Dois grandes nomes do rock no passado juntam-se no presente para provar que o gênero musical ainda tem futuro. O encontro rola em Porto Alegre nesta quarta-feira (25), no Opinião (José do Patrocínio, 834), às 19h, quando Black Flag e L7, ambas as bandas da Califórnia (Estados Unidos), dividem uma noite que tende a ser histórica. O grupo liderado pelo guitarrista Greg Ginn, e apontado como pioneiro do hardcore nos anos 1980, desembarca pela primeira vez na capital gaúcha. O repertório inclui o segundo álbum “My War” na íntegra e mais temas de outras fases da carreira — em show com mais de duas horas. Já o quarteto feminino, geralmente relacionado ao movimento grunge, chega ao Rio Grande do Sul para sua segunda apresentação, trazendo na bagagem a atitude que as consagrou desde os 1990 em performance com clássicos de toda a carreira.
Ingressos disponíveis neste link.
O Black Flag é nome de referência para o punk e pioneiro no hardcore. Criada em 1976 pelo guitarrista Greg Ginn (único integrante original ainda na formação), a banda tornou-se extremamente influente dentro do rock, do metal ao indie. Após chamar a atenção no cenário underground com dois EPs — “Nervous Breakdown” (de 1979 — com Keith Morris, que depois formaria o Circle Jerks e OFF!, nos vocais) e “Jealous Again” (1980) — o grupo lançou o acelerado primeiro álbum “Damaged” (1980), que marcou a estreia do hoje lendário Henry Rollins como frontman.
Com o segundo disco “My War” (1984), o Black Flag tornou-se cultuado, estabelecendo caminhos que deram origem ao sludge, ao post-hardcore e ao grunge. Se o lado A do vinil mantinha velocidade e agressividade características da banda, o lado B trazia faixas mais lentas e experimentais, agregando referências que iam do noise ao Black Sabbath. Pares como Mudhoney, Melvins e Queens of the Stone Age citam a influência do Black Flag. Kurt Cobain, líder do Nirvana, também sempre exaltou sua predileção por “My War”, inclusive elencando o disco como um de seus preferidos da vida em lista que consta no livro “Diários de Kurt Cobain”.
Atualmente, o Black Flag é composto, além de Ginn, por Harley Duggan (baixo), Charles Wiley (bateria) e o skatista profissional Mike Vallely (voz).
”Demorou um tempo até eu conseguir entender a densidade por trás da obra do Black Flag. Diferente do punk que era consumido na época, eles engrossaram fortemente o caldo, e trouxeram uma atmosfera ”sombria” para o gênero, algo que até então não tinha sido muito explorado. Quando pude sentir todas essas nuances, já era tarde demais: estava totalmente derretido e fissurado pelos trabalhos da banda. Não obstante, mandei fazer um adesivo dos caras para colar no meu carro, para nunca esquecer de arrepiar tudo e todos(as) que estiverem na minha volta, assim como os lendários mestres do Black Flag fazem até hoje”, destaca Northon Amaral, guitarrista da Punkzilla, um dos representantes em ascensão do punk/hc gaúcho.
Brabas!
O pensamento de que para fazer rock era preciso ter culhões ficou no passado. E as meninas do L7 são pioneiras nesse sentido, comprovando isso desde 1985, quando iniciaram as atividades. Com postura riot girl, a banda despontou nos anos 1990 com o terceiro álbum “Bricks Are Heavy” (1992). É desse disco a consagrada ‘Pretend We’re Dead’, bem como os singles ‘Everglade’ e ‘Monster’. Com a grande exposição mundial, as garotas estrearam ao vivo no Brasil em 1993, como atração do Hollywood Rock. Com show coeso e enérgico, roubaram a cena no evento, sendo apontadas como uma das melhores performances do festival — que tinha na escalação Nirvana e Red Hot Chili Peppers, entre outros.
Em 2001, a banda anunciou um hiato, retornando aos palcos em 2014. A última passagem do conjunto pelo Brasil foi em 2018, um ano antes de lançar “Scatter the Rats”, seu primeiro álbum em 20 anos. Nessa gira, fizeram sua estreia em Porto Alegre, no mesmo palco em que sobem nesta quarta-feira (25). Em 2016, saiu o documentário “L7: Pretend We’re Dead”, dirigido por Sarah Price e mostrando a trajetória de altos e baixos da banda.
A formação atual, que vem desde o fim dos anos 1980, tem Donita Sparks (vocais e guitarra), Suzi Gardner (guitarra e vocais), Jennifer Finch (baixo) e Demetra Plakas (bateria).
“L7 foi a primeira banda de mulheres que eu conheci que não vendia sexo. Eram engajadas, furiosas, desarrumadas, mordazes e libertadoras. Mostraram pra todo mundo como o hard rock deveria ser: punk. “Got so much clit she don’t need no balls” (trecho da faixa ‘Fast and Frightening’ que, em tradução livre, significa: ela tem tanto clitóris que ela não precisa de bolas). É uma das minhas bandas preferidas até hoje, choro sempre que vejo as imagens delas no Rio de Janeiro em 1993 (eu era muito nova pra ir). A importância dessas headbangers, que quebravam a monotonia das bandas de cabeludos deprimidos da época, foi fundamental para toda a geração posterior, não só para as mulheres. Quando ouvi L7 pela primeira vez, ainda era uma criança, nem sonhava em ter banda, mas já sabia que queria ser como elas”, enaltece a vocalista Julia Barth, d’Os Replicantes.
Também produtora cultural, Julia foi uma das responsáveis pela primeira vinda do L7 a Porto Alegre:
“Em 2018, num elevador, comentava com uma amiga que a banda que eu mais queria conhecer era o L7. Duas semanas depois ela me mandou um link, elas estavam com a agenda aberta para shows no Brasil. E a gente trouxe elas pra Porto Alegre, uma das experiências mais incríveis da minha vida. Todo mundo que gosta de rock deve assistir esse show. So you wanna have some fun (citação da música ‘Everglade’)? Não perde o L7 e Black Flag dia 25 de outubro no Opinião!”
SERVIÇO
O que: L7 & Black Flag
Quando: quarta, 25 de outubro – 19h
Onde: Opinião — José do Patrocínio, 834
Ingressos: Loja Planeta Surf Bourbon Wallig (Av. Assis Brasil, 2611 – Loja 249 – Jardim Lindóia, Porto Alegre) ou no site bileto.sympla.com.br
Informações: www.abstratti.com e (51) 3211-2838