Sendo direto, curto e grosso: parece existir uma métrica robusta e aparentemente imbatível por trás de “Cloak of Despondency”, novo trabalho dos argentinos da Encoffined. O EP, composto por cinco faixas, não mede esforços quando o assunto é propor diretamente e sem firulas a que vem. Cortando atalhos, vias desnecessárias e termos incompletos, o quarteto formado na cidade de Córdoba em 2013 (ou seja, menos de dez anos de existência até chegar ao atual nível de composição, execução e uniformidade) performa com absoluta coerência e densidade invejável sua sonoridade calcada no Death Metal Old School.
Desde a representativa e incrível capa, obra de Adrian Nuñez Longinus/AtmospherArt, até os detalhes aparentemente mais singelos e corriqueiros de cada momento, dos riffs aos versos, o trabalho exalta um magnético louvor à sonoridade Death dos anos 90, conjugando um material que praticamente qualquer relevante banda da vertente adoraria ter em sua discografia. Criando um padrão facilmente reconhecível, assimilável, onde uma faixa se entrelaça naturalmente com outra sem que haja um dissonância e uma perda de coerência “narrativa”, Encoffined entrega com “Cloak of Despondency” algo bastante admirável.
A banda atravessa o terreno como uma estouro da manada, tendo no ribombar corpulento da bateria de Marcos Córdoba um dos grandes destaques. O baterista dita um ritmo furioso, insano, com um ênfase no bumbo duplo executado de forma basicamente implacável. Tomando a sonoridade como um todo, o grupo soa como uma precisa mescla de elementos das sonoridades Death Metal noventistas, principalmente evocando a urgência e vulto de nomes suecos como Entombed e Grave, mas também de nomes relevantes do cenário americano. As faixas são objetivas, céleres e brutais, tendo na dupla de guitarras de Leandro Smith (também o vocalista da banda) e Agustin Macri uma proeminência violenta, explosiva. Existe um encaixe muito funcional nos fraseados e uma separação muito bem amarrada entre os segmentos instrumentais e outros com a presença dos vocais. Tudo, sempre, regado à eletrizante condução de Marcos atrás do kit de bateria.
Entre os destaques do lançamento, pode-se apontar a segunda faixa, “Bya Gtor (Scattered By Vultures)” , com aquele que pode ser o melhor momento de bumbo duplo no EP; o primeiro single lançado, intitulado “Grave Desires”; e minha favorita “Inverted Burial”. A rigor do aspecto técnico, temos também uma produção quase impecável e ótimas escolhas para todos os lados. O EP foi gravado na Argentina, mas mixado e masterizado no Sunlight Studios da Suécia por Tomas Skoksberg, lenda por trás de trabalhos relacionados a bandas como Amorphis, Amon Amarth, Entombed e outros, o que resulta em uma roupagem ideal.
Visto todos os elementos apresentados e tomando em conta que se trata de uma banda que tem sequer 10 anos de existência, certamente temos com o novo EP da banda argentina Encoffined um importante aviso de que um novo ícone em potencial começa a despontar. Expectativas existem também para ser quebradas, infelizmente, mas, desejo profundamente que a que nutro a respeito da trajetória desse quarteto se realize com primor.
NOTA: 4,5/5