Resenha: Majestica – A Christmas Carol (2020)

“Um Conto de Natal… fantástico”

Há alguns anos atrás eu nem faria essa pergunta, pois consideraria desnecessária, mas em tempos atuais, onde as coisas mais simples e normais podem causar indagações diversas, não custa ser precavido. Então, vamos a pergunta: Você já leu o livro ‘Conto de Natal’? Tá bom, eu vou facilitar um pouco mais mudando a questão: Você já assistiu ao filme (qualquer versão, seja antiga, seja mais nova, em desenho, etc) de um ‘Conto de Natal’? Como sou otimista vou considerar que a grande maioria disse sim para qualquer um das perguntas e dessa maneira, agora sim estamos preparados para conversar a respeito do novo trabalho do Majestica intitulado “A Christmas Carol” (em português, ‘Um Conto de Natal’).

A “Christmas Carol” é um livro de autoria de Charles Dickens e foi publicado pela primeira vez em 19 de dezembro de 1843. È considerado a maior estória de natal de todos os tempos e recebeu ao longo dos anos diversas reedições, e inspirou a criação de inúmeras peças teatrais, desenhos animados e filmes para o cinema e TV. A mudança de comportamento do avarento Scrooge em uma pessoa melhor, mais justa e caridosa, graças ás visitas de alguns fantasmas que representavam o espírito do natal, até hoje desperta as melhores qualidades humanas e as lembram da eterna necessidade de praticar o bem, e ajudar ao próximo menos favorecido.

E é exatamente tudo isso que nossos amigos do Majestica trazem ao universo da música pesada com esse ótimo álbum, também intitulado “A Christmas Carol”. Claro que existem diversos discos inspirados nas festas natalinas de diversas bandas, mas esqueça tudo o que você ouviu até agora. Não se trata de regravar alguns temas tradicionais e conhecidos. Em vez disso, “A Christmas Carol” é um ambicioso projeto que combina o fascínio indescritível da estória de Dickens, o espírito de natal, narrativas e canções totalmente encaixadas no melhor que o estilo power metal pode proporcionar. O Majestica conta ao seu modo a fábula natalina de Ebenezer Scrooge e sua jornada para encontrar significado do Natal.

O front-man Tommy Johansson, que é um cantor muito bom, se mostra também um ator promissor nos clipes que a banda está postando em suas redes sociais desde o começo do mês. Johanssson é acompanhado por vários atores que também cantam e vocais de apoio do resto da banda, construindo uma narrativa musical fiel aos pontos fortes do conjunto, e o material de origem do projeto. Um verdadeiro espetáculo. Nota-se claramente que nada foi feito do dia para a noite ou na pressa. É um trabalho que foi pensado, construído com dedicação e muito talento. Cada faixa flui perfeitamente de uma para a outra, capturando uma gama de emoções e contando com a extrema capacidade instrumental do Majestica, com interpretações recheadas de passagens variadas, que intercalam músicas natalinas com o power tradiconal.

A intro com “A Christmas Carol” te transporta para um mundo diferente e os acordes te remetem ás lembranças de natais passados. “A Christmas Story” entra na sequencia com a mesma grandiosidade, mas os elementos do power já se fazem presentes. Um coro poderoso dá o tom e daí é a vez dos vocais de Johansson se unir ao acelerado som proporcionado pelo instrumental. A inclusão de ênfases vocais em determinados trechos dá um ar vivo aos personagens, que só enaltece o trabalho do arranjo.

“Ghost of Marley” soa mais profunda e o ritmo lembra muito o estilo do Stratovarius. Tudo funciona muito bem mais uma vez, com a relação vocal principal e backings muito bem encaixados no andamento da canção. “Ghost of Christmas Past” é muito equilibrada com um trabalho fantástico do baterista Joel Kollberg e um coro de fundo encantador, que consegue transmitir aquela sensação boa que toda música de natal possui. Já “The Joy of Christmas” começa calma com um belo arranjo de teclado e quebra o clima de maneira adequada, dando um tempo para o ouvinte respirar e se preparar para o resto da estória.

A visita do fantasma do natal presente chega cheia de inclusões de orquestras, mas com um andamento power cadenciado, com muitos backings, que logo vai tomar conta da melodia, e é melhor prestar atenção na estória. Podemos definir a faixa “Ghost of Christmas Present” como parte uma peça teatral, com direito a diálogos, orquestrações e muita qualidade sonora. “Ghost of Christmas to Come” sobe o nível de dramaticidade com os diálogos se tornando narrativas. Eu já comentei que me sinto dentro de um livro de estórias ou assistindo um espetáculo teatral? A interação das interpretações vocais e o instrumental se unem para tornar a estória imponente e emocionante.

“A Christmas Has Come”, como não poderia ser diferente, transmite a transformação que o avarento sofreu e como ele melhorou como ser humano. Pode-se sentir a alegria saindo pelos auto falantes e é impossível ouvir esse trabalho sem se envolver no famoso conto, mas caso você consiga, vai notar um trabalho incrível em todos os detalhes que emolduram a melodia. “A Majestic Christmas Theme” encerra a peça (não tem outro termo que se possa usar para classificar tal trabalho) com um instrumental delicado e muito bem elaborado, que resume tudo o que foi contado pelo Majestica.

Mesmo que você seja um dos que responderam lá no começo que não conhecem a estória do ‘Um Conto de Natal’, vai se emocionar com esse fantástico lançamento que o Majestica trouxe para deixar nosso fim de ano mais feliz. E talvez queira ler o livro ou mesmo assistir a um dos filmes e se inteirar melhor nessa mensagem tão bela – já vou deixar a dica, que a melhor versão de ‘Um Conto de Natal’ que eu já assisti é de 1999 e tem Patrick Stewart no papel de Scrooge. Procure por ai, que vale a pena assistir. Quanto ao álbum “A Christmas Carol” eu só posso resumir como sendo um trabalho como poucas vezes vi (ou ouvi), com uma simbiose perfeita da estória de Dickens, com o power metal tradicional do Majestica. Certamente esse disco já está entre os meus favoritos para servir de trilha sonora das festas de final de ano. Meus sinceros parabéns aos músicos do Majestica e a todos os envolvidos nessa sensacional obra. Feliz Natal!

Nota: 4,5/5