De gênio e louco todo mundo tem um pouco, principalmente se tratando de Ozzy Osbourne. Na época do lançamento do primeiro single, a excelente Under The Graveyard, em novembro de 2019, todos ficaram empolgados. Uma melodia que vai crescendo, desembocando num refrão pesado e emotivo, passando bem o recado do que o madman estava sentindo na época. Ozzy se viu entre idas e vindas ao médico no referido ano, foi diagnosticado com mal de Parkinson (como se não desconfiássemos), entre outros imbróglios. Por tudo isso, esse disco merece ser ouvido com atenção, respeito e carinho, com uma análise de suas letras, pois acredito piamente ter sido esse o testamento fiel do momento em que Ozzy se encontrava e que culminaria em sua despedida dos palcos.
O segundo single, Ordinary Man, traz a participação de Slash, Duff Mckagan (que tocou no resto do disco também) e Elton John ao piano, e é uma balada belíssima, com um solo estupendo e o Madman cantando como se conversasse consigo mesmo ou fizesse um desabafo/constatação em alguns momentos. Por exemplo, no primeiro verso onde declara:
“Eu não estava preparado para a fama
De repente todos sabiam meu nome
Sem noites solitárias, é tudo para você
Eu viajei muito
Vi lágrimas e vi sorrisos
Só se lembre de que é tudo para vocês”
Versos que mostram um homem cansado, lutando pra se manter de pé, porque sabe que sua saúde já não anda bem, mas fazendo isso por quem ainda queria ouvi-lo, no caso todos nós. Se você tem na cabeça o estereótipo do tresloucado comedor de morcego, sinto te desapontar, pois nesse disco Ozzy desnudou sua alma, expôs todas as suas mazelas, fraquezas e medos, mostrando sua honestidade como nunca antes fez. Repito, ainda que você não goste do disco, ele merece ser ouvido por tudo isso que citei acima.
Musicalmente falando, Take Me What You Want é a mais estranha do disco, pois conta com uma levada moderninha e ecos de Hip-Hop, talvez um atestado de que sua sanidade estava parcialmente mais comprometida que o normal. De resto, Goodbye começa arrastada, com uma progressão de acordes que lembra Painted On My Heart do The Cult, mas no meio a música acelera de tal forma que tive que olhar pra ver se era a mesma canção. A atmosfera densa do início de Today Is The End lembra um pouco o disco Ozzmosis, apesar do refrão com clima mais alegre. Scary Little Green é uma das melhores do disco, pesada, com um dos melhores refrãos já criados por ele.
Durante todo o disco, é possível perceber a alternância de ritmos, ora mais densos, ora mais rápidos. A faixa de abertura é uma das melhores, com baixo pesadíssimo e uma estrutura de pergunta e resposta entre instrumental e vocal, muito parecida com o que o Led Zeppelin fez no clássico Black Dog, com um riff no refrão que lembre e muito outro clássico, Hole In The Sky, que você sabe bem de quem é. Temos nessa faixa também um belo interlúdio que traz imediatamente ecos de No More Tears, justamente na parte que antecede o solo.
No fim das contas, todos sabemos que Ozzy poderia ter se aposentado na época e mesmo assim sua dignidade artística e musical estaria intacta sem que fosse questionado, devido a tudo que fez pelo heavy metal e pela música em si, por isso essa autobiografia musical é digna de todo o respeito. Devido à sua honestidade e transparência, esse disco fez bonito na carreira de Ozzy, sendo um disco genial que, se não entra na galeria dos clássicos, também não fez feio nem envergonha o seu criador.
Nota: 4/5

