Hey bangers! Vocês me acompanharam nos 3 dias de Summer. Me acompanharam falando de fila para autógrafo, comidas baratas (ou nem tanto), implorando para todo mundo se besuntar de protetor solar, porque o sol castigou cada pecador sob a terra, me acompanharam entrando em rodas (isso, no plural), fazendo as maiores loucuras para acompanhar um show, ou um ídolo. Por mais que eu estivesse ali como profissional, o olhar é sempre de fã. Nossa história nos trouxe onde estamos, escolhendo fazer o que amamos, porque amamos. Nunca um show do Within Temptation, será mais um. Nunca! Jamais um show do Rei Diamante com Mercyful Fate será apenas um show. Aquilo é uma aula de como ser e permanecer sendo uma lenda inquestionável. E tudo isso acontece graças à nossa bagagem, o que torna o nosso olhar apaixonado.
SUMMER BREEZE DIA 01
A sexta, 26, seria com certeza o dia mais vazio. Difícil um show acontecer em horário comercial. Mas me impressionou muito a quantidade de pessoas que se esforçaram para dar um jeito. A banda Nestor – que para quem não tem tanta intimidade, é um Hard rock bem estilo Van Halen – abriu os trabalhos às 11h no Ice Stage e já tinha uma plateia considerável. Era tudo muito grande! Os palcos, as estruturas, a quantidade de bebedouros espalhados pelo complexo do Memorial da América Latina, barraca de comida, bebida, água, ambulantes na pista… tudo era muito. E de cara o que mais me encantou foi: temos aqui um festival em que o foco é a música! Não tinha tirolesa, roda gigante, montanha russa. Não me vem a mal, isso tudo é uma delícia, mas num parque de diversões. Quando eu quero assistir a um show, eu quero assistir a esse show da melhor maneira possível. E o Summer Breeze pensou nisso. Pensou na galera que gosta de shows e encheu esses palcos de forma ininterrupta.
Cultura Três tocou no Sun Stage. Senhor Paulo Junior sempre vai merecer a minha atenção, e por causa dele enfrentei meu primeiro desafio: a passarela. Tão íngreme, mas tão íngreme, que eu pensei em desistir. Mas aí pensei que eu perderia tanta coisa boa naqueles palcos que continuei. Fiquei nas bandas e nas pernas e bumbum durinhos que eu teria ao término dos 3 dias de festival. Nesse palco aconteceram tantos ótimos shows, mas ainda não consigo fazer mitose e me dividir em “várias Amandas”. Gostaria? Claro, mas não deu. Além do Cultura Três, que inaugurou o Sun Stage, Dr. Sin; as lendas do new wave of British heavy metal, Tygers of Pan Tang; o carnavalesco Massacration; The 69 Eyes – que curtiram os 3 dias de festival, e assistiram parte do Mercyful Fate da plateia, como qualquer mortal e os pesadíssimos Biohazard. Nesse palco, por conta das circunstâncias, consegui assistir apenas o final do Cultura Três, que fez um show incrível, pesado e com muita energia; Tygers of Pan Tang que mostraram que a idade não importa nadinha, trazem um show divertido e bem nostálgico e The 69 Eyes, que foi como reviver parte da adolescência. Aliás, esses shows são ótimos, não é?! Quando você parece ser transportado para algum lugar que há muito tempo você não visitava.
Desse lado da passarela, ainda tínhamos o Waves Stage, que era um palco menor, onde tocaram bandas incríveis também. Clash Bulldogs abriu o palco por volta do meio-dia, seguido de Alchemia, Electric Mob, Zumbis do Espaço, Minipony e Sioux 66. Por causa dos horários de outros shows, acabei acompanhando apenas o Electric Mob, que fez um show fantástico, digno de palco principal. Como empolgação, energia, alegria e um ótimo desempenho de todos!
Antes de atravessar a desafiadora passarela, deste lado tivemos também os concorridos Sign Sessions, que era a oportunidade de autografar e tirar uma foto com o seu ídolo. As filas mais disputadas foram Gene Simmons e Sebastian Bach. Uma grande sacada da organização, que sabe que o fã quer muito poder chegar perto de seu ídolo.
Passarela atravessada: Ice Stage e Hot Stage, os dois maiores e principais palcos do evento. Hot abriu com Flotsam & Jetsam por volta do meio-dia. Para quem não sabe essa é a banda que apresentou senhor Jason Newsted ao Metallica. Emocionada por me lembrar do primeiro mosh que eu participei no festival. Som pesado, plateia mega animada, senhor Knunston respondendo a altura e chamando o pessoal para a grade e para agitar o máximo que conseguisse. O calor estava forte, mas com o sol encoberto ficou um pouco mais fácil. Com o final do show, o palco vizinho, Ice, já acende e o queridíssimo Edu Falaschi entra desfilando clássicos de sua fase no Angra, já adiantando a tour Rebirth 20th Years. El Dorado, single do álbum atual e homônimo deixou a plateia emocionada. Bleeding Heart começou. Eu chorei, o menino ao meu lado chorou, segurando a mão de (acredito eu) sua namorada, um homem com um copo de cerveja chorava, gritando a letra, jogando a própria cerveja na cabeça. Uns cantavam a letra original, outros a versão em português da banda de forró, Calcinha Preta. Edu, com toda a sua simpatia, conversou muito com o público, que derretia num sol de 32°C, que pareciam 50°C. Pane nos instrumentos. Sem nem pestanejar, acapella, Falaschi começa “Faça elevar o cosmo do seu coração…” e a plateia respondeu a plenos pulmões: “Saint Seya”! Tudo consertado e continuamos com Rebirth, até chegar ao final apoteótico com Nova Era.
O Ice se apaga e Black Stone Cherry acende o Hot com um dos shows mais curtidos daquele dia. A plateia dançou, abriu rodas “familiares”, onde apenas pulavam.
O Ice se iluminou novamente e os veteranos do thrash, Exodus sobem ao palco. E o primeiro mosh insano acontece. Show recheado de clássicos. Poucas bandas têm a coragem e privilégio de abrir o show com um dos seus maiores sucessos, Bonded By Blood. A roda aberta era quase da largura do palco. Um ritual, um transe. E eis que eu, um pontinho baixinho de preto decido entrar para “brincar de ciranda” também. Os caras emendaram Blood In Blood Out, aí tudo virou poeira. Pulos, gritos, letra da música aos urros e um murro no rim que pegou em mim e me fez sair para descansar um pouco. Saí para tomar uma água, para filmar mais de longe… o desfile foi longe e a galera não parou um segundo sequer.
A poeira abaixa, os ânimos se acalmam, o sol começa a querer dar uma trégua e uma leve brisa sopra junto com a entrada do queridinho Sebastian Bach, ou como ele mesmo gosta de ser chamado aqui no Brasil, Tião. O palco Hot se enche de amor, e explode quando Tião embala os casais com Wasted Time e By Your Side acapella. I Remember You fez todas as meninas e mães que eram meninas na época chorarem rios, até explodirem pulando no grand finale Youth Gone Wild. Continuando com o amor no ar, mas agora no Ice Stage, Mr. Big assume os corações e traz todo o virtuosismo de Paul Gilbert e Billy Sheeran à tona, numa harmonia que apenas eles conseguem. A plateia aproveitou bastante, mas inegavelmente se agitou mais com os hits Take Over, To Be With You (que foi cantada por todos em coro) e Wild World.
Tudo se apagou no Summer Breeze. Uma luz vermelha, nefasta acende o Hot Stage. É ele que vem chegando, The Demon, Gene Simmons, que já abre seu show com trechos da intro de Radioactive, clássico de seu álbum solo de 1978. O setlist já era conhecido por grande parte dos fãs, a maioria das músicas já haviam sido tocadas à exaustão pelo Kiss um ano antes, em sua Final Tour, um ano antes, aqui em São Paulo. Parasite e 100.000 Years foram dois presentes. Uma demo presente em seu “The Vault” (uma caixa com suas demos – muitas descartáveis – vendida em formato de cofre), “Are You Ready?” também foi executada. Com um jeito despojado e sem produção de show (ao contrário do que acontecia com o Kiss), Gene deixou claro em diversas falas, que esse show era 100% ao vivo, sem ponto, sem gravações pré-feitas, e pela quantidade de erros da banda, sem ensaio também. Em I Was Made For Love You, uma garota foi chamada para cantar, deixando alguns fãs indignados, porque o resultado não foi dos melhores, mas talvez eles não tenham entendido que a intenção do linguarudo era se divertir (e pegar todo o dinheiro que ele conseguir), concluindo a festa em Rock N Roll All Nite, com muitas garotas no palco dançando e cantando. 
FOTOS POR IAN DIAS – DIA 1
 SUMMER BREEZE: DIA 02
O dia dedicado à tradição e ao lirismo do gótico. Nesse dia o sol resolveu transformar todos os vampiros e vampiras presentes naquele complexo, em cinzas. Eu cheguei ao festival sendo pálida e saí sendo praticamente uma surfista com parafina no corpo. Montes e mais montes de princesas góticas com saias esvoaçantes e espartilhos que espremiam até a última vértebra, de mãos dadas com príncipes de sobretudo e um desmaio eminente. Os 4 palcos recheados de atrações incríveis, que valiam a pena cada bolha no pé por correr de um canto a outro.
O Waves Stage abriu o segundo dia de festival com uma iniciativa bem bacana: os alunos da School of Rock fizeram sua estrela num palco profissional, mostrando que o bastão está sendo passado; emendado com Rage In My Eyes; About2Crash; Noturnall; Nite Stringers; Eminence; Jeff Scott Soto. Os shows foram ótimos e nomes como Thiago Bianchi, do Noturnall e Jeff Scott Soto passearam e aproveitaram o festival também como público. Com o calor escaldante do dia, estava impossível cobrir mais de dois shows sem voltar à sala de imprensa para se hidratar e recarregar a energia. O próprio aparelho de celular estava pedindo socorro por superaquecimento.
O Sign Sessions mais concorrido do dia foi o da banda de gothic metal Within Temptation, com a rainha Sharon Den Adel, que recebeu seus fãs de braços abertos e chegou a se emocionar diversas vezes com o carinho de todos eles. Uma menina levou uma carta, que fez a Ice Queen chorar de tanta emoção. Dentro do Metal Market, que era o anfiteatro do Memorial da América Latina, aconteciam exposições, vendas de LPs, CDs, roupas… arte em geral. Tudo relacionado ao festival. Até tatuagem você poderia fazer naquele lugar!
O Sun Stage sediou shows incríveis, inclusive um que está morando no meu coração. Eu amaria viver aquele momento em looping. The Night Flight Orchestra levantou voo às 16:30, logo depois do Jelusick, as lendas do Korzus e o impressionante Sinistra. Acontece que Night Flight Orchestra tem uma aura de festa na praia, mas não aquele luau sem graça, com um chato tocando Legião Urbana e Jack Jhonson. Aquelas festas animadas em piers iluminados e lindos. Um som dançante que me fez esquecer de tudo numa pista imaginária liderada por Björn Strid, do Soilwork. Esse show poderia ser resumido em uma frase “vamos nos permitir!”. Não vejo explicação melhor. Depois dessa epifania, Dark Tranquility trouxe uma das rodas mais incríveis vista nesse palco e In Extremo, que fez a galera cantar em alemão, a plenos pulmões.
Passando a passarela nos separamos com os dois gigantes: Ice e Hot Stage. E o que nos esperava hoje, não era pouco. As meninas do Nervosa abriram os trabalhos no palco Ice e incendiaram o público, que abriu rodas e mais rodas, mostrando que ele já estava com energia às 11h. O Hot se acende e o massacre do Forbidden começa. Foi meu primeiro mosh do dia. E olha que sábado eu queria tomar cuidado, para poder estar inteira para me encontrar com a rainha. Teve uma pequena confusão, porque pisaram na mão de um garoto quando ele foi pegar seus óculos que caíram no chão, durante a roda. É bom ressaltar, que é sempre bom você não entrar em moshpits com óculos ou qualquer acessório que possa cair, porque a probabilidade dele se perder é grande. Fora essa questão, não aconteceram grandes tumultos. A plateia vai dispersando um pouco, à procura de sombras e bebedouros. O calor está no auge da tortura. Hora em que os alemães do Gamma Ray, liderado pelo senhor Kai Hansen, sobem ao Ice Stage já para me fazer chorar com Land of the Free, clássico do disco homônimo de 1995. E esse foi só o começo da epopeia de clássicos e conversas calorosas de Kai com o público. Um show impecável, que se encerra com uma das minhas favoritas Send Me A Sign, do álbum Powerplant de 1999.
Momento de pura nostalgia adolescente no Hot Stage, com a entrada do Angra. Para quem esteve presente nos 3 dias, reparou que o setlist era parecido, muitas vezes até repetindo as mesmas músicas, como foi o caso de Rebirth, por exemplo. Mas os fãs do Angraverso não ligam para isso, tanto que com um calor descomunal de 36°C, a plateia estava lotada, pulando e se divertindo muito com Rafael Bittencourt, “il mago” Fabio Lione, Marcelo Barbosa, Felipe Andreoli e Bruno Valverde, que por sinal, emocionaram muito quando cantaram Vidas Secas. Foi um momento memorável. E continuando com a saga dos italianos, Cristina Scabbia e o Lacuna Coil, chegaram para encantar e incendiar o público do Ice Stage. Já ganharam meu coração abrindo o set com Blood Tears Dust, emendando com Reckless. Dupla matadora para mim. Algumas rodas se abriam, e Cristina interagia muito com a plateia, achando graça do esforço de todos para dizer alguma coisa em italiano. Simpática, disse que estava muito feliz em estar de volta e fizeram um show standard, um show para você conhecer o melhor da banda. Até a versão maravilhosa de Enjoy the Silence, hit eterno do Depeche Mode, entrou no set, o que me deixou com o coração quentinho.
Eis que os vikings invadem o Hot Stage. Os suecos do Hammerfall chegam tocando Brotherhood e levando toda a plateia para um lindo passeio em Valhalla. Clássicos e mais clássicos animaram o público e Joacim Cans nem se mostrou tão incomodado com o calor, apenas preocupado. Sempre entre uma parada e outra, ele pedia para todos se hidratarem porque o sol estava terrível. A noite começa a cair. Testes de explosões e luzes começam a ser feitos no Ice Stage. É o Epica, da princesa do metal, Simone Simons que está chegando. Eles sobem ao palco exatamente às 18:30. Não tinha ouvido tanta gritaria até aquele momento. Os devotos de Santa Simone são fervorosos e cantaram todo o repertório, letra a letra. Eu, particularmente fiquei desesperadamente feliz com Skeleton Key, Storm the Sorrow, que trouxe a maravilhosa Cristina Scabbia novamente ao palco para um dueto emocionante e Cry for the Moon. Mas todo o set foi irretocável. Simone e todo o Epica foram muito aplaudidos, e ela prometeu incluir o Brasil nessa próxima turnê. Vamos esperar.
Eis que todos se aglomeram em frente ao Hot Stage. É hora dela, da rainha, da Rainha de Gelo, Sharon Den Adel, com o Within Temptation. Nessa hora eu me desliguei do mundo. Não queria saber de mais nada. Eles já entram com o peso de The Reckoning. A Rainha com a sua coroa, envolta numa bandeira do Brasil, com o logo do Summer Breeze, foi sua maneira de homenagear quem tanto a celebra. Um casal estava seguindo a banda por toda a América Latina e disseram não cansar de se surpreender e se emocionar. Antes de cumprimentar seus súditos, Sharon ainda emendou Faster e Bleed Out. Durante todo o repertório vi minha vida passar como um filme perante meus olhos. Então apareceu Never – Ending Story, numa versão acústica e eu desabei. Minha adolescência foi ouvindo o disco Mother Earth, e minha mãe amava essa música. Foi muito especial. Ice Queen foi limada do set, por conta da parada do show para que uma fã fosse atendida pelos bombeiros e retirada da plateia. Den Adel fez questão de parar o show e pedir para que as pessoas dessem passagem para a equipe de bombeiros. Passado o problema, a banda retomou de onde parou, mas isso custou o hit de maior expressão aqui no Brasil. Mas saúde e bem-estar sempre em primeiro lugar! O encerramento foi com a já tradicional Mother Earth.
O segundo dia trouxe um ar de nostalgia muito grande para mim. Rever parte da minha história através de músicas é um privilégio. E é muito cômico quando você enxerga a própria vida como uma história distante da realidade. Me lembro de ser introvertida, tímida, de achar que aquela vida que eu levava era um inferno e hoje, eu simplesmente amaria estar ali novamente.
FOTOS POR IAN DIAS – DIA 2
SUMMER BREEZE: DIA 03
Esse com certeza foi o dia mais difícil de traçar qualquer tipo de estratégia de cobertura. Todos os shows eram maravilhosos, todos eram imperdíveis, todos eram incríveis. Eu queria assistir todos eles. Sem exceção. Mercyful Fate era só a ponta do iceberg, tinha muita coisa maravilhosa além deles. Óbvio que o fato de o King Diamond não dar as caras por aqui com o Mercyful por 28 anos é motivo suficiente para ansiedade, mas tinha também Carcass, Overkill, Anthrax, Amorphis, Torture Squad, Ratos de Porão, Troops of Doom, Battle Beast… era tanta coisa boa, que estava quase impossível escolher como começar.
O Waves Stage começou o dia com os vencedores do Summer Breeze New Blood, Santo Graal, que faz um heavy sinfônico com uma qualidade incrível. Outros que também merecem um palco maior. Foram seguidos pela revelação do metal nacional, Hellish War (vale a pena ficar de olho nesses meninos, porque eles são muito bons), John Wayne, Axty, Kryour e a lenda Jairo Guedes, primeiro guitarrista do Sepultura, com o seu Troops of Doom, que tocaram músicas do álbum de trabalho, além de clássicos do Bestial Devastation e Morbid Visions. Show para fã.
Nesse dia, na HorrorCom, presente no saguão da marquise do Memorial da América Latina, encenou uma batalha com cavaleiros medieval, além de vender artigos inspirados na época, além do famoso hidromel do Tolkien. Também tinha a possibilidade de morrer de susto por palhaços malditos, num labirinto sem fim, com uma gritaria ensurdecedora e nenhuma luz para enxergar um palmo a sua frente.
O Sun Stage não ficou atrás com as atrações e selecionou o que havia de melhor também. Seus trabalhos começaram com Torture Squad, que teve participação da lenda Leather Leone, vocalista do Chastain nas músicas Warrior e For Those Who Dare, que é um cover do Chastain. Logo depois foi a vez do performático Battle Beast, que fez um show para adultos e crianças. Aliás, uma menininha com uma tiara de chifres e protetores auriculares, cantava o show na íntegra. Aliás, a vocalista Noora Louhimo interagiu bastante com a garotinha. E então a lenda Ratos de Porão entra para tacar fogo no lugar. Gordo reclamou um pouco do som, dizendo que se eles fossem gringos teriam feito melhor. Fato é que sem ser o 69 Eyes um dia antes, que simplesmente parou de tocar por uma pane no palco, ninguém mais fez alguma queixa, pelo menos não ao vivo. Death Angel entrou para fazer uma das rodas mais legais que eu já vi. Era o terceiro dia e já era a penúltima banda desse palco e as pessoas não demonstravam cansaço algum. Elas tiraram força de algum lugar muito íntimo para aproveitar tudo aquilo. Era fascinante de ver. E a banda respondia a altura Mark Osegueda, vocalista, disse que “era um enorme prazer estar num lugar onde todo mundo estivesse curtindo tanto, e que voltariam muito em breve”, depois disso ele encerrou com o clássico Thrown to the Wolves, de 2004, do álbum The Art of Dying.
Para encerrar as atividades no Sun Stage, Amorphis entra às 18:30, o que me causou o maior mal-estar desse evento, pois esse era um dos shows que eu mais esperei, e estava no mesmo horário do Anthrax. Quer maldade maior? Logo de cara abriram com a música de trabalho, Northward, o que fez o público vibrar e já entrar num transe hipnótico incrível. E eles se mantiveram sob o jugo da banda, já que emendaram The Sky is Mine e The Moon. Set bem dividido entre clássicos e músicas novas, o auge da resposta do público foi em Black Winter Day, lá dos primórdios, do álbum Tales From the Thousands Lakes, de 1994. Encerraram com The Bee, depois a gravação usual, My Name is Night. Apoteótico, sem defeitos. Digno.
Atravessando a passarela para os palcos principais. Adianto que esse domingo eu chorei o que eu podia e não queria. Adoraria que todos os shows que eu esperava assistir estivessem em horários compatíveis, seria ótimo ter conseguido assistia todos, mas se tem uma coisa que o Summer Breeze ensina a fazer (na marra) é escolher. Quando você está deste lado da passarela tudo bem, porque quando o Ice apaga, o Hot acende e um não anula, nem atrapalha o outro. Mas quando o que você quer ver é simultâneo deste lado e do outro da passarela, você fica com raiva de não poder se serrar ao meio.
O dia no Ice Stage começou às 11h, com o palco  iluminado com Eclipse, que fez um show para uma plateia considerável, apesar do horário e do cansaço dos dias anteriores. O sol castigou desde cedo. Logo em seguida, o Hot Stage acendeu com While She Sleeps. Ótima resposta do público que estava dançando e fazendo rodas “familiares”, apenas com dança e pulos. Era notório que as pessoas estavam começando a guardar forças para o que vinha mais tarde: uma sequência matadora, que culminaria n’O Rei!
Ice Stage iluminado, e a lenda do thrash de New Jersey, Overkill sobe ao palco já com a porrada Scorched, que agitou todo mundo, criando um mosh insano, que levantou poeira do chão. David Ellefson (ex-Megadeth) tocou com a banda, inclusive durante os solos de bateria e baixo, fez um trecho de Peace Sells, para delírio de todos os presentes. Encerraram com Fuck You, um cover do Subhumans. Ice Stage apaga, enquanto um pequeno teste de aparelhagem era feito no Hot Stage. O tempo serve para o público tentar se proteger um pouco do sol, em qualquer sombra que encontrasse, reabastecer os squeezes de água, comprar mais cerveja, ou um boné… o domingo estava bem complicado para os que não são tão íntimos do sol. Calor batendo quase 36°C quando os suecos e performáticos do Avatar subiram ao palco. E para quem pensou que esse calor afastaria os nórdicos de qualquer coisa, se enganou. O palco estava mais quente que nunca. Um pedido de casamento foi feito durante o show, e quando Johannes Eckerström, vocalista, percebeu a cena, disse que “gostaria do convite para a festa”. Eles abriram o show com Dance Devil Dance, o que literalmente fez a plateia abrir uma roda imensa e dançar como num sabá. Era um ritual. Johannes tocou seu piano em Tower, que emocionou muita gente e encerrou com Hail the Apocalipse. Show perfeito, sem maiores problemas além do calor.
Aliás, quem sofreu com o calor foi o pessoal do Carcass, que subiu no palco Ice ao final do Avatar. Os ingleses pararam o show algumas vezes para colocar gelo na cabeça e, constantemente pediam para o público se hidratar, porque o calor estava cruel demais e nada saudável. Eu mesma estava com uma camiseta mais fechada e branca de tanto protetor solar espalhado, porque o bronzeado do dia anterior, já estava bem forte. Era preciso tomar muito cuidado! O Carcass abriu com o clássico Burried Dreams, que já fez um mosh aparecer, mas em Black Star, a maior roda que eu tinha visto até então, naquele dia foi formada. E como eu estava na missão de caçar e entrar no maior número de moshes possível, fui. Eu e a minha capacidade de tomar decisões controversas. Não sofri nenhum hematoma, nada além dos encontrões habituais…, mas a roda era gigante, com algumas mulheres pulando e cantando as músicas, alguns homens ao centro apenas com os braços abertos empurrando o próximo. Se tivéssemos com um drone, com certeza veríamos um balé.
Ao final desses monstros, precisei de uma pausa. Meu celular superaqueceu, eu superaqueci, meu cérebro superaqueceu. Assisti Killswitch Engage em paz, no Hot Stage. Show padrão: sem erros, com entusiasmo e boa resposta da plateia, que começou a não querer mais sair de onde estava. Porque além dos shows serem ótimos, os headliners estavam chegando.
E com o cair da noite, às 18:30, no Ice Stage, as lendas representantes do Big 4, Anthrax entra no palco com um desfile de clássicos que poucas bandas podem fazer. Among the Living abriu a porta para emendar com Caught in a Mosh. Eu já estava gritando desde que vi Benante subir na bateria. A todo momento Scott chamava o público para o que eles chamam de “war dance”, que é a formação da roda, antes do mosh começar de fato. Belladona saúda todo o festival e emenda Madhouse, Metal Thrashing Mad, NFL e Keep it in the Family. Mais uma conversa contando como “eles estão felizes de voltar para o Brasil, num festival tão bacana, onde eles estão encontrando grandes amigos”. Antissocial, cover do Trust (banda de punk francesa que teve como bateristas Nicko McBrain e Clive Burr) começa a ensandecer ainda mais o público que estava quase derrubando as estruturas construídas. Um menino, que deveria ter 6 anos, no máximo, estava gritando a letra, enquanto duas pessoas o carregavam nos ombros. Paixão, senhoras e senhores. A paixão pela música, por uma banda, nunca será explicada. Viva isso, porque é uma dádiva. Scott Ian e Joe Belladona anunciam a entrada de um amigo para a próxima música: Andreas Kisser caminha para o centro do palco com I Am The Law. Explosão do público que aumenta a intensidade das “war dances”. In the End tem um anúncio de que será dedicada a Ronnie James Dio, Medusa passa emendada e Got The Time começa para levantar o que ainda existe de poeira naquele chão. Quando o refrão começa “time, got the time tick tick tickin’ in my head…” as pessoas simplesmente se esqueceram de quem elas eram. A “war dance” acabou e o mosh pit mais insano da noite aconteceu: era grande, brutal, rápido. Não dava para entender de onde partia tudo aquilo. AIR passa na mesma intensidade até começar um de seus maiores hits: Indians. Os fãs estavam em êxtase e tristes ao mesmo tempo, pois sabiam que aquela celebração toda estava chegando ao fim. “Cry for the Indians”, todos gritavam a plenos pulmões. Aquele menino que era carregado por duas pessoas, agora estava sendo lançado para o ar por um grupo. Charlie Benante para a música no meio e Scott vem ao centro. Ele pede “para que as pessoas parem de filmar um pouco, porque aquilo é um show de thrash metal, e as rodas deveriam acontecer de verdade, os ‘bate-cabeças’ deveriam acontecer de verdade, na grade”, entre outras coisas mais explícitas. E incrivelmente muitos celulares abaixaram, e uma roda ainda maior que a anterior se abriu, com uma “war dance” mais cadenciada e forte e, sem entender até agora como surgiu um sinalizador no meio dessa roda.  O efeito foi lindo, mas reforço que eu não entendo como um sinalizador entrou num festival. Ao som de Long Live Rock n Roll, a banda se despediu.
Antes do Ice Stage apagar, a bandeira gigantesca que cobria o Hot Stage, com o nome Mercyful Fate já estava pendurada. O público gritava, urrava. Afinal, foram 28 anos sem essa banda dar as caras por aqui. Ansiedade, uma vontade de respirar mais forte, um grito entalado na garganta… era o que descrevia a vontade de ver King Diamond novamente por aqui com a banda. E pontualmente às 20:05 foi o que aconteceu. Antes da cortina cair, os sinos macabros davam o tom da missa negra do que é o personagem mais bizarro do Rei desde o início da banda: the num.
Cortinas no chão, primeiros acordes de The Oath – coração disparado – King Diamond entra para o que foi uma das noites mais históricas do ano. E ainda estávamos em abril! Seu tom único e interpretação peculiar, fez seus súditos segurem cada passo d’O Rei pelo palco. Era hipnótico. E os clássicos não paravam A Corpse Without Soul, The Jackal of Salzburg, A Curse of the Pharaohs… todas elas com uma pequena introdução para apresentação da música. Ele fez questão de apresentar cada uma, já que muitos de seus seguidores que estavam ali, sedentos por sua presença, não eram nem nascidos na época de sua última passagem com o Mercyful Fate por aqui, meados de 1996, no Monsters of Rock. A Dangerous Meeting chegou como um aviso, emendando com Doomed By The Living Dead. Uma pausa. As luzes diminuíram e o dedilhado começou, era Melissa chegando para emocionar a todos. Como foi incrível assistir a essa música ao vivo. Como foi incrível viver para presenciar esse momento tão especial. Black Funeral entrou para melhorar os ânimos e Evil começa para mostrar o que uma lenda é capaz de fazer. Em todos os shows dos dois palcos principais, enquanto um estava desativado, os telões eram emprestados ao show vizinho, ou seja, os shows sediados no Hot Stage eram transmitidos também pelos telões do Ice Stage, assim o show tinha um alcance maior, e vice-versa. Mercyful Fate e seu Rei estavam no Hot, mas uma roda ritualística e gigantesca foi aberta em frente ao palco Ice. Evil ensandeceu o público que há anos esperava por esse momento. A missa estava chegando ao seu fim quando a bateria deu sua primeira chamada para Come to the Sabbath. A massa pulava, dando a impressão de tremer o chão. E foi isso que aconteceu: o chão tremeu com o poder de King Diamond e o Mercyful Fate. O encerramento se deu com Satan’s Fall. Nada mais apoteótico e memorável que isso.
Em resumo, todos os três dias foram perfeitos. Por questão de preferência, sábado e domingo foram mais especiais, com domingo sendo de longe o mais difícil de organizar, por ter uma infinidade de atrações que eu gostaria de assistir.
Em questão de estrutura, o lugar é grande então o preparo para grandes caminhadas é inevitável. Definitivamente é um festival que exige conforto para os pés, caso contrário eles não sobreviverão ao primeiro dia. Os bebedouros estavam espalhados em todo o complexo e a quantidade deles era satisfatória. Água normal e gelada. Ninguém teve sede… Stands de comidas e bebidas também eram bem espalhados e bem localizados nas duas áreas do complexo. Os valores eram de festival – nada é barato como na rua, nem tão caro como no aeroporto. Fica a seu critério decidir se R$18,00 numa lata de Heineken é absurdo ou não. Roupas, acessórios, discos, livros… tudo isso era encontrado no Metal Market para aumentar ainda mais a experiência musical do fã, ainda mais com o Sign Sessions acontecendo, você teria a possibilidade de encontrar um item único para o seu ídolo assinar.
Toda a experiência Summer Breeze é intensa, cansativa e extasiante. Se você procura por um festival que prese música e não ambiente instagramáveis, esse é o seu lugar!
A equipe do festival já marcou o próximo encontro, 03 e 04 de maio, com um esquenta para o dia 02. Os blind tickets já estão à venda. Eu não vou perder e aconselho a você fazer o mesmo.

Até o próximo Summer Breeze!

Texto por Amanda Basso.

FOTOS POR IAN DIAS – DIA 3