Profanos e visionários

Se tem um título que podemos atribuir ao Mercyless, além de profanos, é claro, é que Max Otero e sua trupe foram visionários. Afinal de contas, como atribuir um título como “The Mother of All Plagues” para um trabalho que vem sendo construído desde … 2018? A pior das pragas só chegaria até nós no ano de 2020, mas nossos amigos franceses parecem que estavam sentindo algo no ar. Mantendo o mesmo padrão desde seu cultuado disco de estreia “Abject Offerings“, lançado no distante ano de 1992, o Mercyless mostra em seu novo trabalho toda sua fúria com faixas matadoras.

A intro chamada “Infection” já soa assustadora, mas em dias de pandemia a coisa toma um rumo aterrorizador. “Rival of the Nazarene” entra nesse clima, mas de forma devastadora. Viradas precisas, quebras e rifes cheios de imposições em uma verdadeira aula de death metal. Prepare seu pescoço. Pode parecer impossível, mas “Banished from Heaven” soa ainda mais pesada. A bateria é demolidora e as linhas de guitarra e baixo não permitem o mínimo espaço.

Bring Me His Head” vai escancarar várias rodas, quando os shows forem possíveis como antigamente. Os ritmos alternam cadencias rápidas com pegadas mais velozes. “Contagion” é uma breve música feita de distorções repetitivas e serve de gancho para a diabólica melodia de “Laqueum Diaboli”, que soa como um típico tema para o final dos tempos. Duvido que os bumbos tenham sobrevivido sem maiores consequências depois dessas saraivadas impostas pelo baterista Laurent Michalak.

A velocidade volta a imperar em “Descending to Conquer”, e a essa altura quem não for do ramo, certamente já vai ter deslocado seu pescoço tentando acompanhar o ritmo do Mercyless. Eu bem que avisei para ter cuidado com seu pescoço. Sem tempo para respirar a banda impõe um novo castigo a seus instrumentos com a paulada “Inherit the Kingdom of Horus”. Existe muita coesão entre os músicos do Mercyless, pois eles apresentam melodias complexas e com variações de trocas muito rápidas. Só uma banda muito entrosada pode oferecer tal resultado.

A faixa título, um dos destaques do álbum, sai pelas caixas acústicas como se espalhasse uma praga, mas só que destilando melodias cheias de rifes ‘ganchudos’ e os melhores solos do disco, sem falar do trabalho vocal de Max, que é muito constante e abrangente.  “All Souls Are Mine“ soa como uma metralhadora e chega em um ponto que você agradece pelo teto do quarto ainda estar no lugar. A melancólica “Litany of Supplication” tem a missão de encerrar o álbum e uma densa cadencia é apresentada de forma brutal. Mas não vá embora, ainda tem mais… .

O Mercyless resolveu gravar quatro covers como bônus, e que bônus meus amigos. “The Third of the Storm” do Hellhammer, “In League with Satan” do Venom, “The Exorcist” do Possessed cover e “Go to Hell” do grande Motorhead. Segundo Max todas gravadas quase ao vivo na sala de ensaio em interpretações brutais. Só esse EP já valia o investimento, acredite.

Entre tantos grandes discos lançados nesse desprezível ano de 2020, temos mais um para lembrar que mesmo quando as coisas estão terríveis, sempre existe o lado positivo. E esse trabalho, visionário, do Mercyless merece ser conferido com muita atenção. O death metal tradicional esta mais vivo do que nunca.

Nota: 4/5

Tracklist:

1.Infection

2.Rival of the Nazarene

3.Banished from Heaven.Bring Me His Head

4.Contagion

5.Laqueum Diaboli

6.Descending to Conquer

7.Inherit the Kingdom of Horus

8.The Mother of All Plagues

9.All Souls Are Mine

10.Litany of Supplication

Sovereign Evil” bonus LP / CD

1.The Third of the Storm [HELLHAMMER cover]

2.In League with Satan [VENOM cover]

3.The Exorcist [POSSESSED cover]

4.Go to Hell [MOTÖRHEAD cover]

 Line-up

Max OTERO – Guitars & Vocals

Gautier MERKLEN – Guitars

Yann TLIGUI – Bass

Laurent MICHALAK – Drums

Fique ligado:

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