O segundo dia na terra sagrada do metal seguiu no clima clássico de Wacken: chuva intensa, lama por todos os lados e 85 mil metalheads que simplesmente não se importavam com o clima, armados com capas de chuva, galochas e, acima de tudo, muito amor pelo metal.

O Wacken estava em seu “skin” tradicional: Rain or Shine — ok, mais Rain do que Shine esse ano.

Panorâmica do publico em Wacken pré show do Guns N´Roses – Foto por Cindy Seidel
Prong – Crédito Wacken Open Air

O Prong é uma banda que obviamente desperta curiosidade para quem foi adolescente nos anos 90 como nós. Teriam as músicas a mesma energia ao vivo depois de tantos anos? A resposta não poderia ser mais positiva.
Hits como “Beg to Differ”, “Snap Your Fingers, Snap Your Neck” e “Prove You Wrong” aqueceram o público e os ânimos — mesmo debaixo da chuva torrencial, o que deixava a lama ainda mais densa — mais Wacken, impossível.

Agora teríamos um dos momentos mais aguardados do dia — no Wacken United não se falava de outra coisa, aliás.
A celebração de 45 anos de carreira do Grave Digger, um dos precursores do power metal alemão. Nenhum lugar traria mais imponência a esse jubileu do que um show memorável no maior templo do heavy metal alemão e mundial: o Wacken Open Air!

Chris Botendahl – Foto por Cindy Seidel

Para o delírio dos fãs, a banda de forma muito afiada tocou uma sequência de hinos, com destaque para a dobradinha de Excalibur e a poderosa gaita de foles em Rebellion (The Clans Are Marching).
O que já estava ótimo, ficou ainda melhor com a participação de Uwe Lulis (ex-guitarrista e hoje no Accept).
Mas ainda veríamos um pai orgulhoso no palco, isso aconteceu quando Jamiro Boltendahl — filho do vocalista Chris — se juntou à festa para dividir os vocais em Rebellion. Via-se nitidamente a emoção vivida pelos dois, e deve ser incrível para Chris compartilhar um momento tão importante da carreira ao lado do filho.
Com certeza, um dos melhores shows do dia! — Você sabia que o vocalista do Grave Digger, Chris Boltendahl, gravou um vídeo lá do Wacken exclusivamente para os fãs brasileiros que acompanham o Headbangers Brasil? Quer ver?

Michael Schenker é um ícone que obviamente dispensa apresentações. E aqui no palco do Wacken, sua guitarra se juntou com uma das melhores e mais potentes vozes que tivemos o prazer de escutar da nova geração, o incrível Erik Grönwall, ex-H.E.A.T e conhecido por ter “trazido à vida” novamente o Skid Row.

Michael Schenker – Crédito WOA

O resultado não poderia ter sido mais poderoso: clássicos atemporais como Doctor Doctor (a lendária música de abertura do Iron Maiden) e Too Hot To Handle mostraram que Mr. Schenker é como um vinho de boa qualidade, só melhora com o tempo.

A apresentação ainda teria uma surpresa icônica: Slash do Guns n’ Roses apareceu no palco para uma versão avassaladora de Mother Mary, um verdadeiro deleite para os amantes da guitarra, preparando o terreno para o headliner mais esperado da noite: Guns N’ Roses.

E então, chegou o momento histórico: a primeira vez do Guns N’ Roses no Wacken. A entrada foi anunciada de forma épica, com drones sincronizados iluminando o céu noturno e elevando a expectativa ao máximo. Quando Axl, Slash e Duff surgiram, a plateia explodiu. Foram 3 horas e 10 minutos de show, o mais longo da história do festival.

Drones avisando que o Guns N´Roses iria tocar – Foto por Cindy Seidel

Se a voz de Axl Rose já não é a mesma dos anos 80 e 90, sua entrega hoje é de um verdadeiro showman: carismático, energético e capaz de conduzir um espetáculo tão longo com maestria. Ao lado de Slash, em plena forma e absolutamente magistral na guitarra, e de Duff McKagan, firme no baixo, o Guns entregou um setlist recheado de clássicos: Welcome to the Jungle, Mr. Brownstone, Nightrain, Civil War, Estranged, You Could Be Mine, Rocket Queen, Live and Let Die (cover de Paul McCartney), além dos hinos imortais Sweet Child O’ Mine, Paradise City, Patience e Knockin’ on Heaven’s Door.

Um dos momentos mais bonitos foi ver famílias inteiras, de até três gerações, cantando juntas em uníssono cada refrão. Era a prova de que o Guns continua atravessando gerações e conquistando novos fãs pelo mundo.

E ainda houve espaço para uma homenagem emocionante: o Guns prestou tributo a Ozzy Osbourne, tocando Sabbath Bloody Sabbath e Never Say Die! do Black Sabbath, arrancando lágrimas e aplausos ensurdecedores da multidão.

Quando os últimos acordes de Paradise City ecoaram, a catarse coletiva tomou conta: estávamos exaustos, sem voz, cobertos de lama, mas com a alma lavada e a adolescência reativada. O Guns N’ Roses não apenas fez sua estreia no Wacken — eles reescreveram a história do festival.

TEXTO POR CAMMY MARINO e CINDY SEIDEL