2020 está sendo um ano produtivo e de novidades para a banda Mercy Killing, tradicional grupo de thrash metal de Curitiba (PR). Liderado pelo baixista Leornardo Barzi, o grupo conta desde agosto com a vocalista Vanessa Rafaelly e segue nos ensaios e em novas composições. 

Com mais de 30 anos de carreira, o grupo planeja em breve lançar uma coletânea com grandes músicas de sua carreira, como a ígravação na ntegra da demo Living in my Madness de 1995 e as composições que não constam dessas duas sessões das demos Tales (de 1991) e Toxic Death (de 1992)

Eles também planejam relançar  o EP Escravo Neoliberal  e mais um single inédito. Ou seja, as novidades não páram!

Em entrevista ao Headbangers Brasil, Leonardo relembrou a história da banda e falou sobre as novidades. Confira!

Headbangers Brasil – Como estão sendo esses tempos de quarentena para a Mercy? Alguma produção ou novidades que podem revelar aos fãs? E para você Léo. como está sendo essa quarentena?

Leonardo Barz – Acho que esse isolamento social e o subsequente caos que se instaurou no país (no mundo, na real) nos fez revisar muita coisa. Pra Mercy Killing a coisa foi um pouco mais complicada pois ainda fomos surpreendidos por troca de membros e parecia que o ano estava perdido, mas no final a coisa funcionou melhor do que acontece em um cenário desses. Em Janeiro o Marlonn conseguiu tirar muitas músicas em pouco tempo e agora em Agosto a Vanessa conseguiu o mesmo feito, então voltamos a atividade normal, ensaiando e compondo paralelamente: retomamos a pré-produção do segundo álbum, estamos gravando sessões para participarmos dos festivais online até Dezembro, focando em versões ao vivo (no estúdio, mas sem overdubs nem edições, apenas com mixagem crua de audio e videos amadores, tudo produzido pela banda), vamos gravar algumas sessões para relançar o EP Escravo Neoliberal mais um single inédito e lançar, finalmente, as sessões de gravações de 1995 e 1996 em mídia física, com alguns bônus de demos mais antigas.

Que fique bem claro que utilizamos estúdios que prezam pelo cuidado com a higienização, em horários que não tenhamos contato com outras bandas e fazendo distanciamento de no mínimo 2 metros entre os músicos quando não estamos utilizando máscara. Dito isso, até que nossa vida está bem agitada, né?

Headbangers Brasil  – Conta um pouco da história da Mercy Killing, como foi idealizada, o surgimento, primeiros trabalhos e a evolução musical até dias atuais?

Leonardo Barz – A banda foi formada em 1988 em Salvador (BA), com o intuito de fazermos um Thrash Metal com influência das bandas que ouvíamos na época (notadamente Assassin, Nuclear Assault, Slayer, Metallica e Dark Angel) mas como eu tenho uma bagagem mais Hardcore da época (RDP, Anti Cimex, Crude SS, Varukers…) passamos a fazer um Crossover com muitas músicas curtas. Entre 1990 e 1993 lançamos duas demos e houve uma tendência, sempre combatida por mim, em agregar algo mais melódico, o que culminou em composições mais longas e trabalhadas que, a partir de um determinado momento, acabaram por descaracterizar a banda e promoveram um racha em 1997. A volta às origens acabou sendo lenta e em 2002, quando a reformei em Curitiba (PR), voltamos a nos aproximar do Metalpunk, mas com maior influência de Death Metal também. Em 2015 finalmente lançamos um álbum completo, o Euthanasia, e agora é hora de aprontar seu sucessor.

Mercy Killing
Headbangers Brasil  – A Mercy Killing planeja lançar em breve uma coletânea com as fases da carreira? Conta como surgiu a ideia e a escolha das músicas?

Leonardo Barz- Sim! Na verdade a coletânea terá sua base a sessão de gravação do Estúdio WR em 1996, que deveria ter sido lançada em CD (mas o projeto não foi concluído), a íntegra da demo Living in my Madness de 1995 e as composições que não constam dessas duas sessões das demos Tales (de 1991) e Toxic Death (de 1992) mais algumas faixas das coletâneas que participamos até 1999, englobando toda a história da banda na Bahia.

Todo esse material está disponível no Bandcamp e Soundcloud, mas merece um lançamento físico para os colecionadores.

Headbangers Brasil  – A Mercy Killing agora conta com a nova vocalista, Vanessa Rafaelly. Como está sendo essa nova fase, a adaptação da Vanessa e quais os novos projetos?

Leonardo Barz –Vanessa é uma grata surpresa pois subverteu qualquer expectativa (e subversão é ótimo, não é?), tirando oito músicas em uma semana e conseguindo executá-las normalmente no terceiro ensaio. Além de ser uma profissional de respeito é uma Headbanger Old School, se integrando rapidamente na proposta da banda. Nesse primeiro momento estamos revisitando a execução das composições prontas mas ainda esse ano teremos novas escritas para ela.

Headbangers Brasil  – Vocês tem mais de 30 anos de carreira. Como é se manter tanto tempo na estrada e fazendo o thrash metal que é a marca registrada da banda?

Leonardo Barz – Um dos principais “segredos” é que não existe uma carreira, é um meio de vida. Não me considero um “músico profissional” no conceito puro, sou amador e acho que essa integridade da banda reflete essa falta de vínculo com a questão financeira da coisa. Então somos uma banda que tem um primeiro compromisso, que é agradar os integrantes, e depois mostramos as composições para que os nossos amigos avaliem se elas os agradam. Obviamente que temos esse clima familiar não só entre os músicos da banda, isso se estende às bandas do cenário que estamos inseridos e que temos afinidades, essa relação não é uma maravilha todo o tempo, não cantamos kumbaya com todo mundo, mas onde temos afinidade os laços são fortes e duradouros.

Headbangers Brasil  – Como é fazer metal para o público brasileiro?

Leonardo Barz – Desde o início a banda tem uma abordagem funcional, crua e direta, e isso sempre se traduz em reações no mesmo nível. Mas não só nos shows e no feedback das músicas, mas também das letras, que considero parte tão importante quanto o som. Sempre fomos contestadores, subversivos e de esquerda e poucas foram as surpresas com relação a isso, o que nos coloca em um posicionamento bem definido.

Em resumo, somos uma banda política (não partidária) que acredita que as composições podem colaborar para questionamentos sociais em vários níveis.

Leonardo Barzi

Headbangers Brasil  – Quais as inspirações da banda e em especial como surgiu a ideia do nome Mercy Killing?

Leonardo Barz – Musicalmente fomos influenciados por bandas de Thrash Metal, Hardcore e Crossover dos anos 80 e as letras têm forte influência de escritores anarquistas e socialistas, como Bakunin, Malatesta, Hobsbawm, Chomsky, Marx e Paulo Freire (para citar alguns), além de Augusto dos Anjos.

Headbangers Brasil  – Como vocês enxergam o mercado musical, em especial o do rock/metal no pós pandemia?

Leonardo Barz –No nosso segmento/cenário o mercado não tem tanta influência assim, mas creio que tudo mudará radicalmente, ainda mais no que mais gostávamos, que era tocar ao vivo. O frequentador de eventos, seja Headbanger ou não, é normalmente porco, não lava as mãos quando vai ao banheiro, fala cuspindo e é cinestésico, o que não me deixa nem um pouco confiante em compartilhar ambientes com ele. Vacinas são importantes, mas alguém com um pouco de coerência confiará nesses governantes que estão controlando isso? Basta ver as inúmeras denúncias de desvio de verbas para combater a pandemia.

A curto e médio prazo acho que eventos digitais e um engajamento maior para colaborar financeiramente para que as bandas possam, pelo menos, pagas as despesas básicas, seja online ou comprando merchandising, pode suprir uma necessidade imediata e, só depois que tivermos absoluta certeza do que estamos realmente lidando poderemos pensar em sair do isolamento.

Headbangers Brasil  – Qual música do Mercy pode definir melhor o ano de 2020?

Leonardo Barz – Sufrágio é a letra que sintetiza a situação atual. O voto poderia até não ser obrigatório legalmente, mas sua utilização agora se torna moralmente indiscutível para que evitemos que mais fascistas cheguem ao poder.

10 – E quais os planos para o pós pandemia?

Leonardo Barz – Depois que tivermos certeza que não causaremos mais mortes saindo por aí (mesmo com medidas que devam ser adotadas no dia a dia a partir de agora, como máscaras e álcool gel) faremos shows em todo canto, incluindo planejar uma tour no Norte e Nordeste, estamos com muita saudade de tocar por lá.

Muito obrigada pela entrevista e use o espaço para um recado aos leitores e o que mais achar interessante citar.

Muito obrigado pela oportunidade e pelo espaço, Jéssica, continue com seu trabalho maravilhoso em prol do Underground, que todos fiquem em casa o máximo que puderem, se cuidem quando precisarem sair, votem consciente e foda-se a família Bolsonaro e seus milicianos!