Celebrando seu 25º aniversário, o M’era Luna Festival 2025 se firmou novamente como o principal encontro da cultura gótica europeia, reunindo aproximadamente 25.000 fãs no antigo aeródromo de Hildesheim, na Alemanha, entre dias 8 e 10 de agosto.

Com cerca de 40 atrações musicais, o festival foi um verdadeiro mosaico de estilos: do darkwave ao metal sinfônico, da eletrônica ao folk, passando por tantos outros subestilos.

Destaques musicais

A programação deste ano foi verdadeiramente monumental. Entre os headliners, destacaram-se: Eisbrecher, Heilung, And One, Subway to Sally, Apocalyptica, Versengold, Faun, Solar Fake, Manntra, dentre tantos outros. Nesse ano, os participantes ainda puderam contar com shows na sexta-feira, o que comumente não costuma acontecer. Essa edição comemorativa foi maravilhosamente pensada e com muitos pontos a favor. É ótimo ver que a cada ano o festival evolui e melhora.

O maior ponto positivo do festival foi, com certeza, a inclusão recente do show de lançamento do novo álbum do Lord of The Lost. Em meados de julho, a banda anunciou que faria um set especial de lançamento de seu “Opvs Noir” num show especial na sexta-feira do M’era Luna.
O que pudemos ver foi que desde a abertura oficial dos portões, o local já estava abarrotado de fãs que vieram para essa ocasião, mas também para ver as demais atrações culturais do evento, para além da música, e já garantir o merchandise especial comemorativo do festival – que acabou em pouquíssimas horas.

Confira aqui a galeria do Lord of the Lost.

 

Eisbrecher — O Poder Industrial no Palco Principal

A banda Eisbrecher trouxe ao M’era Luna 2025 uma fusão crua e visceral de metal industrial com teatralidade robusta, mantendo viva a essência do tema “Industrial Power and Gothic Elegance” do festival. A performance combinou riffs agressivos, batidas impactantes e presença de palco intensamente visual — uma verdadeira declaração de força que ressoou nos corações dos fãs.

Subway to Sally — Rock Medieval com Força e Tradição

Ícones do medieval rock, Subway to Sally entregaram um set vibrante, misturando instrumentos tradicionais — como alaúde, violino e gaita de foles — com energia roqueira contemporânea. Liderados por Eric Fish, os músicos conduziram o público a uma celebração ancestral, carregada de ritmo e dramaticidade.

Lacuna Coil — O Retorno Emocional

Após duas décadas, Lacuna Coil retornou ao palco do festival com seu gothic metal sinfônico cheio de intensidade emocional. Com o recém-lançado álbum Sleepless Empire, trouxeram novos temas na bagagem, mas também reviveram faixas essenciais como “Heavens A Lie” e “Enjoy the Silence”. O equilíbrio entre melodia sombria e força instrumental foi a marca deste retorno triunfante.

Blutengel — Dramaticidade Eletrônica em Forma de Música

A já tradicional banda Blutengel encantou com sua fusão de dark electro e visuais dramáticos, impregnando o ar com atmosferas de melancolia e paixão. Liderados por Chris Pohl, os músicos ofereceram uma performance que era tanto visual quanto sonora, elevando o ritual gótico a novas alturas.

Versengold e Rotersand — Do Folk à Eletrônica

Versengold trouxe o frescor do folk-rock, com melodias alegres e leveza rítmica que levantaram a multidão com um sopro de alegria. Em contraste, Rotersand mergulhou os presentes num universo de future pop, combinando beats intensos e sintetizadores melancólicos em uma experiência sonora pulsante e contemporânea.

Outros Atos Memoráveis

Além dos citados, o festival contou com uma escala de peso da cena gótica e industrial, como Heilung, Apocalyptica, Faderhead, Faun, Covenant, In Strict Confidence, Corvus Corax, Tanzwut, Leæther Strip e muitos outros. Cada um deles trouxe sua sonoridade única: desde ritmos ancestrais e rituais hipnóticos de Heilung (que realizou seus últimos shows antes de uma pausa por tempo indefinido), até cellos agressivos da fusão metal-clássica da Apocalyptica, ampliando ainda mais o caleidoscópio musical do evento.

A nossa galeria de fotos desse ano está cheia de momentos especiais dessa celebração. Confira aqui alguns dos cliques do festival.

 

Além da Música: Um Festival Multissensorial

O M’era Luna vai muito além dos shows. O ambiente vibrou com um rico programa paralelo, incluindo:

  • M’era Luna Academy: workshops de estilo — como “Knot & Braid” e “Patches” —, sessões de make-up, ioga sombria, dança no mercado, fashion shows góticos e debates (Crypt Talk) com autores como Markus Heitz, Dirk Bernemann e Christian von Aster.

  • Um mercado medieval com artesanato, comida de todas as partes do mundo e atmosfera renascentista  .

  • Leituras e painéis, como parte do programa cultural e dos workshops  .

  • Uma “Disco no Hangar”, que se transformou num baile noturno inesquecível já na sexta-feira, antes dos shows principais, segundo relatos de frequentadores  .

A experiência também envolveu o mercado de moda gótica, os stands temáticos, o camping comunitário e o ambiente familiar e acolhedor que marca o festival. Tudo extremamente bem organizado, bem pensado, uma experiência realmente positiva.

Um pouco mais sobre a história do festival

A primeira edição do M’era Luna aconteceu em 2000 e desde então se solidificou como um dos principais festivais da cultura alternativa do mundo. Realizado anualmente em Hildesheim, no norte da Alemanha, o festival atrai aproximadamente 25 mil participantes de diversos países, que se reúnem durante um fim de semana de agosto para celebrar música, estética, diversidade e um forte senso de comunidade.

Desde a sua fundação, o M’era Luna consolidou-se como um marco cultural da cena gótica, reunindo estilos musicais como gothic rock, metal alternativo, dark wave, electronic body music (EBM) e future pop. A diversidade de sons reflete a própria amplitude do movimento gótico, que, ao longo das décadas, incorporou influências do punk, do industrial e até da música eletrônica contemporânea. Para os participantes entrevistados, o festival não é apenas um evento musical, mas sobretudo um espaço de pertencimento: um encontro anual no qual milhares de pessoas compartilham experiências, afinidades e uma forma de viver que valoriza a autenticidade.

Um aspecto recorrente na narrativa é o sentimento de comunidade. Muitos participantes descrevem o festival como um reencontro familiar, em que as pessoas podem ser plenamente elas mesmas, livres de julgamentos ou preconceitos. Essa atmosfera inclusiva cria um ambiente marcado pela solidariedade, respeito e acolhimento, mesmo entre desconhecidos. O acampamento, parte essencial da experiência, reforça esse senso de coletividade. Os frequentadores destacam a convivência harmoniosa, as iniciativas de reciclagem e os esforços para manter o espaço limpo, revelando um compromisso não apenas com a diversão, mas também com a sustentabilidade.

A moda gótica, uma das expressões mais visíveis do evento, aparece em toda a sua diversidade: do gótico tradicional inspirado no romantismo e no período vitoriano, até variações mais modernas como o cyber gótico, o punk e o fetichismo. As roupas e acessórios, muitas vezes artesanais e elaborados, funcionam como uma forma de arte performática, permitindo que cada pessoa construa sua identidade visual de modo criativo e autêntico. Essa expressão estética não se limita apenas ao espetáculo visual, mas é vista como uma forma de empoderamento pessoal, oferecendo aos indivíduos a oportunidade de se apresentarem de acordo com sua verdadeira essência.

A maior estrela do festival, certamente, são as pessoas. Confira aqui uma galeria com alguns dos participantes desse ano.

O impacto cultural do M’era Luna é visível na maneira como ele desafia estereótipos. Enquanto a sociedade muitas vezes associa o gótico a escuridão ou morbidez, o público do festival o experencia pelo lado positivo, criativo e inclusivo do movimento. Para muitos, o festival funciona como uma válvula de escape diante da pressão do cotidiano, um lugar onde é possível viver intensamente o presente, cercado de música, amigos e experiências únicas. O equilíbrio entre introspecção e celebração é uma marca registrada: ao mesmo tempo, em que há espaço para contemplação, poesia e melancolia, há também momentos de euforia coletiva, dança e celebração da vida.

O festival é um reflexo da cena gótica contemporânea: múltipla, inclusiva e vibrante, marcada por uma estética rica, uma sonoridade plural e um espírito acolhedor. O verdadeiro valor do M’era Luna está em oferecer um espaço onde todos podem ser autênticos, vivendo sua individualidade sem medo, mas também encontrando força no coletivo.

A emissora francesa TV5 divulgou recentemente um documentário sobre a edição de 2024 do festival e aqui você pode acessar pra conferir mais sobre a vibe do local.