No Evangelho de Mateus, 18:20, Jesus disse: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Então, o pequeno público no início do maior evento cristão de Heavy Metal no ano em Fortaleza. Rodando o Brasil num formato bem interessante, a banda sueca NARNIA e o cantor norte-americano Rob Rock, estiveram no Casarão do Benfica, no bairro de mesmo nome, abençoando o lugar e os presentes com sua boa música. Antes deles, a cearense LordMetal fez o trabalho de aquecer os cearenses (como se fosse necessário, num calor constante piorado nos últimos anos pelas mudanças climáticas).
Pouco depois das 8, a LordMetal, banda com 18 anos de música, com seu som pesado, mas vocais limpos, começou a sua apresentação transcendendo limites de fé e música. Com riffs contundentes, excelente som de teclado (seja ao criar camadas, seja em rivalizar com as guitarras) e um hard-rock bem decente, os seis integrantes (Vocal – Matheus Aguiar, Guitarra solo – Gilcelio Cordeiro, Guitarra base – Robson Kanguru, Baixo – Westerley Nascimento, Teclado – Phillipe Viktor e Bateria – Pantera) apertados no palco entregaram um espetáculo apaixonado, unindo pessoas, católicos, evangélicos, agnósticos, independentemente de suas crenças religiosas (e como estamos precisando disso).
Cabe já falar da produção do show. Esta foi como jamais tinha sido visto naquela casa, tornando até mesmo o som, por vezes muito mais confessional que enérgico da LordMetal, numa experiência de peso e beleza. “Você pode não ser cristão, mas o amor é algo que deve reinar e estar vivo no meio de nós”, disse o vocalista.
No setlist, os veteranos de Festival Halleluya entregaram canções como “Em Tuas Mãos” (que abriu a apresentação) “Todo Teu” e trouxeram o próprio festival para o Casarão com uma música com seu nome. Uma canção longa, com riff marcante de teclado e uma das melhores do show. Fecharam o show com a balada “Que Amor é Esse” e mais uma canção pesada, “Faz o teu querer”, graças a Deus.(porque aqui no Headbangers Brasil a gente gosta é de bater cabeça).
Se a produção estava excelente, mais uma vez merece elogios. A troca de palco também foi muito rápida. Logo, logo estavam no palco do Casarão, prontos para detonar, o astro norte-americano Rob Rock e parte do NARNIA.
Robert Rock tem rock no próprio sobrenome, mas talvez até pudesse ser chamado de Rob “Christian Heavy Metal”, dada a sua importância no estilo. O vocalista do IMPELLITERI começou seu set com “The Sun Will Rise Again”, faixa de seu álbum de estreia solo em 2000, “Rage of Creation”, fazendo a alegria do público e logo o levando a cantar junto e com as mãos pra cima a potente “First Winds of the End of Time”.
“Rob Rock, Rob Rock, Rob Rock” gritava alucinada a plateia em “Savior’s Call”. E ecos de SEPULTURA puderam ser ouvidos na pesadíssima “Judgement Day”.
Então, a surpresa da noite (o que, a bem da verdade, já não era surpresa para quem estava acompanhando a turnê destes dois grandes nomes do Metal Cristão no Brasil). O norte-americano pergunta ao público: “Vocês estão prontos? Vamos dar as boas-vindas ao Christian e o poderoso NARNIA“.
Sim, embora Carl Johan Grimmark (guitarra), o CJ, Jonatan Samuelsson (baixo), Andreas Johansson (bateria) e Martin Härenstam (teclado) já estivessem no palco tocando há alguns minutos, era só a partir dali que a NARNIA oficialmente iniciava o seu show. “A Crack in the Sky”, do “From Darkness to Light” marcou a primeira vez do NARNIA em Fortaleza. Do mesmo album, todo mundo pulou ao som de “You Are the Air that I Breath”. E o nome da banda, como esperado, foi repetido inúmeras vezes em coro e regozijo.
“Narnia”
“Narnia”
“Narnia”
“Fortaleza, vocês estão prontos para o metal?” pergunta o simpático Christian. E lá vem “Rebel”, “Thief”, e “Descension”, as três do espetacular “Ghost Town”, álbum que o pessoal da terra dos reis Ingo, o Jovem, e Olavo, o Tesoureiro, acabaram de lançar. Christian também lembrou que era a terceira vez no Brasil e disse amar o apoio dos fãs à banda e a Jesus.
Mais uma troca “de banda” e Rob Rock volta para “Rock the Earth” e “In The Fire”, dando nesta até o microfone pra galera de perto do palco cantar. Embora tenha tocado com grandes nomes do metal como os guitarristas Axel Rudi Pell e o ex-STRATOVARIUS Timo Tolkki, além da Metal Opera AVANTASIA, Rob incluiu apenas uma canção de outros nomes no setlist. Foi, “Father Forgive Them”, do IMPELLITTERI. Quem sabe, em algum ano por vir ele e a banda não se apresentam em Fortaleza para pagar essa dívida?
“Jesus ama vocês, eu amo vocês, e o NARNIA ama vocês também”, declarou o floridense. E complementou dizendo que “só a gente e a irmã dele o chamamos de Robby” – euexplico: normalmente a pronúncia do brasileiro faz parecer que as palavras em inglês terminadas em “e” ou consoante soem como se tivesse um “y” no final, o que em seu idioma normalmente denota algo no diminutivo. É o que faz com que os americanos e ingleses achem “nosso inglês” bonitinho, engraçadinho, fofinho. Enfim, “está é dedicada a vocês”, ele continuou, introduzindo “I Am a Warrior”, grande pedrada de sua discografia.
Cristian chega com camisa da seleção e bandeira do Brasil e manda “The Lost Son”, canção que, pela letra, nos remete à bela “Alô, Meu Deus”, do também cristão Padre Zezinho, seguida de “No Shadows From the Past”.
O mestre das seis cordas, CJ, entrou na conversa e falou que na Suécia já era sábado, dia do aniversário da sua esposa Eleonor. Claro que a galera cantou parabéns pra ela em inglês. Um belo e curioso momento.
“Into This Game” precede outro grande momento do show”, “Vida Longa ao Rei”, digo, “Long Live the King”. A canção foi assim cantada pelo público, assim como no disco ao vivo (gravado no Brasil, inclusive).
Rob e Christian se juntam no palco para alguns instantes de pregação, nada muito extenso para quem foi ali puramente pelo Power Metal. Um momento de bençãos. E embora os dois vocalistas tenham juntado vozes para “The War that Tore the Land”, não terminaram sozinhos. O público continuou acapella.
Os músicos deixam o palco após “I Still Believe” enquanto o público canta “Olê olê Olê Olâ / Narnia Narnia”, mas, como já era de se esperar, voltam pra “Living Water”.
Em um cenário onde a música se torna uma força que transcende fronteiras e crenças, os shows da LordMetal e a festa conjunta promovida por NARNIA e ROB ROCK, embora possma ter sofrido com a presença modesta de público, teve brilho intenso graças à paixão e dedicação das bandas que subiram ao palco e à excelência da equipe de produção por trás do evento. Enquanto os decibéis ecoavam e as guitarras distorcidas rugiam, ficou claro que a mensagem de fé e esperança estava profundamente enraizada nas letras e no espírito dos músicos. Apesar do público limitado, o festival se destacou como uma celebração única, provando que o poder do heavy metal cristão está em sua capacidade de unir os corações e as almas daqueles que o abraçam.
Agradecimentos:
Márllon Matos e Eliel Vieira da Estética Torta/En Hakkore Records pela atenção e credenciamento.
Chris Machado, pelas imagens que ilustram esta resenha. Veja mais neste link: https://photos.app.goo.gl/zCTD17RXB5XnidqS7