Em 2017, o Trivium apresentava um trabalho espetacular ao mundo. “The Sin and The Sentence” era uma porradaria sonora, técnica, precisa e recheadas de riffs e a estreia de Alex Bent na bateria, que simplesmente era um show à parte com sua bateria poderosa. Três anos se passaram e em 2020 a banda retorna com o sucessor desta obra e daí surge, “What The Dead Men Say”, produzido por Josh Wilburn e trazido à pela Roadrunner Records, e com o pouco que havíamos ouvido o disco prometia seguir o brilhante passo dado no anterior e em seu todo não decepciona.
Quem abre ´’IX“, um pequeno interlúdio musicado, que aos poucos vai ganhando forma e ficando mais pesado. Na passagem curta, já vemos que a conversa vai ser de gente grande e a portas estão abertas para a faixa título, “What The Dead Men Say”, que começa de forma insana, com trechos que lembram o Gojira. A fúria exala em cada acorde aqui e falar da qualidade, entrosamento e como a banda está afiada é chover no molhado. Matt Heafy cada vez mais se esbalda com sua voz alternando entre o gritado e o limpo e parece uma fábrica de riffs em parceria com Corey Beaulieu e o baixo de Paolo Gregoletto parece uma marreta nos ouvidos, e Bent, o maluco traz linhas soberbas na bateria inclusive na passagem na metade da faixa que é uma explosão de peso e técnica no ponto correto e absurda a composição no todo. Dona de um refrão poderosíssimo que nos faz cantar juntos. Absurda abertura.
“Catastrophist” já conhecida do público também tem seu começo bem agitado, os versos se acalmam um pouco com bastante groove e o pré refrão ganha linhas um tanto bem desenhadas e rápida, para explodir em outro refrão marcante. As dobras das guitarras soam em perfeita sincronia e dão riqueza ao andamento, além da bateria brilhar principalmente no segundo verso. Aqui há também uma mudança do andamento na segunda metade e faz o ouvinte surtar de uma vez, a quebradeira é estridente e cai num solo extremamente bem executado e recheado de feeling. E é impressionante como a banda pode passear entre tantas mudanças de tempo de forma tão natural como acontece aqui e acredite, não são poucos. O final é simplesmente maravilhoso com uma passagem incrível dos vocais, harmoniosas e melódicas.
A seguinte é o grande destaque do álbum. “Amongst the Shadows & the Stones” é a tradução de insanidade em forma de música e traz todo o amadurecimento do Trivium em tudo que a banda já foi. Agressiva, rápida, técnica e extremamente precisa. A faixa traz a banda na firmeza de uma rocha em sua sonoridade, há versos com contratempo, um refrão agitado e raivoso e uma mudança de ritmo absurda onde já um solo é encaixado de forma que a execução é esplendida e ainda há espaço para uma virada da bateria de Bent que joga na cara a genialidade e time perfeito desse cara na sua construção de composição. A canção irá agradar os fãs mais saudosos da banda, principalmente da época do “Ascendancy” e claro, vai explodir nos ouvidos dos mais recém chegados. Aqui não há o que descrever além de você colocar seus fones de ouvido e pirar nos quase 6 minutos em que tudo é executado. Essas três faixas irão causar um estrago nos próximos shows.
O baixo de Paolo é quem puxa “Bleed Into Me“, que é mais calma e traz uma veia mais melódica e mais branda com a trinca agressiva da abertura. Ainda assim vemos um desfile de qualidade, mais uma vez entrosamento absurdo e a banda brincando com suas raízes e outros momentos. “The Defiant” e bastante agitada em seus versos e traz ritmos que lembrar uma fase mais metalcore, com um refrão bastante pegajoso. Há aqui ótimas passagens instrumentais na ponte e outro bom solo mais sucinto e rápido, explodindo em um refrão grande próximo ao final.
“Sickness Unto You” começa soturna e logo traz a brutalidade de volta. Os blast beats explodem na cara em seguida e os versos cadenciados e carregados de precisão são incríveis e a banda explode num groove gigante durantes os versos. O pré refrão é forte e em seguida temos algo com muita melodia e espaço para um solo dramático e dos mais bem executados ali. A faixa não se acomoda e traz as mudanças de andamento que o ouvinte se perde e parece que estamos em uma montanha russa, com o baixo a todo momento martelando no ouvido e a bateria dançando em compassos intrincados. “Scattering the Ashes” é cadenciada em seu começo muito bem marcada pelo baixo novamente e mais uma vez também temos um refrão bem pegajoso que não embalada muito, o trecho antes é mais interessante que o próprio.
“Bending the Arc to Fear” parece uma locomotiva pegando embalo no seu começo e sabemos que a hora que correr, não vai mais parar e é exatamente assim que acontece, dando a impressão que tudo está passando por cima de você. Cheia de raiva e dona de um refrão fuzilador e destruidor e em seu final a caixa da bateria parece que não vai suportar as porradas de Alex e pedirá arrego. A faixa parece ganhar peso a cada minuto que passa e impressiona a cada passagem nova extrapolando a criatividade dos caras que mostram uma fúria absurda para criar. Mais uma que é grande destaque do disco e que merece muito entrar nas apresentações ao vivo. Encerrando está “The Ones We Leave Behind” que lembra bastante a faixa título do disco anterior em seu início, mas logo ganha vida própria, abusando de versos agitado, embalado por blasts e um refrão marcante e cheio de força, com um solo matador que mistura agressividade e melodia na dose certa e é mais do que certeiro fazendo um encerramento não por menos do que esplendido.
O Trivium acerta em cheio mais uma vez, traz um passeio na sua carreira e cria um disco matador e conciso. Sobra qualidade em todos os sentidos aqui e entra nos maiores destaques do ano até o momento e muito provavelmente este posto continuará. Ouça sem moderação e no maior volume possível.
NOTA: 4,5/5
Track Listing:
01. “IX”
02. “What the Dead Men Say”
03. “Catastrophist”
04. “Amongst the Shadows and the Stones”
05. “Bleed Into Me”
06. “The Defiant”
07. “Sickness Unto You”
08. “Scattering the Ashes”
09. “Bending the Arc to Fear”
10. “The Ones We Leave Behind”
Formação:
Matt Heafy – guitarra/vocal
Corey Beaulieu – guitarra
Paolo Gregoletto – baixo
Alex Bent – bateria