Ao pensar em um show acústico de uma banda clássica de rock, muitas vezes pensamos em algo remetendo ao simples, monotrilho e que pode estragar a percepção que temos das músicas dessa mesma banda. Entretanto, vez ou outra somos surpreendidos com apresentações brilhantes, que há um trabalho árduo e complexo de traduzir aquelas músicas que fizeram sucesso na história para uma nova roupagem, abandonando arranjos já conhecidos e os transformando em algo inédito. 

E foi assim que, numa pacata noite de domingo na Barra da Tijuca, o Angra se apresentou no palco do Qualistage divulgando o novo projeto acústico da banda. Com muito garbo e elegância, o grupo promoveu um verdadeiro presente aos fãs homenageando toda a sua complexa discografia. Tornando a noite ainda mais épica, o Angra contou com uma belíssima orquestra, formada por excelentes musicistas nos instrumentos de corda e sopro, além de contar com Guga Machado na percussão e Davi Jardim no piano.

Abrindo o show com a poderosa “Nova Era”, a banda formada por Fabio Lione nos vocais, Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa nos violões, Felipe Andreoli no contrabaixo e Bruno Valverde na bateria iniciou a noite com dois gentis pés na porta. Gentis porque a delicadeza em recriar os clássicos arranjos das músicas foi o ponto alto durante toda a apresentação. Seguida por uma jornada melódica e interessantíssima entre as fases Matos, Falaschi e Lione, o grupo seguiu surpreendendo o emocionado público que cantava cada canção com muita paixão. Destaque para o momento em que Bittencourt ficou sozinho no palco e conduziu orquestra e fãs para a belíssima “Reaching Horizons”, que contou com um lindo coro em uníssono vindo da plateia. 

Nesse momento temos a primeira convidada da noite, Vanessa Moreno, dividindo lindamente os vocais com Lione na excelente “Here in the Now”. A experiente vocalista ainda nos presentou com duas emocionantes interpretações de “Wuthering Heights” e “Tears of Blood”. E então, com Vanessa ainda no palco, chegamos no momento mais aguardado da apresentação quando a banda convida Kiko Loureiro para uma bela sequência de canções inspiradas nas raízes da música brasileira. Em um momento extremamente marcante para todos os presentes, o grupo junto do ex-guitarrista do Angra tocou clássicos como “No Pain for the Dead”, “Holy Land”, “Late Redemption” e é claro, um dos maiores sucessos compostos por Loureiro, “Rebirth”.

Agora sem mais participações, o grupo se encaminha para o fim do espetáculo com a marcante “Bleeding Heart” e deixa o público com aquele gostinho de quero mais. E então o grupo retorna ao palco com a saturada “Carry On”, mas que aqui não incomodou nem um pouco. A música ganhou uma nova roupagem que fez muito bem para o clássico, diminuindo bastante a velocidade e trabalhando muito bem as melodias vocais e nas cordas, tornando-se uma interpretação bastante interessante que a banda pode explorar em outros momentos. Com muita emoção, o público se despede de mais um show marcante do Angra em terras cariocas e com toda certeza já aguarda a próxima passagem do grupo pelo Rio de Janeiro.

A apresentação foi um sucesso inesperado e inesquecível que seria interessante de ser revisitado de tempos em tempos pela banda. Retrabalhar as músicas que marcaram sucesso desses mais de 30 anos de Angra é algo que deu uma nova vida para essas músicas que estão guardadas no coração dos fãs. Para este que vos escrever, presenciar esse momento do qual eu aguardava durante tanto tempo foi uma experiência única e especial, agora nos resta esperar por mais novidades que o Angra nos reserva para o futuro. E se em algum momento voltarmos a ter um acústico do grupo, faça um favor a si mesmo e não perca essa oportunidade, é uma jornada incrível que todo fã precisa viver. O Angra vive!

TODAS AS FOTOS POR IAN DIAS – DIAS PHOTOGRAPH