Luz Câmera Rock na área para lembrar que a Páscoa está chegando e tudo o que a gente consegue pensar é: como o chocolate está caro! Piadas à parte, vamos falar não sobre religião, ou milagres, ou crenças, mas da representação mais rock n’ roll da figura mais pop que já caminhou entre nós neste planeta: JESUS em Jesus Christ Superstar.
Para esta história, vamos voltar alguns anos – e não, não voltarei ao império romano, pois todo mundo está cansado de saber a trajetória dele – mas, mais precisamente para 5 de junho de 1970. In Rock, pedra fundamental da carreira dos mestres do Deep Purple chegava às lojas, já com alguns clássicos estourando os tímpanos dos jovens nas rádios. Berço de Speed King e Black Night, a banda imprimia a cara que nós conhecemos até hoje. Começava aí o MK2 que moldou o caráter de muita gente.

Mas o que o Deep Purple tem a ver com o Cristo? Bom, o próprio. Acontece que neste mesmo ano, Andrew Lloyd Webber e Tim Rice (autores de adaptações de obras para o teatro como The Phantom of the Opera, Cats, e outros sucessos) haviam terminado de escrever Jesus Christ Superstar, uma versão musical da história mais contada do mundo. E estavam escolhendo o elenco que participaria dessa jornada. E é aí que entra a importância do In Rock. Child In Time se mostrou tão magnânima e visceral que encantou os autores.

No documentário de 50 anos de lançamento de JC Superstar, Andrew diz que “Gillan pareceu perfeito para fazer Jesus, com uma voz forte, convincente e emocionante”. Rice ainda completa que “o encanto foi imediato, principalmente quando ele tivesse que interpretar Gethsemane”, de fato, essa música mostra o auge da interpretação de Gillan como Jesus: o medo, o desespero, a dor, a dúvida, certa insolência e depois a obediência… tudo isso é ouvido neste lamento. A letra ajuda muito, mas é incrível como Ian parece sentir tudo o que foi proposto, como se a dor fosse infligida em seu próprio corpo.
(Este clipe é parte do que foi usado para divulgação do LP lançado em meados de 1971).

Entre as pausas do Deep Purple e as gravações para o clássico dos clássicos, Machine Head, Gillan excursionou com o elenco de Jesus Christ Superstar até finalizar com uma temporada de “sold outs” na Broadway. E eis que surge um problema: a aceitação foi tão grande que a Universal Studios resolveu lançar um filme sobre a obra. Não seria uma filmagem do palco, mas atuações no deserto, em Israel. E embora o sucesso fosse grande, o orçamento não era proporcional, tendo um prazo apertado de 14 semanas para filmagem.

Segundo Gillan, o filme seria rodado durante parte da tour de lançamento de Machine Head e a banda seria muito afetada, então, além de seu cachê de 250 mil libras, ele exigiu que o Deep Purple fosse pago, ou indenizado, como ele mesmo mencionou. A produção não bateu o martelo e Ted Neeley foi chamado para a substituição. Ao ator e músico texano, foi pedido que ele mantivesse os agudos e os tons de certa insolência e revolta na voz, emulando o que Ian havia feito de forma magistral em sua versão.
Neeley se deu tão bem com o papel que o interpretou pela última vez há alguns dias, em Tampa, na Flórida, sem prazo para o fim.
E para mostrar que não houve ressentimentos, o Deep Purple usou Jesus Christ Superstar como música incidental no solo de Strange Kind of Woman, durante a tour do álbum Perfect Strangers.
A peça Jesus Cristo Superstar foi encenada em diversos países, inclusive no Brasil, por duas vezes distintas: em 1972, com adaptação musical por, nada mais nada menos que o poetinha Vinicius de Moraes, com Eduardo Conde como Jesus; e em 2014, com Igor Rickli, Negra Li e Alírio Netto como Jesus, Maria Madalena e Judas Iscariotes respectivamente.
A história original é uma adaptação das narrativas do Novo Testamento, contadas por Judas, com inserções de reflexões do tipo: “como seria a vinda de Jesus na era da comunicação em massa?”. Fica o questionamento, bangers, porque na era da pós-verdade, se o novo Herodes tivesse o controle de uma boa narrativa, a cruz seria tão certa quanto a primeira.
No filme, o cast é:
Jesus: Ted Neeley
Judas Iscariotes: Carl Anderson
Maria Madalena: Yvonne Elliman
Pôncio Pilatos: Barry Dennen
Simão Zelotes: Larry Marshall
Herodes: Joshua Mostel
Pedro: Paul Thomas

E para você que não conhece essa obra, ela está disponível no Prime Video e na Apple TV para locação.

Por hora não tem como assistir ao musical ao vivo, aqui no Brasil, mas, se você, assim como eu, é fã deste ícone que é Ian Gillan, não perca a chance de assistir ao Deep Purple no Best of Blues and Rock, no dia 15 de Junho, no Ginásio do Ibirapuera.
Ainda é possível encontrar ingressos com preços acessíveis. Compre aqui!
Texto por: Amanda Basso


