Após 12 anos de lançamento do “primeiro capítulo”, “Time I”, e 7 anos após o último lançamento da banda, o brilhante “The Forest Seasons”, os fãs dos finlandeses do Wintersun finalmente podem comemorar o lançamento do aguardado “Time II”. O grupo de Death Metal Melódico é um dos grandes destaques do gênero nos últimos anos, ganhando cada vez mais notoriedade e reconhecimento após os famosos reacts ganharem espaço nas redes sociais, abrindo espaço para músicas como “Sons of Winter and Stars” e “Land of Snow and Sorrow” receberem os devidos reconhecimentos.
Apesar da longa e experiente carreira, o novo lançamento é apenas o quarto trabalho de estúdio do grupo. Aqui, a banda liderada por Jari Mäenpää aposta elevar o tom épico que marcou as músicas em seus lançamentos anteriores. Há também a inserção de melodias que remetem à música asiática, com alguns momentos que nos levariam diretamente para algum filme clássico japonês narrando histórias do período feudal do país.
Ainda que exista todo esse rico contexto histórico e cultural, o álbum peca pelo o excesso. Talvez a vontade de ser grandioso e épico demais tenha atrapalhado o que a banda há de melhor que é o sentimentalismo e a melancolia. Não há dúvidas da capacidade técnica de cada um dos músicos envolvidos no Wintersun, nos trabalhos anteriores isso sempre foi um ponto à ser destacado com brilhantismo e admiração. Mas aqui existe muita técnica e pouca expressão, o que acaba tornando o álbum arrastado e, ao meu ver, pouco inspirado.
Abordando as músicas, o álbum abre com a belíssima “Fields of Snow”, uma faixa instrumental que nos ambienta no antigo Japão. E apesar de não ser um grande amante de faixas instrumentais para abertura, aqui temos uma abordagem rica em orquestrações que leva o ouvinte numa viagem maravilhosa. Em sequência, temos a épica “The Way of the Fire” que começa com uma bela passagem acústica e é substituída por guitarras pesadas e blast beats na bateria, e é aqui que começam os problemas. A faixa, na visão deste que vos escreve, soa genérica e com pouca inspiração. É inegável o tanto de técnica apresentada pela banda, são músicos completos, qualificados e mostram domínio no que fazem, entretanto a música soa apenas como uma exibição de técnica e acaba se tornando cansativa.
Neste parágrafo vou me permitir algo que sempre faço em meus textos e quebrar a quarta parede. Sim, fã, eu conheço e sou ouvinte de longa data do Wintersun. O “Time I” provavelmente foi um dos álbuns que mais ouvi em minha vida por volta de 2014. Como falei anteriormente, acho o “The Forest Seasons” simplesmente genial e nele existe o elemento que tanto senti falta no “Time II”. Nos trabalhos anteriores, a banda consegue abordar músicas extremas, complexas e ainda sim com muita emoção e sentimentos envolvidos. Aqui tudo soa meio genérico, cheio de técnica e complexidade mas ainda sem vida, algo como uma Inteligência Artificial que estudou o grupo e tentou assimilar o que é a música.
Voltando às faixas, “One With the Shadows” traz um clima cadenciado que une o Folk com o Death Metal e o resultado é uma obra digna de J. R. R. Tolkien, com um lindo refrão que remete diretamente às canções dos anãos (sim, anãos) descritas nas obras da Terra Média. “Ominous Clouds” é um belo interlúdio que se une ao final da faixa anterior, com um brilhante solo de guitarra e orquestrações. “Storm” entrega uma proposta interessante mas mal executada. Novamente a banda entra em uma onda de repetições e exagera na grandiosidade. Talvez se a música fosse um pouco mais curta, seria mais nivelada para cima pois ela começa muito bem e o meio para o final é perfeito, mas novamente a faixa peca pelo exagero.
Por fim, chegamos na última faixa do álbum e arrisco dizer ser a melhor. Ainda sofrendo com o problema de ser longa demais e com muita repetição, “Silver Leaves” consegue se destacar imergindo o ouvinte novamente ao clima do Japão Feudal em uma música cadenciada e progressiva. Aqui sentimos a emoção que devia estar presente em todo o trabalho, uma música cativante e sem exageros, finalizando com maestria um álbum com muito mais baixos do que altos.
Vale ressaltar novamente que a banda brilha de forma única, Kai Hahto e Jukka Koskinen enriquecem o grupo com passagens complexas, Temmu Mäntysaari é um dos melhores guitarristas da atualidade e reafirma seu estilo e técnica de forma única. Mas o destaque principal fica para os vocais de Jari, o peso e dramaticidade produzidos pelo o vocalista dá a identidade única do Wintersun.
Por mais negativo que possa parecer após toda essa crítica, recomendo você, leitor, ouvir e tirar suas próprias conclusões. Há muita expectativa envolvida com o “Time II” e, para muitos, tenho certeza que serão atendidas devido ao tom épico
aqui abordado. É uma jornada complexa que requer mais de uma audição atenciosa e em sua complexidade, dividia opiniões, o que engrandecerá a obra.
RESENHA POR IAN DIAS.
NOTA: 2,5 / 5