“Não é uma mera síntese de tudo o que a banda fez até aquele momento”
Nota: 4/5.
Ao se lançar num projeto conceitual de 4 álbuns que durou uma média de 10 anos, entre composição, gravação e turnês, o Mastodon deu prova indiscutível da sua genialidade que, inclusive, culminou com o atingimento da sua maturidade musical. Então, os caras provavelmente estavam ansiosos para experimentar e fazer tudo aquilo que desse na cuca. E, assim, eles fizeram! A primeira delas foi trabalhar na composição, em 2010, da trilha sonora do filme Jonah Hex, um western cujo enredo é sambado, mas que as paisagens, cenários e acontecimentos parecem de alguma forma se relacionar com a sua música pela capacidade que o grupo tem de conectar elementos aleatórios. Enfim, pareceu natural que a banda embarcasse nesse tipo de aventura até para expelir as toxinas acumuladas nos últimos 10 anos. Agora, livre das amarras dos trabalhos anteiores, a banda se sentia pronta para o próximo álbum.
Depois de testar os próprios limites na sua quadrilogia mastodôntica, o grupo parece haver conseguindo uma segurança provisória para explorar novos territórios. Então, seguiu por um caminho que tendia mais para um “não-estilo”, ou seja, para a criação de um som mais natural e menos exigente. Nesse sentido, The Hunter marca um passo importante na sua evolução. E a opção do grupo em trabalhar com o produtor Mike Elizondo (cujo currículo é mais famoso por sua experiência com artistas não “metaleiros” como “Dr Dre”, “Eminem” e “50 Cent”, revela muito sobre a intenção de fugir do tradicional. De fato, o que se ouve é um som mais comercial, mas nada que não que negue a sua essência. Embora este que vos escreve, perceba o trabalho anterior como o melhor momento da banda, admito que Elizondo empurrou o grupo na direção daquilo que desejavam e parece que o desejo dos caras era parar com os excessos. Todavia, as mudanças estilística e sonora não podem ser inteiramente atribuídas ao novo produtor. Eles também convidaram um novo artista para a arte da capa. Além disso, mudaram seu jeito de compor. Enquanto álbuns como Blood Mountain e Crack the Skye levaram muito tempo para serem concluídos, The Hunter foi gravado em apenas algumas semanas.
Aqui, vemos o grupo se libertando de muitos bloqueios conceituais. Ao invés de explorar um tema central e desenvolver os desdobramentos, eles escreveram músicas independentes umas das outras. Músicas que são muito mais acessíveis para a maioria do metalheads. Há referências quase que explícitas aos artistas que os influenciaram como em Octopus Has No Friends, que evoca os mestres do Rush; Stargasm,que lembra Pink Floyd; Curl of the Burl, que tem algo de Queens of the Stone Age (com quem os caras mantinham certa amizade) e outras que até hoje tento identificar em que momento, possa ter ouvido.
Há momentos em que a banda parece haver se influenciado por sua própria obra, pois é possível perceber semelhanças com o trabalho anterior. Os caras continuam a escrever letras pessoais como fizeram em Crack the Skye. A faixa-título, por exemplo, é sobre a morte inesperada do irmão do guitarrista Brent Hinds enquanto “caçava” (curiosidade: o título deste álbum seria “Brother”, mas a banda teve um insight de última hora e optou por The Hunter.
> Texto publicado originalmente no blog Esteriltipo.