Vem da chuvosa Seattle a banda que iremos conhecer hoje. Lógico que a galera do White Metal “das antigas” já ouvir falar e tem o máximo respeito pelo Bloodgood, mas estranhamente a banda nunca conseguiu atingir o mainstream como o Stryper, por exemplo, apesar de ser mais antiga.

Ao lado do Barren Cross, do Leviticus e do Whitecross, a banda formava uma espécie de Big Four cristão, com sonoridade puxada pro hard/heavy e o apreço pelo espetáculo em sua arte de palco, reforçada por imagens e atitudes que os levariam de encontro às alas mais conservadoras, ferrenhas opositoras do estilo.

Fundada em 1984 por Lers Carlsen (vocais) e Michael Bloodgood (baixo e vocais), entenderam que poderiam falar de sua fé numa linguagem que os jovens da época teriam menos resistência para aceitar, e assim após recrutarem David Zaffiro para a guitarra, a banda começou a despertar atenção. Já no ano seguinte, em 1986, a banda gravou o EP Metal Missionaires, que consistia em 4 demos, que seriam lançadas no primeiro álbum (autointitulado, de 1986) e no segundo, o bom Detonation, de 1987.

Antes mesmo do grunge dominar Seattle, bandas como Queensrÿche, Metal Church e TKO se consolidavam como expoentes do heavy metal. Percebendo o período musical favorável, Michael e Les continuaram firmes, ainda que a já citada ala conservadora tenha feito inúmeros esforços para boicotar sua primeira turnê em 1987.Com seu conteúdo lírico versando sobre o Armagedom, esperança e vitória em Cristo, a graça de Deus e uma linguagem bíblica explícita espalhada por todas as canções, não era de se admirar que a representação visual dos caras fosse um tanto chocante no palco. Pra se ter uma idéia, Les Carlsen encarnou o personagem Pôncio Pilatos na turnê seguinte, com direito a representação gráfica da crucificação ao vivo, durante a música Crucify.

Como nem tudo são flores, após 5 álbuns e estúdio e 3 ao vivo, a banda permaneceu inexplicavelmente na “segunda divisão” do White Metal até decidir encerrar as atividades, em 1994.Em 2002, a banda se reformulou, ainda sob o comando de Les e Michael, e em 2006 passaram a contar com Oz Fox, do Stryper, em sua formação. A partir daí seguiu realizando diversas apresentações por ano, sendo incluída no Hall da Fama Da Música Cristã em 2010, mesmo ano em que Detonation ficou na posição 23 da lista de 100 melhores álbuns de rock cristão da Revista HM, e número 8 no fanzine Heaven’s Metal, numa lista de 100 melhores álbuns de rock cristão de todos os tempos. Paralelo a isso, Michael era pastor sênior da igreja Calvary Chapel Redmond, em Washington, enquanto Les foi protagonista do musical Hair, da Broadway.

Tudo seguia bem, até quem em 2022, no dia 29 de julho, Michael Bloodgood faleceu devido a complicações decorrentes de um AVC hemorrágico sofrido em fevereiro do mesmo ano. 2 dias depois, a banda anunciou sua dissolução, deixando um legado musical perpétuo para a comunidade White Metal. Lamentavelmente, o reconhecimento da banda veio de forma tardia e tímida, mas bandas como Stryper, Whitecross e Tourniquet devem muito do espaço que tem a tudo que Michael e Les fizeram pelo estilo. Arrisco dizer que o Bloodgood foi o pioneiro na introdução de estilos mais pesados e agressivos de rock num contexto cristão, sem dever em nada a nenhuma banda de glam, hard ou heavy da época.

O Som…

Como dito antes, a banda faz um hard/heavy bem tradicional, e poderia facilmente estar ao lado de Saxon, Def Leppard (fase pré Hysteria) na NWOBHM, caso fosse britânico. A produção rústica dos primeiros álbuns talvez incomode um pouco alguns ouvidos mais puristas, porém, a qualidade e força das canções, aliada a importância histórica do grupo para o White Metal, tornam essa banda uma unanimidade no meio. Altamente indicado para fãs de Stryper, Bride e Whitecross.

Discografia (estúdio):

  • 1985 – Metal Missionaires (Ep)
  • 1986 – Bloodgood
  • 1987 – Detonation
  • 1988 – Rock In A Hard Place
  • 1989 – Out Of The Darkness
  • 1991 – All Stand Together
  • 2013 – Dangerously Close
  • 2019 – Trenches of Rock (Movie Soundtrack)