No último sábado dia 12, véspera do Dia Mundial Do Rock, comemorou-se o 20° aniversário do Headbangers MC, com sede localizada no município de Mesquita, Rio De Janeiro. Eventos desse tipo são frequentados por pessoas de todas as idades e amantes de motociclismo em geral, com muito rock n’ roll rolando ao longo do encontro. Seja com som mecânico e DJ’s ou com bandas, cada encontro de motociclistas já parece uma comemoração por si só: muita gente vem de diversos pontos do estado, música boa e a oportunidade de rever velhos amigos, uma verdadeira celebração de amizade e fraternidade, fora a chance de assistir, rever e até mesmo conhecer bandas que buscam um lugar ao sol na música. Muitas bandas veem nos eventos de moto clubes um terreno fértil para serem vistos, já que comemorações desse tipo atraem um grande público independente das bandas presentes no cast.

No aniversário do Headbangers teve tudo isso e fazendo jus ao nome do moto clube, teve muito Classic Rock, Hard Rock e Heavy Metal. As 3 bandas que tocaram, das quais falarei em breve, brindaram o público com mais de 4 horas de som pesado, mesclando músicas autorais aos clássicos, provando que com um pouco de esforço o cenário pode se manter vivo e relevante.

A abertura do evento ficou a cargo da Steewild, banda liderada por Marcus Prates (Vocais e Guitarra) tocando Burn, uma autoral que tem nome e jeito de clássico. Completam a formação Alê De La Vega na bateria e Eddie Asheton no baixo e vocal. A banda tem punch e traz urgência e fúria em riffs ardidos e sacolejantes como nas excelentes autorais Take Me Out, Survive e C’Mon Babe, já conhecidas do público frequentador dos points e locais de rock da baixada fluminense. A bela e estranha Lady In White, tem cara de clássico, inspiradíssima em outro clássico do Led Zeppelin, Going To California.

Mas, apesar das canções autorais serem excelentes, o público desses lugares sempre anseia por ouvir alguns clássicos pra evocar sua memória afetiva. Nesse quesito o Steewild escolheu alguns covers manjados, porém tocados com tamanha honestidade que foi impossível ficar imune a energia dos caras. Ao executar Rock n’ Roll e Immigrant Song, do já citado Led Zeppelin, a banda jogou a animação lá em cima, sem deixar ninguém parado. Hair Of The Dog do Nazareth também não fez feio, já que Marcus possui um timbre  que lembra o próprio Dan Mccarthy em alguns momentos (ainda que a versão executada tenha ficado mais acelerada e próxima do cover feito pelo Guns n’ Roses). O final apoteótico veio com uma arrebatadora e ousada versão de Dream On do Aerosmith, que surpreendeu a todos pela coragem da banda em executar uma canção tão complexa em formato de power trio. Bola dentro da banda que parece ter saído revigorada do hiato pelo qual passou recentemente.

Em seguida, a banda Hell Visions subiu ao palco disposta a incendiar a noite e torná-la ainda mais lendária. Guarde bem a palavra lendária pois essa á melhor definição para a ocasião e em breve vocês saberão o motivo.

Voltando à Hell Visions, a banda é conhecida por fazer um set baseado em covers de classic hard rock, metal e coisas do gênero. Apesar disso, para este evento a banda chegou com o pé na porta, quebrando tudo em um set inteiramente dedicado ao heavy metal clássico, sem sequer flertar com outras vertentes de rock Tudo bem que Ride Like The Wind é um Aor/Westcoast do Christopher Cross que ganhou cara de Hard/Aor com o Saxon, mas aqui foi tocada com um peso tão absurdo que nem dá pra chamar de Aor, graças aos timbres do excelente guitarrista Arthur Hogemann.

E tome clássico atrás de clássico, com Princess Of The Night, também do Saxon, Bark At The Moon e Crazy Train de Ozzy Osbourne, N.I.B., War Pigs (você sabe de quem), Symphony Of Destruction e She Wolf do Megadeth. Claro que teve Iron Maiden e o “Judão da massa”. A abertura com Eletric Eye seguida de Wrathchild, sempre será um acerto em qualquer banda cover de metal que se preze. O Metallica foi representado com Seek And Destroy.

A maior surpresa da banda ficou a cargo do cover do Annihilator, Alison Hell do disco Alice In  Hell de 1989, inusitado e memorável.

Encerrando com um metal extremo nacional, Territory clássico do Sepultura foi a que mais destoou do setlist, mas isso não é uma crítica, visto que a canção não deixou que a energia caísse e preparou para o que viria a seguir.

 

Uma Noite Lendária…

A banda chamada para encerrar a noite é clássica e cult para o público dos moto clubes. Estava ali, no município de Mesquita, ninguém menos que o lendário Azul Limão.

Obviamente, a nova geração não tem muita noção da importância desse momento, ainda mais sendo véspera do Dia Mundial do Rock, mas o que se viu ali foi simplesmente um massacre sonoro, brutal e enérgico.

Pra quem não conhece, o Azul Limão é uma banda de heavy metal que canta em português. Sem chorar pitangas de que a banda poderia ter sido maior do que foi, ou fazer mais sucesso do que fez, o que tivemos neste sábado foi uma verdadeira aula de como fazer metal em português, sem abrir mão do peso e da velocidade.

A abertura com Portas da Imaginação já deu o tom do que estava vindo pela frente. Sangue Frio, 15 Minutos, Você Não Faz Nada são músicas com conteúdo lírico e instrumental, com riffs simples e diretos, cortesia do “patrão” e guitarrista Marcos Dantas. Completam o time o vocalista Renato Trevas, o baterista André Delacroix e o baixista Laércio Rocha.

Um dos hits do grupo, Não Vou mais Falar, foi cantado à plenos pulmões pelo público presente, que não arredou o pé enquanto não viu a banda executar seus outros hits.

Sedutora é uma versão do grupo para Heartbreaker, da cantora Pat Benatar. Aqui a canção se tornou propriedade do Azul Limão, pois virou uma música completamente nova.

Em meio a diversos clássicos cultuados no underground, o show ia se encaminhando pro final, e nos deixava uma certeza: o underground vive. Basta ter boa vontade e fazer acontecer. Quer uma prova? Músicas como Guerreiros do Metal de 2018 e Coração de Metal de 2013, foram cantadas por todos os presentes. Um fato curioso, já que ao final de Coração, uma queda de luz causada por um problema no transformador de energia externo desligou o palco inteiro, encerrando de maneira abrupta uma noite memorável. Nem deu tempo de tocar Satã Clama Metal, uma das mais pedidas pelo público presente e reservada para o final da apresentação.

O underground é isso, dificuldade, fazer as coisas na raça, superar desafios e gritar bem alto quando não houver som. Por mais que tenha faltado o clássico citado acima, o show não poderia ter acabado de maneira mais épica, com o público inteiro cantando “Coração de Mteal, metal, metaaaaallll…” com a banda, numa interação que ninguém, nem o maior admirador de heavy metal poderia prever.

Só o undergound poderia proporcionar tal momento, por isso digo e repito: O Underground Vive, ainda que respirando por aparelhos, mas vive. Que noite bangers, que noite!!