No dia 7 de dezembro, o Mayhem desembarca em São Paulo para um show especial da turnê de 40 anos, no VIP Station, em Santo Amaro. Mais do que uma simples apresentação, essa noite celebra o início de tudo: o clássico EP “Deathcrush”. Além da formação atual – Attila Csihar (vocal), Necrobutcher (baixo), Hellhammer (bateria), Teloch e Ghul (guitarras) – o show ganha um peso histórico extra com as participações especiais de dois nomes fundamentais da era “Deathcrush”:
Manheim – baterista original do EP e também responsável pelos climas sombrios em piano, especialmente em “(Weird) Manheim”;
Messiah – voz convidada na fase clássica, marcando presença em faixas que ajudam a construir a aura bizarra e sacrílega do disco.
A presença de Manheim e Messiah no palco brasileiro transforma o show em um verdadeiro ritual de retorno às origens, aproximando o público de 2025 daquela energia crua, imprevisível e perigosa de 1987.
“Deathcrush”: o caos primordial do black metal

Lançado em 1987, “Deathcrush” é o registro primordial do Mayhem e um dos pontos de partida oficiais do black metal norueguês. Não é um disco “bem produzido”, nem preocupado em soar técnico ou polido – ele existe para chocar, incomodar e criar um clima de ameaça constante.
A formação daquela época reunia Euronymous (guitarra), Necrobutcher (baixo), Manheim (bateria/piano), Maniac (vocal principal) e Messiah (vocal convidado), além da participação especial de Conrad Schnitzler na intro. Essa combinação gerou um EP curto, mas que moldou toda uma geração de bandas extremas.
A seguir, um review faixa a faixa, mostrando por que “Deathcrush” ainda é tão importante – e por que vê-lo sendo celebrado ao vivo, com Manheim e Messiah presentes, é algo histórico.
Review faixa a faixa: “Deathcrush”

1. “Silvester åpenbaring”
O EP abre com uma vinheta experimental, marcada por ruídos, texturas eletrônicas e um clima quase industrial. Não há riffs nem bateria – é uma espécie de invocação sonora, como se a banda estivesse abrindo um portal para algo que não deveria ser despertado. A participação especial aqui é indireta, ligada ao espírito de experimentação que o Mayhem carregava, e prepara perfeitamente o terreno para o choque que vem em seguida.
2. “Deathcrush”
A faixa-título é um atropelo absoluto. A bateria entra crua e seca, com um ataque direto, sem firulas. A guitarra de Euronymous cospe riffs simples, repetitivos, quase primitivos, mas extremamente efetivos. O vocal de Maniac soa mais como um surto do que como canto — gritos histéricos, quase fora de controle.
A produção suja, longe de atrapalhar, é parte da identidade da música: tudo parece gravado às pressas, em um porão úmido, e é exatamente isso que dá à faixa sua força. É o tipo de som que define uma estética inteira: se é bonito demais, não é “Deathcrush”.
3. “Chainsaw Gutsfuck”
Aqui o Mayhem entra de cabeça no clima gore, como um filme splatter transformado em música. O riff é quase punk: direto, martelado, e a música parece sempre à beira de desmoronar. A bateria de Manheim, apesar da crueza, conduz a faixa com um senso de urgência animalesco.
O vocal continua caótico, e a letra empurra os limites do aceitável para a época, reforçando o lado chocante da banda. Em show, é uma daquelas faixas que viram catarse: simples, bruta e feita para incendiar o público.
4. “Witching Hour” (Venom) – com presença de Messiah
A escolha de “Witching Hour”, clássico do Venom, deixa claro quem foi uma das grandes influências da banda. Mas o Mayhem não faz uma cópia fiel – ele suja ainda mais o original.
Aqui, Messiah tem papel importante: sua participação vocal ajuda a criar contrastes com o timbre de Maniac, trazendo uma sensação quase ritualística ao caos. A execução é agressiva, embolada, como se a música estivesse sendo executada no limite da sanidade. É um tributo e, ao mesmo tempo, uma declaração: o Mayhem pega a base do Venom e a leva para um território ainda mais extremo.
5. “Necrolust”
“Necrolust” é um dos momentos mais memoráveis do EP. O riff principal é marcante e carrega uma atmosfera mais próxima do death metal, mas com aquele frio na espinha típico do black metal nascente.
A bateria de Manheim é seca, reta, dando sustentação para a guitarra dominar o espaço. O clima é sufocante, e a música parece apontar diretamente para o que bandas norueguesas fariam alguns anos depois: menos velocidade desenfreada, mais foco na sensação de mal-estar e na construção de uma aura sombria.
6. “(Weird) Manheim” – o lado experimental de Manheim
Aqui, Manheim brilha de forma diferente. A faixa é basicamente instrumental, com clima estranho, melancólico, quase cinematográfico, em que o piano e a ambientação criam uma sensação de deslocamento e inquietude.
É uma pausa do ataque frontal das músicas anteriores, mas não traz conforto – pelo contrário, soa como um intervalo tenso antes do fim do mundo. No show, a presença de Manheim potencializa esse momento: é ele, ao vivo, revisitando uma peça que ajudou a definir o lado mais experimental e bizarro do EP.
7. “Pure Fucking Armageddon” – o colapso final
O encerramento é um manifesto. “Pure Fucking Armageddon” é curta, caótica e agressiva, como se a banda estivesse despejando tudo o que restou de energia e raiva em poucos segundos.
A música é desorganizada de propósito: o objetivo não é virtuosismo, e sim parecer que o mundo realmente está desabando. Guitarra ruidosa, bateria num ataque bruto e vocais urrados formam o fechamento perfeito para um EP que nunca quis ser “correto” – e sim devastador.
A importância de Manheim e Messiah no palco brasileiro
Ter Manheim e Messiah presentes no show de São Paulo dá um sentido especial a cada uma dessas faixas.
Quando “(Weird) Manheim” e “Pure Fucking Armageddon” surgem no repertório, não é apenas a música sendo tocada: é o próprio baterista original revisitando as raízes do caos que ele ajudou a criar.
Ao ouvir trechos em que a presença histórica de Messiah é sentida, o público testemunha a ponte direta com o período em que o black metal ainda estava sendo inventado, sem qualquer manual ou fórmula pronta.
O que esperar do show
Um repertório que deve misturar fases diferentes do Mayhem, mas com “Deathcrush” como eixo simbólico da celebração.
Clima de celebração sombria: 40 anos de banda, mas com o espírito underground e provocador intacto.
Um encontro de gerações no mesmo palco: Attila e a fase ritualística moderna do Mayhem dividindo a cena com Manheim e Messiah, resgatando o lado mais cru, espontâneo e violento da história da banda.
Para quem é fã de black metal, o dia 7/12 em São Paulo não é só mais um show. É um mergulho direto na fonte: a chance de sentir ao vivo o impacto de “Deathcrush” com figuras-chave daquela era, num raro alinhamento entre passado e presente.

Serviço – Mayhem em São Paulo
Show: Mayhem – 40 Years of Pure Fucking Chaos
Data: 7 de dezembro
Cidade: São Paulo – SP
Local: VIP Station – Santo Amaro
Endereço: Rua Gibraltar, 346 – Santo Amaro
Abertura da casa: (preencher com horário oficial da produção)
Classificação etária: (conforme divulgação oficial)
Ingressos: à venda em pontos e canais oficiais da produtora responsável pelo evento.
