Em uma palavra: sublime.

O que dizer sobre a lenda chamada Deep Purple? Uma banda com um caminho tão rico, de tanto sucesso que já está ultrapassando a quinta década e ainda nos surpreende positivamente como se fosse uma entidade viva, uma ideologia musical que encanta milhões de fãs ao longo dos anos e mesmo quando você acha que o cansaço vai chegar, um sopro de vitalidade renova a fé dos apreciadores da boa música mais uma vez.

Whoosh!” não é um novo “Burn” ou “Machine Head”, pois vivemos em um mundo muito diferente do daquela época, e não há necessidade de se tentar recriar tais obras primas, mas ele é muito melhor que “Bananas” ou “Rapture of the Deep” e agora aqui vai caber a opinião do fã, não a do crítico, “Whoosh!” supera o meu álbum favorito do Deep Purple deste século, que é “Now What ?!”.

Throw My Bones“, que abre o trabalho foi um dos singles antecipados e por isso bem conhecido por todos. A guitarra de Morse se apresenta bem robusta com frases curtas em meio a orquestração bem objetiva e uma grande produção, cortesia do famosíssimo Bob Ezrin, que tem tanta estrada percorrida como a banda e como bem sabemos, os parâmetros aqui são elevados. “Drop The Weapon” é uma das melhores letras do álbum, onde Gillan interpreta um apelo para que as pessoas se afastem dos crimes nas ruas. Musicalmente falando brilham as intervenções de Morse e principalmente Don Airey com texturas exóticas e criativas.

Em “We’re All The Same In The Dark” é vez de Morse explorar diferentes tonalidades e efeitos na guitarra, mas o padrão Purple permanece intacto, em uma alquimia entre o antigo e o moderno, que só músicos com um know how além da escala sabem utilizar. A química entre as teclas e as cordas continuam dando as cartas em “Nothing At All”, onde os teclados de Don se destacam, pois soam como um órgão em uma grande catedral, imponente e idôneo. A cozinha de Roger Glover e Ian Paice devido a sua costumeira excelência nunca merece ser questionada, mas ninguém disse nada quanto aos elogios e eles se fazem necessários.

A faixa “No Need To Shout” é auto explicativa em seu título, o qual Gillan segue à risca, proporcionando um encaixe vocal muito elegante. “Step By Step” vem na sequencia com um dos melhores arranjos do álbum com uma atmosfera introspectiva e muito saudável para o andamento do trabalho, que por sinal não tem nenhuma faixa com pretensões épicas ou algo do gênero. O Rock ‘n roll básico que alimentou o Deep Purple quando a banda ainda engatinhava pelo quintal da música pesada é resgatado em “What The What“. Se tivesse que escolher uma faixa do álbum para começar uma festa, essa seria a escolha óbvia.

The Long Way Round” tem rifes bem interessantes com aquele aspecto de anos 70, assim como as harmonias dos teclados. Não é preciso se alongar mais no assunto para saber que essa música vai agradar em cheio aos fãs dos velhos tempos. Uma canção com o nome de “The Power Of The Moon” já sai ganhando a partida por 1×0 e assim que começam as passagens mais sombrias o jogo vira passeio e termina em uma grande goleada – antes que algum leitor questione minha metáfora, lembre-se que estamos falando de uma banda inglesa composta por membros que adoram futebol. 

O interlúdio rápido de “Remission Possible” prepara o clima para o complexo arranjo de “Man Alive” e a essa altura é notório o quanto a fase de composição para “Whoosh!” foi rico e repleto de ideias criativas. “And The Address” é outra faixa que surpreende positivamente, pois ocorre uma verdadeira barganha entre Morse e Airey, que negociam solos e harmonias de uma forma tão natural que parecem improvisos. “Dancing In My Sleep” fecha o disco com efeitos sintéticos de teclados e versos desconcertantes, em um novo exemplo claro de equilíbrio perfeito entre um sentimento nostálgico e o ar puro com uma sensação de algo novo em folha.

A sensação de ouvir “Whoosh!” pela primeira vez é das melhores, pois as surpresas estão por toda parte, em um refrão ou em uma nota dissonante; talvez em uma frase proferida pela voz inconfundível e ainda afiada de Ian Gillan ou simplesmente pelo fato do álbum ter o nome Deep Purple gravado na capa do álbum. Seja o que for é bom e eu quero acreditar que não será o último. Nós já temos problemas demais para pensar em um mundo sem essa lenda na ativa.

Nota: 5/5

Tracklist:

  1. Throw My Bones
  2. Drop The Weapon
  3. We’re All The Same In The Dark
  4. Nothing At All
  5. No Need To Shout
  6. Step By Step
  7. What The What
  8. The Long Way Round
  9. The Power Of The Moon
  10. Remission Possible
  11. Man Alive
  12. And The Address
  13. Dancing In My Sleep

Deep Purple:

Ian Gillan – vocal

Steve Morse – guitarra

Don Airey – teclados

Roger Glover – baixo

Ian Paice – bateria