“OPERA METAL BASEADA NUM RECORTE DA NOSSA RICA E TRÁGICA HISTÓRIA”

Esta é uma obra conceitual que faz um trajeto adjacente ao contado pela história oficial sobre a insurreição ocorrida em meados 1896. Um álbum cuja ideia central é uma opera Thrash Metal baseada num recorte da nossa rica e trágica história: a Guerra de Canudos.

Havendo a banda, descartado definitivamente as regras do mercado musical, abandonou também a forma convencional de fazer música e neste álbum escreveu canções com forte sentimento de inadequação. O resultado é um material complexo composto novamente em função da língua materna e cuja principal preocupação parece ser a de denunciar o estado anti-civilizatório em que se encontra a nação.

Contando com uma guitarra especialmente confeccionada para este projeto, Lopes se mostrou intimamente envolvido com os aspectos semióticos do trabalho. Ou seja, com a forma apropriada de engendrar na mente do ouvinte as atmosferas do clima árido do sertão, dos conflitos, dos discursos, etc. A “Matadeira“, como chama carinhosamente a guitarra, permite afinações que favoreceram os timbres mais adequados ao conceito do álbum.

Para este que vos escreve os destaques do álbum vão para O Minuto Antes Da Batalha, que recria o clima de “salva de balas” do Livro Os Sertões, de Euclides da Cunha; A Conselheira, que transfere a figura do líder religioso para a mesma figura emblemática que aparece também em Não Temos Nada A Temer e Cocorobó; Sonho Acabado, uma das mais ferozes do disco; Gravata Vermelha, outra referência ao golpe de 2016; e Ordem e Progresso, quase um grindcore.

Canudos quebra o marasmo presente no Metal como um todo. Foge dos padrões e mostra como é refrescante o impulso criativo alegre e genuíno. É um produto altamente recomendável para todos os inquietos, os famintos e também para os que se identificam com a dor do outro. Uma declaração de compaixão expressa lírica e musicalmente.

Por fim, Canudos é o décimo trabalho de estúdio da Dorsal Atlântica – personificada na figura de Carlos Lopes. Lançado em novembro de 2017, foi inteiramente gravado durante o mês de junho no estúdio Superfuzz no Rio de Janeiro, com os músicos Carlos Lopes (vocais e guitarras), Cláudio Lopes (baixo) e Américo Mortágua (bateria, ✝ 18/08/18).

> Texto originalmente publicado no blog Esteriltipo. [Edição Revisada]