Mudar radicalmente a sonoridade pode ser um caminho perigoso. Temos exemplos de bandas como Guns N’ Roses, Metallica, Slayer, Kiss e inúmeras outras que, em algum momento, decidiram inovar por diversos motivos.

Em 1997, o W.A.S.P. já não era novato nesse quesito. Após lançar o conceitual e melódico Crimson Idol e seu sucessor Still Not Black Enough, os fãs da Vespa conheciam a versatilidade de Blackie Lawless. Mas provavelmente não imaginavam algo tão fora da caixa.

Com a ascensão meteórica do rock industrial, muitas bandas começaram a flertar com o estilo. O W.A.S.P. não apenas flertou: ele pegou na mão, pediu em namoro e viveu um bom período imerso em guitarras distorcidas e ruídos de fábrica. Mas isso foi ruim ou bom?

É o que vamos descobrir agora. Bora lá?

Kill Fuck Die

Você lembra do filme Jason X, onde o clássico monstro aparece moderninho, cheio de aparatos, ainda perigoso, mas completamente descaracterizado? É o que dá para dizer da abertura deste álbum. É possível identificar elementos fortes do W.A.S.P. clássico: a voz potente de Blackie, os coros, o refrão explosivo, o solo absurdo de Chris Holmes. Porém, tudo isso está envolto em uma roupagem industrial. Para mim funcionou muito bem, uma das grandes do disco. 5 estrelas.

Take The Addiction

O industrial permanece, desta vez de forma mais cadenciada, e o instrumental lembra a trilha sonora dos jogos da franquia Doom. O vocal segue selvagem, mas se mistura mais com o instrumental do que se destaca no final das contas. É uma boa faixa. 3,5 estrelas.

My Tortured Eyes

Com um ar soturno e dramático, é uma das melhores faixas do álbum. Blackie canta arrastado, enquanto risos de fundo dão o clima. À medida que a raiva na voz e o volume dos instrumentos aumentam, o drama se transforma em uma melancolia desenfreada, misturada a uma bela porção de guitarras distorcidas. Um dos grandes destaques do álbum. 5 estrelas.

Killahead

Apesar de ter sido usada na turnê do álbum e no ao vivo Double Live Assassins, é uma das que menos me agrada. Mesmo sendo uma das que mais se aproxima do que o W.A.S.P. clássico representa, tem um pé bem forte em bandas como White Zombie e Ministry. O único destaque realmente relevante nessa faixa, para mim, é o baixo pulsante de Mike Duda. Longe de ser ruim, igualmente longe de empolgar. 2,5 estrelas.

Kill Your Pretty Face

Um verdadeiro filme de terror de quase seis minutos. A atmosfera assustadora desde o primeiro segundo chega a ser claustrofóbica. É possível sentir sua respiração ofegar enquanto algo muito ruim está prestes a acontecer. Blackie sussurra, fala, canta, profana e assusta com a maestria de poucos. Chris Holmes, Mike Duda e Stet Howland dão o tom dramático para que Lawless finalmente solte o demônio em um refrão desesperador e apoteótico. Uma das melhores músicas da carreira da banda. 5 estrelas.

Fetus / Little Death

Vou analisar as duas juntas porque a primeira nada mais é do que uma vinheta de introdução para a segunda. A esse ponto, apesar de ser uma boa música, para quem é fã de Hard n’ Heavy as coisas começam a irritar um pouco. Tudo é muito eletrônico, muito uniforme na maior parte do tempo. Apesar de Blackie estar cantando muito como sempre, o cansaço começa a bater. 3 estrelas.

U

Aqui, Chris Holmes volta a soar mais próximo do estilo clássico dele: riffs marcantes, solos rasgados e timbre quente, dando uma certa sensação de familiaridade — quase como se o velho W.A.S.P. ressurgisse por alguns minutos dentro do inferno de K.F.D. Mais uma vez, um show à parte. Quando chega o refrão (“U! You! You’re the reason I’m insane!”), Blackie solta a voz de forma mais crua, mas ainda longe do “berro livre” que se esperaria de uma faixa de ódio. O timbre é abrasivo, sujo e cheio de camadas de distorção, fazendo o vocal parecer ecoar dentro de um tubo de metal. 4 estrelas.

Wicked Love

Mike Duda e Chris Holmes começam em chamas, com Stet chegando em seguida. Mais uma faixa potente, pé na porta, que vale muito a pena. Aqui se nota um pouco menos da base industrial, embora ela esteja presente. 3,5 estrelas.

The Horror

Sonoramente, é uma continuação de “Kill Your Pretty Face” com um pouco mais de intensidade. Não tem aquele ímã que te prende no terror, mas ainda assim é inquietante e ameaçadora. Dentro dos incríveis oito minutos e meio, é o momento em que K.F.D. deixa de ser um álbum e se torna uma experiência psicológica. Risadas, sussurros, gemidos e trechos de Blackie recitando frases fragmentadas que parecem vir de um sonho ou de um interrogatório:

KNEEL BEFORE THE HORROR! PIGS WILL DIE!!! KILL, FUCK, DIE! KILL, FUCK, DIE!! KILL, FUCK, DIE!!

Uma verdadeira epopeia dentro da mente de um ser totalmente errático e demoníaco. O ato final de um grande filme de terror. 5 estrelas.

No fim das contas, o K.F.D. é bom ou bomba?

É MUITO BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM.

Visceral, atordoante, agoniante, inquietante, aterrorizante, elétrico. Melhor que boa parte da discografia da banda (inclusive de 90% do que veio depois). O segredo é não ficar procurando “Wild Child” e “Blind in Texas” dentro dele.

Mas e você? O que acha desse álbum do W.A.S.P.? Conta pra gente nos comentários!!!