Há discos que se impõem pelo som, outros pelo conceito. Opus Mortis, novo trabalho do Outlaw, consegue ambos. Composto por sete faixas e pouco mais de 42 minutos, o álbum marca a consolidação de um black metal contemporâneo, agressivo e profundamente atmosférico onde a morte não é apenas tema, mas substância sonora.

Desde a abertura com “Blaze of Dissolution”, a banda nos arrasta para um abismo sonoro denso e calculado. Os riffs são incisivos, as transições sutis, e a bateria de T. cria uma base de caos controlado. Já em “Through the Infinite Darkness”, single que antecipou o lançamento, o duo reafirma o elo entre suas raízes mais tradicionais e a busca por algo maior, uma transcendência do próprio gênero.

Produzido com precisão e bom gosto, Opus Mortis evita o erro comum de transformar o black metal em algo excessivamente polido. Há clareza na mixagem, mas o som permanece sombrio e orgânico, preservando o cheiro de morte e o frio da noite. Os sintetizadores aparecem como véus etéreos, nunca protagonistas, mas essenciais para moldar a atmosfera que conecta cada faixa como se fosse um ritual contínuo.

As letras transitam entre o existencialismo e o misticismo, refletindo sobre ruína, finitude e  vazio. É um álbum para ser ouvido com atenção, em silêncio, com os olhos fechados, com a mente aberta e desperta. Uma experiência quase litúrgica.

Hoje tenho a honra de resenhar essa Obra da Morte executada com extrema maestria: Opus Mortis. Mesmo que não tenha sido feito pra mim, o disco foi feito pra mim, uma vez que é um álbum que escuto e me transmuta a outra dimensão, e carrega o nome que fez minha história desde 1997 no Black Metal.

Inclusive, um pequeno spoiler: eu gravaria uma das faixas que acabou sendo suprimida do disco… mas ela será registrada mais adiante. Aguardem.

Opus Mortis é um álbum que se escuta imaginando uma orquestra sinfônica acompanhando a banda em algum show, mesmo sabendo que isso nunca irá acontecer. Daniel acertou em cheio em cada riff, e esta é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores obras de Black Metal da atualidade.

Os teclados e a ambiência aparecem na medida certa, trazendo à tona aquela atmosfera inconfundível do Black Metal dos anos 90 com uma obscuridade que envolve cada nota como uma névoa ancestral. Além da essência pura e sinfônica do gênero, o álbum carrega pitadas expressivas de avant-garde e uma levada atmosférica riquíssima em detalhes, o que desperta uma nostalgia poderosa, remetendo aos sons que moldaram a minha alma nos primórdios.

As guitarras, absurdamente bem trabalhadas, e a bateria ensurdecedora são a chave mestra do meu apetite voraz pelo clássico Black Metal. Esse é, sem sombra de dúvidas, o melhor disco de Black Metal de 2025, sendo uma obra que tive a honra de ajudar a escolher a capa e que carrega o meu nome. Tenho um imenso palavrão para expressar o que sinto. Estou chorando de emoção e nostalgia.

“Ruins of Existence” foi a faixa que mais me tocou. Ela me transporta de volta à época em que eu caminhava pelos cemitérios nos anos 90, tentando esquecer o mundo dos vivos. Foi também nessa época que adotei o nome que carrego até hoje, Opus Mortis, e que representa tanto em minha vida, na música e na magia.

Minha segunda favorita, “Those Who Breathe the Fire” é, talvez, o ápice da grandiosidade sonora de Opus Mortis. Há algo de litúrgico em sua construção como se corais invisíveis ecoassem entre as chamas, conduzidos por uma orquestra oculta no abismo. A faixa se ergue em camadas que remetem à imensidão de uma missa profana, onde cada riff ressoa como uma trompa apocalíptica e cada batida de bateria marca o compasso de um ritual ancestral. É o som do fogo se tornando verbo, do caos assumindo forma e coro.

Outlaw entrega aqui uma obra madura e audaciosa. Não é o black metal primitivo de porão mas escuridão lapidada e, porque não dizer, ritualística. Opus Mortis é, sem exageros, uma das criações mais notáveis do gênero em 2025, e reafirma o potencial da cena brasileira em dialogar com o mundo sem perder suas raízes.


A arte de capa foi criada por Johny Prayogi. — 
O álbum foi mixado e masterizado por Tore Stjerna no lendário Necromorbus Studio, na Suécia.

NOTA: 5 / 5

Tracklist:

  1. Blaze of Dissolution

  2. Through the Infinite Darkness

  3. The Crimson Rose (feat. Jelle // Dödsrit)

  4. A Million Midnights (feat. Lucas Veles // Blasphemaniac)

  5. Those Who Breathe Fire (feat. Georgios // Dödsrit)

  6. A Subtle Intimation

  7. Ruins of Existence