No domingo passado, o Headbangers Brasil teve a oportunidade de cobrir a Festa Goth Box e dessa vez, nosso amigo Flávio Farias foi conferir o evento e ele nos trás como foi o acontecimento Gótico do ano, na cidade maravilhosa (bem, pelo menos por enquanto.)
Amadurecer com sabedoria. Essa é a frase que melhor define a noite deste domingo, dia 23 de outubro de 2022, no Espaço Sacadura 154, no centro do Rio de Janeiro.
Para quem viveu os anos 80 e toda sua complexa gama de sonoridades, assistir ao show de duas bandas britânicas que foram (e continuam sendo) essenciais para a história do British Rock é, de fato, um privilégio.
Pela primeira vez compareci ao Espaço Sacadura 154, e a experiência foi muito positiva. O espaço é bem amplo (com capacidade para duas mil pessoas), o palco é muito bem projetado, os banheiros são muito limpos, a equipe de funcionários da casa e da produtora On Stage Agência são muito educados e solícitos e a acústica da casa é realmente favorável.
Os portões foram abertos às 20 horas, conforme informado nas redes sociais, e é positivamente interessante ressaltar que o evento rigorosamente seguiu o cronograma apresentado na divulgação.
Credenciamento feito, vamos ao evento. Inicialmente (e nos intervalos dos shows) fomos presenteados com os DJs da Festa Goth Box, que proporcionaram ao público o clima ideal para os shows que viriam: clássicos do Depeche Mode, Siouxsie & The Banshees, The Cure e muito mais.
Às 21h em ponto, a banda Gene Loves Jezebel sobe ao palco. Com um show compacto, com uma hora de duração, a banda apresentou um repertório bem escolhido, destinado aos fãs do grupo, porém, em alguns momentos, ficou evidente uma leve falta de entrosamento entre seus integrantes, tendo o guitarrista entrado num tom errado numa determinada canção e o vocalista sinalizando sempre que possível para que o guitarrista e o baterista valorizassem a dinâmica nas canções, “diminuindo a pressão” e “tocando mais leve“. Interessante destacar as performances do baixista e do baterista da banda, cujos nomes eu confesso não saber, mas que fizeram um excelente show, tanto tocando seus instrumentos quanto assumindo os backing-vocals. E Michael Aston, o vocalista, é de fato o dono da banda, e isso ficou claro quando ele alterou a configuração dos amplificadores Marshall enquanto o guitarrista fazia seu solo em uma das canções. Nada comprometedor mas são situações que merecem uma observação mais cuidadosa por parte da produção da banda.
E por falarmos em Michael Aston, não há como negar duas coisas: a primeira é que seu irmão gêmeo, Jay, faz falta no time, especialmente quando sabemos que o Gene Loves Jezebel parte 02 ficou a cargo dele com os demais membros da formação original da banda. Briga de irmãos, disputas judiciais pelo nome da banda, cada um para um lado e vida que segue; a segunda coisa é que o mesmo Michael Aston é a simpatia em pessoa, tanto no palco como nos bastidores: se comunica muito bem com o público, dança e se movimenta no palco o tempo todo, e continua cantando muito bem, além de ser muito acessível ao público em geral para fotos e um breve bate-papo. O ponto alto do show não poderia ser outra canção senão “Desire“, um dos maiores hits do grupo no Reino Unido e o maior sucesso deles em terras brasileiras.
Pausa de 30 minutos e vamos para a grande atração da noite: The Mission.
É muito gratificante para nós, amantes do Rock, vermos uma banda que, como os bons vinhos, fica melhor com o passar dos anos. Nomes como U2, Red Hot Chili Peppers e Morrissey estão aí para provar que você pode e deve evoluir artisticamente, tomando o tempo como seu maior aliado. E Wayne Hussey e seus companheiros de banda sabem disso e também estão aí para provar que amadurecer faz bem quando se sabe o que quer.
Em duas horas de duração, a banda fez um show digno de sua história e sua importância dentro da cena Gothic Rock mundial: não há um único porém quando o assunto é The Mission no palco. Wayne Hussey, do alto de seus 64 anos, esbanjava vitalidade e competência à frente da banda, seja cantando todas as canções em seus tons originais ou com poucas variações, seja tocando sua famosa guitarra de 12 cordas ou seja mostrando que a sua voz continua perfeita como nos anos 80, transmitindo um misto de sensações ambíguas como prazer e dor, alegria e tristeza, amor e desamor, ou seja: tudo aquilo que o Gothic Rock de fato representa.
Seus companheiros de banda também merecem destaque: a experiência que músicos como o guitarrista Simon Hinkler e o baixista Craig Adams trazem na bagagem faz toda diferença no palco. Hinkler e Adams trazem em seus currículos uma vasta experiência com diversas bandas do cenário britânico: além de serem membros fundadores do The Mission, eles tocaram com The Eden House, The March Violets e Anne-Marie Hurst (no caso de Hinkler); Sisters of Mercy, The Cult, The Alarm e Theatre of Hate (no caso de Adams). Desnecessário dizer o quão competentes esses dois músicos são. Mike Kelly, que sustenta as baquetas desde 2011, se mostra um músico de qualidade e digno da confiança de seus demais companheiros de banda.
Quanto ao show propriamente dito, foi um grande desfile de clássicos: “Beyond The Pale”, “Wasteland”, “Deliverance”, “Like A Hurricane” (originalmente gravada por Neil Young), e claro, os pontos mais altos do show: “Severina” e “Butterfly On A Wheel”, os maiores sucessos da banda no Brasil.
Hussey está mais que ambientado com a plateia brasileira (morando há muitos anos no interior de São Paulo) e vê-lo interpretando suas canções, imprimindo a carga emocional que elas exigem a cada sílaba cantada é de mexer com o coração de todos nós.
Como o vinho que ele degustou no palco, Hussey soube envelhecer e amadurecer com honra, dinigidade e objetivos, mostrando a todos que o Gothic Rock dos anos 80 está mais vivo do que nunca.
TODAS AS FOTOS POR FLÁVIO FARIAS.