouça o álbum completo aqui:
E essas são as fotos do show de lançamento do OPVS NOIR durante o festival M’era Luna em 2025, na Alemanha:

NOTA: 5 / 5
