Essa cobertura da passagem do Batushka pelo Capital Mineira é motivo de celebração, pois marca a entrada de uma nova colaboradora para o portal e aqui estamos falando de ninguém mais que a Germânia Opus Mortis que agora é oficialmente parte do time de colaboradores do Headbangers Brasil, com vocês, Germânia Opus Mortis estreando em nosso portal.

A convite do meu grande amigo, Augusto Hunter, aceitei o desafio de fazer a resenha sobre a passagem do Batushka por Belo Horizonte, essa que é, de longe, uma das minhas bandas favoritas de Black Metal Litúrgico e Sombrio.

Ao lado deles, nada mais nada menos que, minha ex banda, que vem se consagrando entre uma das crescentes no cenário extremo, especialmente após a parceria de sucesso com a Xaninho. Tendo acompanhado o Batushka nos 5 shows pelo Brasil, a Paradise in Flames seguiu em turnê de lançamento de seu novo disco, o Blindness, que traz não apenas a incrível inovação com diversos elementos da música popular brasileira, com destaque para Black Wings com elementos de forró, baião e bossa nova, bem como expressa cada vez mais seu Extreme Symphonic Metal, característico dos teclados rápidos e “mozartianos” de G. Alvarenga e a fúria explosiva da bateria do monstro S.J. Bernardo.

O carisma e presença de palco de Nienna marcam a nova fase da banda, cujas nuances tanto de voz quanto de atuação nos remetem absurdamente às divas do Metal Sinfônico e Melódico, Tarja Turunen e Floor Jansen, especialmente em Nightwish. Ela mostra a que veio, assumindo de forma única e graciosa os vocais femininos da banda.

O setlist contou com algumas canções já conhecidas como as já consagradas The Way to the Pentagram e Last Breath, sendo que a maior parte do show foi composta pelas canções de Blindness, dando destaque à já citada Black Wings e seus elementos inovadores bem como ao peso de I Feel The Plague e seu contexto no cenário religioso como cegueira conforme propõe o disco.

Germania e Nienna – Foto por Arthur Piercer

Finalmente consegui “colar na grade” pela primeira vez para assistir meus queridos amigos poloneses. A mística já se inicia na montagem de palco, com a música característica litúrgica do leste europeu e eu, que sou uma velha bruxa apaixonada por tradicionalismos, nunca me cansei de sentir essa atmosfera misteriosa e cuidadosamente preparada para nossa missa.

A Missa Obscura se inicia com dois monges acendendo velas e ocupando seus espaços nos púlpitos de tecidos bordados em dourado e vermelho, com quadros característicos de santos e cruzes de ponta-cabeça.

Os monges Тарлахан(Tarlachan) e Джейкоб Борута(Borutha) entram em seguida com suas guitarras começando a noite ao som de Yektenia I, quando então o monge principal, o próprio “pai” entra no palco: nada mais, nada menos que Барфоломей(Bartek) portando um incensário exalando o característico cheiro de mirra do incenso litúrgico. O clima ritualístico segue quando as piras são acesas e as chamas do fogo e das velas criam o clima perfeito. Mirra e enxofre se misturam, céu e inferno são aclamados, uma divindade acima e outra abaixo, como costumo cantar na minha tradição: uma vela para Deus e o cotoco é para o Diabo.

Quando se é fã é muito difícil separar a razão da emoção e citar destaques gerais. O meu destaque sempre será para a canção Polunosznica, que mais uma vez, mesmo depois de assisti-los por mais de 20 vezes, me fez emocionar e chorar. A história por traz dessa canção nos provoca um clima imersivo nas tradições de velório e sepultamento quando a despedida se mescla aos detalhes da ritualística da passagem ao mundo dos mortos, das cruzes dos pecados sendo carregadas como o peso do caixão até o sepultamento e a vida que continua apesar de tudo.

Um dia conversando com Rafał (Тарлахан(Tarlachan)) fui relembrando minha infância que vivia brincando no cemitério, em torno da ritualística da morte, das músicas dos funerais e a semelhança das despedidas. Se eu já amava esse disco, ele passou a ter outro significado muito mais profundo a partir de então, traçando um paralelo entre vida, obra e ritos de passagem..

A Liturgia segue passando por um trecho magnífico de М​А​Р​И​Я(Maria) que, muitas vezes, passa despercebido envolto em outras canções e na ritualística, onde os monges cantores seguem em direção ao público com crânios e se ajoelham rezando sua missa negra.

O véu dos tempos é rasgado diante do público, quando Bartek sugere que os “fiéis” ergam suas mãos para serem abençoados com água benta que ele asperge sobre todos. E assim termina o espetáculo, selando a noite Belorizontina com a atmosfera sombria do “contraculto” católico oriental.

Católico vem do grego katholikós e a palavra católico é a junção de dois termos gregos kata (sobre – junto) e holos (inteiro, todo, total). Ou seja, estivemos catolicamente reunidos diante do Pai, БАТЮШКА, celebrando essa passagem pela capital nacional do metal. Na próxima prometo que os levo para conhecerem o Bonfim e a história do nosso metal, a lápide do álbum I.N.R.I. do nosso clássico Sarcófago.

Meus parabéns à Chamuco Prods, Caveira Velha Produções e Xaninho Discos por mais essa experiência incrível que puderam nos proporcionar.

TODAS AS FOTOS, INCLUINDO A CAPA, POR JHONE SANTOS (Click do rock), GENTILMENTE CEDIDAS PELO O SUBSOLO