Biografia: Sepultura – Roots (1996)

“Ambivalente na forma, polivalente no conteúdo”

NOTA: 4,5/5.

Ao que tudo indica, parece que, para dar conta do processo de construção de Roots, algumas condições se auto impuseram aos músicos do Sepultura. Uma delas e, talvez a principal, foi que imergissem no universo dos nossos ancestrais diretos, os índios. A proposta era resgatar as origens brasileiras mediante a experiência dos nossos ascendentes e isto se deu através de um processo de sociabilização que ocorreu na tribo dos Xavantes, no estado do Mato Grosso/BRA. A estadia na aldeia é considerada uma das principais etapas do projeto, cujo processo consistiu de uma breve, mas produtiva interação entre músicos e indígenas, que compartilharam durante alguns dias, de costumes e ritos.

Nesse contexto, a incorporação dos elementos percussivo-tribais pela banda, constituiu-se de um processo para além da dinâmica musical. Realizaram uma fusão dos elementos peculiares ao estilo Heavy Metal com os sons da terra, que resultou numa estética imanente de sons e de imagens.

Roots é um disco altamente experimental. Só pra citar um exemplo, Lookaway, com Mike Patton (Faith No More), é uma das mais esquisitas do disco. Mas Roots não é experimental apenas na engenharia do estúdio. Permeado de uma atmosfera sombria e orgânica, as imagens produzidas pelos sons engendram na mente um ambiente que remete a uma existência selvagem, onde a natureza reivindica a sua supremacia pela terra.

Roots também é um álbum conceitual. Suas letras privilegiam os aspectos da cultura do Brasil. E, num apanhado geral, pode-se dizer que Roots Blood Roots proclama, num misto de angústia e alegria, o orgulho pelo “dom” de se reconhecer brasileiro; Endangered Species trata da espécie humana como refém de si mesma, e mais do que isto, como uma espécie ameaçada de extinção; Dictatorshit brada contra o golpe de 1964 e da ditadura instalada, que torturou e matou em nome da uma falsa proteção contra os “demônios vermelhos”; Ambush é um emocionante manifesto em defesa da Amazônia.

Contrapondo-se ao lado pesado do disco, temos dois momentos de suavidade e – porque não dizer – de delicadeza: as instrumentais Jasco, que evoca sentimentos de contemplação e Itsári, que apresenta os anfitriões em primeiro plano, contribuindo para um dos momentos mais expressivamente musicais do disco.

Roots, em sua totalidade, é uma miscelânea de sons, cores e formas que levam aos sentimentos mais diversos. Ambivalente na forma, polivalente no conteúdo. Uma obra que, sem dúvida, deu novo significado ao Heavy Metal dentro de um projeto de expressão artística muito mais universal, no qual a música se impõe como matéria de reflexão sobre a condição humana e sua relação com a natureza.

> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo.