Fala, galera, beleza?
Biel Furlaneto na área para mais um Além do Óbvio, e hoje falaremos de discos ao vivo.
Quando se trata de registros de grandes concertos, geralmente vêm os mesmos à nossa mente: Kiss Alive! (que acabou de completar meio século e serviu de inspiração para o tema), Iron Maiden com seu excelente Live After Death, o clássico Made In Japan do Deep Purple, Frampton Comes Alive do Peter Frampton, Live at River Plate e Live At Donnington do AC/DC… a lista é imensa.
Mas e aquele ao vivo que quase ninguém fala, mas que é espetacular? Tem banda gigante com registros matadores que são pouquíssimo lembrados. Hoje eu trago dez exemplos para você ouvir no último volume e se sentir na primeira fileira!
Bora lá?
Aerosmith – A Little South of Sanity (1998)
Esse é de longe o mais inexplicável da lista para este que vos escreve. Lançado em outubro de 1998, é um registro da turnê dos álbuns Get a Grip e Nine Lives. Com a banda no auge técnico, entrega tudo em um álbum duplo com simplesmente 23 petardos de todas as épocas da banda até então. Destaque para a dolorida Hole In My Soul, que inexplicavelmente teve vida curta nos sets da banda, Back in the Saddle com Steven Tyler arrebentando nas caixas de som, além da trinca “Alice Silverstoniana” dos anos 90.
W.A.S.P. – Double Live Assassins (1998)
O W.A.S.P. talvez nunca tenha atingido o tamanho que se esperava dele. Apesar de cultuado entre os fãs mais fervorosos do hard’n’heavy oitentista e de estar sempre nos line-ups dos festivais mais conceituados do planeta, a banda sempre ficou mais para um “meio de tabela”. Isso faz com que o excelente ao vivo lançado em 1998 seja até desconhecido para parte do público. O registro da turnê do polêmico Kill, Fuck, Die (1997 — que inclusive cabe em um “Bom ou Bomba”, hein produção?) é avassalador. Começando com um medley pé na porta (On Your Knees, I Don’t Need No Doctor, Helldion e Chainsaw Charlie), ainda traz músicas do então recém-lançado KFD, como Killahead, The Horror e uma arrepiante versão de Kill Your Pretty Face. Ainda sobra espaço para faixas do conceitual The Crimson Idol e, claro, clássicos como Wild Child, Animal (Fuck Like a Beast) e I Wanna Be Somebody.
The Cure – Bestival Live (2011)
Lançado em dezembro de 2011, é de um show dos deuses do pós-punk no festival que dá nome ao disco, realizado dois meses antes. Quem é fã da trupe de Robert Smith sabe que os shows do Cure são simplesmente gigantescos e abrangem toda a sua magnífica carreira — e aqui não é diferente. São 32 faixas, entre clássicos, superclássicos e hinos. Sempre achei que o grupo foi melhorando conforme o tempo passou, e em 2011 eles haviam finalmente chegado à perfeição nos shows. Sem pirotecnia, sem invenção, apenas muito gelo seco, melancolia e tristeza no palco. Destaque para Lullaby, Disintegration, Close to Me, Just Like Heaven, Lovesong… na real, não tem uma versão ruim nesse disco.
Journey – Live in Houston 1981: The Escape Tour (2005)
Lançado “apenas” 24 anos depois de ter acontecido, esse registro do maior nome do AOR é sentimento puro. Primeiro porque a formação mais clássica da banda estava no palco (Steve Perry, Neal Schon, Jonathan Cain, Ross Valory e Steve Smith); segundo porque Perry (meu segundo vocalista favorito da vida) mostra por que era conhecido como “The Voice” durante todo o espetáculo. Clássicos regados a teclado e guitarra esmagam qualquer chance de você não se emocionar com esse show. Who’s Crying Now, Lights, Wheel in the Sky, além da versão definitiva do blockbuster sonoro chamado Don’t Stop Believin’, estão entre os destaques.
Stone Sour – Hello, You Bastards: Live in Reno (2019)
Eu acho Corey Taylor uma das figuras mais importantes para o rock nos últimos 30 anos, no mínimo. Além do sucesso com a caravana mascarada do Slipknot, ainda sobra tempo para um projeto que, para mim, é ainda melhor. O registro em questão é o último oficial da banda até hoje e retrata um show de 2018. No setlist, sons consagrados como 30/30-150, Bother, Made of Scars e Through Glass se misturam com músicas do então recém-lançado Hydrograd (2017), como Knievel Has Landed e Whiplash Pants. Vale demais para você que acompanhou pouco — ou com pouca atenção — esse projeto paralelo que poderia muito bem ser o principal.
Fresno – VTQMV Tour (2023)
Sim! Falaremos de Fresno. Uma das bandas de rock nacional que mais evoluíram ao longo do tempo. Eu acompanho a banda desde que Quebre as Correntes apareceu na MTV há quase 20 anos. Os garotos sofredores daquela época hoje são adultos que tocam e cantam muito melhor, com menos exagero, mas com muito mais emoção e qualidade. Lucas Silveira é um letrista brilhante e vocalista de altíssimo nível. Talvez por estarem sempre por aí e não terem parado para explorar a nostalgia em tours superfaturadas de “retorno/despedida”, sejam pouco lembrados. Esse registro em São Paulo ilustra exatamente o que estou falando. Os gritos desesperados de outrora dão lugar a uma voz feroz e machucada, mas muito mais técnica. Acompanhando o vocalista, temos Vavo (guitarra), Thiago Guerra (bateria), além do baixista Tom Vicentini e o tecladista Lucas Romero (o que esse rapaz faz nas músicas é surreal — dá uma olhadinha em Milonga que você vai entender). Destaques para Vou Ter que Me Virar, Cada Poça Dessa Rua Tem um Pouco das Minhas Lágrimas, Eu Sei, Diga, Parte 2, Desde Quando Você se Foi e Casa Assombrada.
Van Halen – Tokyo Dome Live in Concert (2015)
Quando se fala de Van Halen ao vivo, naturalmente vem à cabeça o icônico e atemporal Live: Right Here, Right Now (1993), da fase “Van Hagar”. Mas tem mais um diamante na discografia — mais precisamente um diamante do tipo “Diamond Dave”. Gravado em 2013 e lançado dois anos depois, mostra o vocalista original de volta. Apesar de ser basicamente “Família VH convida Dave”, já que Wolfgang Van Halen substitui Michael Anthony, é um registro espetacular que prova que, se Dave não canta como Sammy, é inegável a química que ele tinha com o saudoso deus das seis cordas. Um verdadeiro frontman! Carisma e presença de palco ímpares, trocas de roupa a todo momento e um sorriso inconfundível.
Sobre a família VH: Wolfgang segura bem o rabo de foguete em que foi inserido, Alex continua tão bom quanto subestimado na bateria e Eddie… bom, Eddie é o Eddie de sempre: simplesmente o maior de todos. Aquele que há 40 anos todos tentam imitar, mas ninguém chega perto. O setlist é gigante e recheado de clássicos, com espaço para uma ou outra do álbum de retorno, A Different Kind of Truth (que convenhamos não é tão bom assim, mas é irrelevante perto da avalanche que é essa aula de música ao vivo).
Faith No More – Gathered in Their Masses (2022)
Uma das bandas que poucas pessoas associam ao meu gosto é o FNM. Esse ao vivo ajuda a explicar muito meu carinho por Mike Patton e cia. A visceralidade presente nesse registro de 1990 é o maior destaque. É impressionante como a banda funciona como um catalisador de energia imenso. É simplesmente impossível ficar parado ouvindo versões excelentes de Falling to Pieces, Underwater Love, Epic, Easy e mais um monte de músicas.
Também fica claro porque Mike é chamado de “o homem das mil vozes”: as mudanças drásticas na sua voz durante o show (às vezes até na mesma música) chegam a assustar em alguns momentos. O resto da banda — Jim Martin, Billy Gould, Roddy Bottum e Mike Bordin — não fica atrás e entrega uma performance impecável. Para você que acha que o FNM se resume a Epic, garanto que esse registro vai mudar a sua cabeça.
My Chemical Romance – The Black Parade Is Dead! (2008)
A banda que virou o Brasil de cabeça para baixo ao anunciar shows para o ano que vem — e fez a galera com dor nas costas voltar a usar chapinha na franja — lançou um mega ao vivo no auge. Como o nome sugere, trata-se da turnê do santo graal do emo, tocado na íntegra. Vamos combinar que fazer um ao vivo com apenas um álbum na ordem original é no mínimo muito corajoso, ainda mais deixando de lado músicas como Helena, I’m Not Okay e The Ghost of You.
Mas funcionou demais. Sendo executado exatamente como no disco, é uma performance carregada de teatralidade do começo ao fim. Gerard Way canta, grita, ajoelha, se arrasta no palco com sua expressão cadavérica, enquanto traja o uniforme do desfile dos mortos. Para você que vai ao show do ano que vem, é um belo aquecimento!
Alice Cooper – Brutally Live (2000)
Quando pensei no álbum acima, não sabia com o que fechar a lista. Quando usei a palavra “teatralidade”, percebi que teria sido um erro não citar Alice Cooper entre os primeiros albuns, mas vou deixar assim. Falar de rock teatral e não lembrar do maior nome do estilo seria quase um pecado.
Um show que começa com um cibermonstro dizendo “vão embora enquanto podem” não tem como ser ruim. E sorte de quem não foi embora, porque o que se vê a seguir é simplesmente APOTEÓTICO. Impressionante como Alice tem o público na mão do primeiro ao último segundo. Já na abertura com Brutal Planet você entende que está prestes a entrar em um filme de terror delicioso, onde Alice provoca, atinge, mata, morre, revive… e no meio disso, um desfile de músicas inesquecíveis.
Como bom fã de Kiss, não posso deixar de destacar que o baterista Eric Singer simplesmente DESTRÓI a bateria — e nem estou falando do performático solo com as baquetas em chamas. Se você gosta de um registro ao vivo, é obrigado a ouvir esse show, e também assistir (tem no YouTube!).
Pra fechar…
Olha, tem ao vivo pra semana inteira aí, hein!
Conta pra gente nos comentários o que você achou da lista e deixe também sugestões de temas ou bandas para o nosso Além do Óbvio.
Semana que vem a gente tá de volta!
Valeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeu!
TEXTO POR GABRIEL FURLANETO
FOTO DE CAPA: DarkTower Ao Vivo no Aliança 2025 – Por Ian Dias
