Para a coluna dessa semana vamos viajar a um país pequeno e de certa forma sem tradição no hard rock. Comparável em seu tamanho ao estado de Alagoas, a Bélgica é um país sem grandes representantes no estilo a nível mundial, o que prova o quanto o mercado musical pode ser injusto.
Formado em 1969, na região do Flandres Oriental, mais precisamente no município de Aalst, o Irish Coffee tem uma história curiosa e por que não dizer, inusitada. Inicialmente chamada The Voodoo, a banda existiu até 1975 com sua formação original, tendo gravado apenas um disco em 1971, auto intitulado, antes de se separar. Contando com Wiliam Souffreau nos vocais e guitarra, Jean Van Der Schueren nas guitarras, Willy De Bisschop no baixo, Paul Lambert no órgão e Hugo Verhoye na bateria, além de alguns músicos adicionais, a banda lançou seu primeiro disco, que teve como single a canção Masterpiece, que chegou ao número 5 das paradas locais, além de render aparições para a banda em programas de rádio e televisão na época.

Esse sucesso inicial não foi o suficiente para manter a banda unida e em 1973 as saídas de Jean e Hugo, causaram baixas na formação do grupo. A coisa só iria piorar no ano seguinte. Ao voltar de uma apresentação com um cantor local, Paul Lambert sofreu um grave acidente de carro, vindo a falecer, decretando assim o encerramento das atividades do grupo em 1975. A banda ainda tentou mudar de nome (passou a se chamar Joystick) e adicionou um tecladista, e apesar de comporem material inédito, a banda só os lançaria em 2004, quando a banda anunciou seu retorno.
Essa formação contava com Luc De Clus nas guitarras, Stany Van Veer no órgão e no piano, Franky Cooreman no baixo, Stefan Van Straelen dividindo as baquetas com Hugo Verhoye além de William Soffreau nos vocais e gravou o segundo disco da banda, intitulado Irish Coffee ll, que consistia em material inédito composto na época em que a banda passou a se chamar Joystick.

Após esse período a banda voltou a gravar discos com um certa demora entre um álbum e outro, mostrando que não há nenhuma preocupação com o mercado fonográfico. Em 2013 a banda gravou Revisited e em 2015 lançou When The Owl Cries, com o menor intervalo (2 anos) entre discos em sua carreira. Seu último disco é Heaven de 2020. E a sonoridade segue intacta, autêntica e sem grandes invencionices. A banda segue na ativa, porém, já fazem 5 anos sem material inédito, o que com certeza lhes confere uma autonomia artística rara hoje em dia, além de fazer com que a banda mantenha sua identidade musical intacta como veremos no próximo tópico.

O Som…
O Irish Coffee é ideal para os fãs de Led Zeppelin, Blue Cheer, e toda aquela turma dos primórdios do hard rock setentista e do classic rock. Misturando psicodelia, um apreço genuíno pelo movimento hippie, com sonoridade setentista e sons viajantes, a banda tem todos os elementos que fazem a galera 50+ vibrar: órgãos Hammond à la Jon Lord, guitarras competentes e vigorosas, baixo gorduroso, pesado e cheio de frases jazzísticas e bateria com dose cavalar de peso, mostrando que os “batuqueiros” beberam muito na fonte Bonham, Paice, & Moon. Os vocais lembram um Paul Rodgers mais visceral, meio rouco e urgente, rasgado e melódico, fornecendo a energia que cada canção pede. A verdade é que nesse caso, a banda foi engolida por suas tragédias pessoais. É fato também que, nos anos 70, muitas bandas foram ofuscadas pela tríade Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, amargando um ostracismo injusto e imerecido.
Se você é amante do rock setentista e quer fugir da mesmice e dos medalhões, dê uma chance ao Irish Coffee e você não vai se arrepender. Bandaça sem discos ruins e competente ao extremo.

Discografia:
- 1971 – Irish Coffee
- 2004 – Irish Coffee ll
- 2013 – Revisited
- 2015 – When The Owl Cries
- 2020 – Heaven
