As mulheres assumindo o comando.
A quarentena aqui no Estado de São Paulo começou a vigorar em 24 de março e somente agora algumas regiões terão uma certa flexibilização, quanto ao que pode voltar a funcionar e o que ainda tem que aguardar por mais um tempo. Passou-se mais de dois meses e durante esse período a nossa intenção aqui foi indicar alguns discos e contar um pouco de suas curiosidades. E hoje chegamos à trigésima sugestão. Já falamos de Heavy, Hard, Prog, AOR, Speed, Power, Thrash, Grunge, e hoje vamos falar do Gothic, que possibilitou as mulheres, principalmente as vocalistas, um protagonismo jamais visto antes. E por isso a nossa sugestão de hoje é o álbum “Mandylion” da banda The Gathering.
“Mandylion” é o terceiro álbum de estúdio da banda holandesa The Gathering e foi lançado em 22 de agosto de 1995 pela Century Media Records. É o primeiro álbum com a participação da cantora Anneke van Giersbergen. O disco foi gravado e mixado no Woodhouse Studios em Hagen, Alemanha, em junho de 1995 sob a direção de Siggi Bemm e Waldemar Sorychta.
Apostando que poderiam criar músicas em um estilo diferente de seus dois primeiros álbuns e se destacar, o The Gathering abriu ao lado da banda Theatre of Tragedy um caminho que seria determinante dentro do universo da música pesada. Ambas as bandas em 1995 possuíam vocalistas mulheres, e no caso dos holandeses, Anneke como a voz única. Claro que mulheres cantando em bandas não foi um fato novo, todos conhecemos os trabalhos de Lita Ford, Lee Aaron, Doro, e bandas como Girlschool e Rock Goddess só para citar algumas. Mas a coisa era muito diferente dessa vez. Pois as vozes de Anneke e Liv Kristine do Theatre of Tragedy, associadas ao então estilo gothic metal tomou um proporção muito maior e possibilitou que outras grandes bandas surgissem nos anos seguintes com bons discos de estreia, como Nightwish com “Angels Fall First” (1997), Within Temptation com “Enter” (1997), Lacuna Coil e seu “In a Reverie” (1999) e já no século XXI o Epica com “The Phantom Agony” (2003). Se o death metal dominou a primeira metade dos anos 90, a segunda parte da década o gothic metal foi o estilo predominante.
A adição de Anneke van Giersbergen à banda significava que o The Gathering de repente parecia ser muito original para a época. Você não encontrará muitos lançamentos na linha gothic, doom ou mesmo no death metal durante o ano de 1995 com uma vocalista mulher no vocal principal. O que hoje consideramos bem comum naquele tempo foi um desafio, que a gravadora Century Media apoiou. Um belo clipe foi gravado para a faixa “Leaves” que teve repercussão em programas especializados em heavy music nas TVs Europeias. Ele também fez parte do VHS “A Declaration of Independence”, lançado em 1997 pela gravadora que além do The Gathering, contava com nomes como Emperor, Samael, Moonspeel, Nevermore entre outros.
Ainda a respeito da promoção de “Mandylion”, dois singles foram lançados. O primeiro para “Stranges Machines”, com a mesma versão do CD e uma editada, além de versões ao vivo para “In Motion #1” e “Leaves”, capturadas em 8 de outubro de 1995. O segundo single chamado “Adrenaline/Leaves” foi lançado em abril de 1996, e além dessas duas faixas possui uma versão editada para “Leaves” e a música “Third Chance”, que faria parte do então futuro álbum da banda chamado “Nighttime Birds” em 1997. Importante lembrar que esse single foi lançado justamente para promover a participação do The Gathering nos festivais Dynamo Open Air e Pink Pop em 25 e 26 de maio, respectivamente. O álbum “Mandylion” chegou ao número 20 da parada holandesa de álbuns.
Tanto minha cópia em CD de “Mandylion”, como os dois singles e o VHS original de “A Declaration of Independence”, eu adquiri na Hellion Records, na Galeria do Rock, que certamente era uma das lojas que mais investiam em material importado da Century Media naqueles dias. Obviamente que aqui o clipe de “Leaves”, assim como os promos ao vivo de “Strange Machines” e “In Motion #2”, foram completamente ignorados pelos já escassos programas de clipes e também pela MTV nacional.
O respeito que cantoras como Tarja, Simone Simmons e Floor Jansen se deve, em parte, ao sucesso que Liv Kristine com o Theatre of Tragegy (em outra oportunidade falaremos mais a respeito dessa banda) e principalmente ao The Gathering de Anneke van Giersbergen, que abriram fronteiras e conquistaram com muito talento um espaço que foi ocupado por inúmeras bandas com vocais femininos e que recebem tratamento equivalente as bandas formadas só por homens, que se ainda tem muitas coisas a serem melhoradas, já é bem melhor do que a 25 anos atrás. Aproveite os links, e vamos encarar mais um mês, aguardando e torcendo para que as coisas voltem ao normal muito em breve. Até a próxima.
Dados:
Lançamento: 22 de Agosto de 1995.
Selo: Century Media Records (Europa)
Produção: Siggi Bemm, Waldemar Sorychta e The Gathering.
Singles:
– “Stranges Machines” em outubro de 1995;
– “Adrenaline/Leaves” em abril de 1996.
The Gathering:
Anneke van Giersbergen – vocal
Frank Boejen – teclado
Hugo Prinsen Geerligs – baixo
Hans Rutten – bateria
René Rutten – flauta/guitarra
Jelmer Wiersma – guitarra
Tracklist:
1.Strange Machines
2.Eléanor
3.In Motion #1
4.Leaves
5.Fear the Sea
6.Mandylion
7.Sand and Mercury
8.In Motion #2