Noite Histórica no Rio De Janeiro
No último fim de semana o Rio de Janeiro foi presenteado com uma noite de fé e muito Hard Rock/Heavy Metal. A combinação inusitada (para a galera “trevosinha de shopping”), que insiste em dizer que White Metal não é metal de verdade, provou não precisar da opinião alheia e nem do apoio da mídia para cumprir seu objetivo: espalhar a palavra de Deus e seu poder por meio de Power Chords envenenados e pesados (sim, o trocadilho foi intencional). Para tal feito, estavam ali, encerrando sua turnê brasileira o Bride e o Stryper, duas das maiores lendas do White Metal mundial, além do Narnia, com seu Power Metal competente e cheio de influências diversas.
Com os portões do Sacadura 154 abrindo pontualmente às 18h15min, coube a este jornalista aqui, um fã de longa data de 2 das 3 bandas da noite (ao menos até o fim da noite), e minha esposa (aqui profissionalmente comportando-se apenas como fotógrafa até o fim dos shows, como dito pela própria), registrar mais uma vez o que o White Metal pode proporcionar aos seus admiradores.Após a passagem de som do Narnia, o que gerou um pequeno atraso no início do primeiro show, o que se viu foi uma verdadeira aula de carisma, peso e rock n’ roll, pois etava ali ninguém menos que o Bride.

Com menos de 1 ano de intervalo desde sua última vinda, o Bride subiu ao palco com o pé na porta e sua animação costumeira, com o clássico Rattlesnake encarregado de abrir os trabalhos. O vocal de Dale Thompson está melhor do que nunca, pois o cara canta e atinge notas agudíssimas com extrema facilidade e precisão. Seguramente o vocalista com o agudo mais potente da noite, como mostrado em seguida com Would You Die For Me e Beast (com um peso avassalador, reverberando os graves por toda a casa). Troy Thompson, o mentor criativo e líder musical da banda é um show a parte. Riffs certeiros e presença de palco impecável, aliado a um timbre clássico inspirado no hard setentista de guitarristas como Ritchie Blackmore, Jimmy Page e Billy Gibbons mostram o quanto Troy é subestimado na comunidade guitarrística. Justamente pelas influências citadas, seus fraseados não seguem a linha Shred, o que por sua vez torna sua abordagem mais melódica e musical.

A cozinha do Bride (bem mais entrosada do que da última vez que tocaram por aqui), formada por Nenel Lucena e Alexandre Aposan fornece o peso que esperamos de uma apresentação da banda, mesmo que fique bem explícito o fato de serem funcionários a serviço dos patrões Dale e Troy. A catarse foi constante na apresentação da banda, e provou que o Bride não é apenas um negócio de família (pra quem ainda não sabe, Dale e Troy são irmãos e fundadores da banda).

O disco novo deu as caras com uma música apenas, Million Miles, cantada a plenos pumões pelo público presente como se fosse um clássico. Por falar em clássico, logo após Scarecrow, sem nenhum tipo de aviso, Troy começa “aquele riff” que todos estavam esperando: Psychedelic Super Jesus e seu refrão chiclete botou o sacadura abaixo e fez todo mundo pular e cantar junto. O final apoteótico ficou por conta de Heroes (aqui numa versão mais Hard Rock), que não era executada desde 1989, num encerramento emocionante com uma canção querida pelos fãs. A lamentar, apenas o set curto, porém a noite estava apenas começando.

Após um intervalo de 20 minutos, os suecos do Narnia entraram em ação. Com seu Power Metal vigoroso e técnico, a banda deu o tom do que estava por vir com a fantástica Rebel, do último disco (o bom Ghost Town de 2023). A banda, para minha grata surpresa, possui uma sonoridade que não se restringe ao estilo promovido por bandas como Helloween e Stratovarius, pois ao ouvir seu som (especialmente ao vivo, como nesse caso) percebe-se claramente a influência de bandas de Prog Metal como Queensrÿche e Dream Theater como na pesadíssima No More Shadows From The Past, além de seus conterrâneos como Yngwie Malmsteen e H.E.A.T., como na canção MNFST, e até mesmo Asia como em Oceans Wide ( que só será lançada oficialmente em 2026).

Christian Liljegren é um vocalista estupendo. Equilibrando-se entre pedestais e caixas, com cuidado de não esbarrar acidentalmente nos outros músicos, deu uma aula de simpatia (algo surpreendente em se tratando de nórdicos, normalmente mais contidos e frios), técnica vocal e fé. Antes de começar, levantou as mãos agradecendo e entregando a Deus tudo que viria a acontecer dali pra frente, o que com certeza fez toda a diferença já que após uma curta pregação (que lhe arrancou lágrimas), no momento de seu apelo várias pessoas levantaram suas mãos em sinal de conversão a Cristo, o que lhe fez soltar um “God Bless ya” emocionado.

Com presença de palco impressionante, correu, pulou, sorriu e cantou de maneira que o estilo exige, sem ficar devendo nada às outras bandas que abraçam o estilo. O Narnia faz muito bem em acrescentar diversidade ao seu som, já que sobre o Power Metal pesa uma acusação (por vezes injusta e exagerada) de que as bandas são todas iguais.
O guitarrista CJ Grimmark sabe exatamente a hora de ser técnico, melódico, virtuoso, shred, sem errar na medida em nenhum momento. A cozinha da banda, formada por Jonatan Samuelsson e Anders Köllerfors é eficiente e precisa, contrastando bem com os climas e ambiências do excelente tecladista Martin Härenstam (que tem uma postura de palco muito parecida com David Rosenthal do Rainbow).

O show do Narnia serviu pra tirar de vez a desconfiança por parte do público, já que na última vez em que estiveram por aqui houve uma certa reclamação pelo uso de bases pré gravadas (leia-se playback) por parte da banda. Dessa vez foi tudo ao vivo, calando os críticos e entregando um show com instrumental poderoso, além de espiritualidade e adoração verdadeira.

A cadenciada Long Live The King foi anunciada em português quase perfeito por Christian, buscando interação com o público e recebendo resposta positiva de todos os presentes e prenunciando o fim da apresentação, que ainda contou com I Still Believe e seus clichês sonoros característicos á la Edguy e a alto astral Living Water fechando com chave de ouro o curto, porém correto, setlist.


Como resposta às orações antigas de muitos fãs de White Metal, o fechamento da noite ficou a cargo do “legendary” Stryper, como dito pelo vocalista do Narnia alguns minutos antes em sua apresentação.
Conhecido por parte do grande público aqui no Brasil por conta da inclusão de I Believe In You na trilha sonora da novela O Salvador Da Pátria, o Stryper é sem dúvida uma lenda do estilo. No melhor estilo “abelhinhas de Jesus”, com suas tradicionais artes visuais em preto e amarelo, o Stryper abriu o show com a energia lá em cima, tocando a clássica In God We Trust numa versão diferente ( versão do disco Reborn, intitulada I.G.W.T.). Revelation manteve o clima pesado, preparando caminho para a farofenta Calling On You emendada com a clássica Free, numa sequência de tirar o fôlego. A forma vocal de Michael Sweet impressiona e seus riffs são igualmente absurdos.


Os irmãos Michael e Robert Sweet tiveram momentos difíceis na última semana, pois em meio à turnê brasileira foram informados sobre o falecimento de seu pai. Mesmo assim, decidiram continuar a turnê e o que se viu foi a superação de ambos pela fé, tendo a música como instrumento para abençoarem e serem abençoados. Uma demonstração de fé, compromisso e profissionalismo.


A apresentação seguiu rendendo momentos memoráveis. A radiofônica Always There For You levantou o público como era de se esperar. As pesadas Divider, No More Hell To Pay e No Rest For The Wicked também deram as caras, mostrando que a banda valoriza seus trabalhos mais recentes.


Encaminhando-se para o final, The Valley, Yahweh (eleita pelo próprio Michael como a melhor música da banda) e Surrender (outro clássico) precederam Soldiers Under Command, com sua levada metal rápida. Howie Simon, apesar de discreto, se mostrou um substituto à altura de Oz Fox (que não veio por recomendação médica). Ainda que não possua o carisma e a presença de palco do titular, compensa com sua técnica e precisão, não comprometendo a apresentação e até mesmo brilhando em alguns momentos.

Perry Richardson (ex Firehouse) tem performance discreta, aparecendo em momentos pontuais. Sua qualidade como baixista é indiscutível e o timbre de seu instrumento faz uma boa cama para a avalanche sonora que ouviu emanando do palco.


Após uma saída rápida do palco, o já manjado retorno para o bis. Sing-Along Song e seus coros vocais característicos prepararam o momento mais aguardado da noite: To Hell With The Devil. Todo ser humano que ouve White Metal já imitou esses agudos ao menos uma vez na vida. Com certeza muita gente da igreja (como eu) levou bronca do pastor por escutar isso aqui, por isso não deixa de ser emocionante berrar “To heeeeeellll with the deviiiiiillllll” com Michael ao fim do show.

Ah, e pra fechar a turnê em grande estilo, o Narnia e o Bride se juntaram ao Stryper pro final da música, num momento de verdadeira celebração. Faltaram apenas Honestly e a já citada I Believe In You, mas é inegável que o público saiu de lá satisfeito.


Uma noite abençoada, regada a fé e música boa, com um público seleto que alimenta um estilo ignorado pela mídia, mas que se mantém vivo apesar de tudo. O mercado White Metal tem vivido um revival há algum tempo. Pra se ter uma idéia em 2026 teremos Petra e Whitecross, possivelmente no mesmo local. O White Metal é uma realidade e seu público fiel tem estado em êxtase com a vinda de suas bandas preferidas ao Brasil com mais frequência.

Duas bandas americanas, uma da Suécia, em solo brasileiro, pregando fé em Cristo, tocando Rock n’ Roll com técnica, peso e maestria. Você não precisa acreditar em Deus, mas a fé desse público, aliada ao amor pela música mantém as bandas relevantes e lançando trabalhos dignos e com qualidade acima da média. Tudo isso é fruto de muita fé!!
Vida Longa Ao Rei e que venham Petra, Whitecross e muitos outros!!!!

TEXTO POR DIOGO FRANCO e FOTOS POR MIDY CRIS
