O Power Metal, apesar de muitos taxarem como um estilo “datado”, na verdade se mostra em constante evolução. Prova disso é o excelente trabalho da banda Ego Absence, de São Paulo. Liderado pelo talentoso vocalista Raphael Dantas, conhecido pelo seu excelente trabalho no metal brasileiro,  incluindo o Soulspell, a banda mostra uma versatilidade dentro do gênero, com influências dos clássicos aos mais modernos. 

E o seu álbum de estreia “Serpent’s Tongue”, lançado em fevereiro deste ano, recebeu uma boa repercussão, sendo elogiado tanto pelos fãs quanto pela mídia especializada. 

Formada em meados de 2014 como um projeto de Raphael, anos mais tarde se juntou a ele o guitarrista  Guto Gabrelon, que ajudou nas composições e produção para o primeiro álbum. Integram o time atualmente o baixista André Fernandes e o baterista Augusto Bordini.

Em entrevista ao Headbangers Brasil, Raphael Dantas falou mais sobre o atual momento da banda, cenário heavy metal brasileiro e planos para durante e após a pandemia. Confira!

Headbangers Brasil – Como estão sendo esses tempos de quarentena para o Ego Absence? Alguma produção ou novidades que podem revelar aos fãs? E para você Raphael, como está sendo essa quarentena?

Raphael Dantas – Então, tudo isso só está provando o quanto somos fortes e “Adaptáveis” embora tudo esteja muito difícil, estamos fazendo o possível para que o sonho não pare, e continuamos os trabalhos mesmo que a distância, prova disso são os fests de quarentena que estamos participando como os do Heavy Talk, Bode Metal e em breve o Storm Fest do Ederson Leão, quanto a mim, estou seguindo firme com meu trabalho como produtor musical e vocal coach em paralelo aos trabalhos da Ego Absence.

HB – Conta um pouco da história do Ego Absence, como foi idealizada, o surgimento, primeiros trabalhos e a evolução musical até dias atuais?

RD- Ego Absence tecnicamente nem era pra existir, pois depois da ruptura da minha última banda, resolvi dar uma pausa sem previsão de volta, até que em meio as aulas de canto eu sempre ficava tocando alguma coisa e foram surgindo os primeiros acordes do que seria o nosso primeiro Single, a I Am Free, vendo o potencial que essa música tinha, ficava naquele dilema se seria mais um projeto paralelo ou finalmente tomaria coragem para iniciar uma banda do zero e seguir firme, e daí surgiu a Ego Absence que estreou em 2015 como uma banda de verdade.

HB – Ego lançou seu trabalho autoral “Serpent’s Tongue” que ganhou destaque. Como você avalia esta recepção do público e crítica?

Rd – Eu realmente fiquei surpreso com a tamanha boa recepção, o disco está sendo tão bem aceito que tivemos que mandar algumas caixas do nosso álbum para países como Japão, Suíça, Portugal, fora as vendas que fizemos dentro do nosso território mesmo no meio dessa bagunça toda.

HB – E o show de estreia foi a abertura da banda Vision Divine em São Paulo. Conta para nós como foi essa experiência?

RD- Bom, para mim foi uma experiência inexplicável mas vou tentar, recebemos um convite dos produtores (Dark Dimensions e MB Produções) para abrir esse show e só tínhamos lançado o disco e estávamos (Guto e eu ) conversando constantemente com os novos membros, o André (Baixo) e o Augusto (Bateria) nem havíamos ensaiado nada, mas tínhamos um mês de prazo pra organizar tudo isso, marcamos uma bateria de ensaios nesse tempo e botamos pra moer, como Guto e eu não teríamos problemas por conhecer de cor as músicas, a preocupação maior ficou com os novos membros que já no primeiro ensaio mostraram que não estavam pra brincadeira quando fizemos o primeiro ensaio e batemos a meta traçada, no dia do show aquele frio na barriga me tomava o tempo todo, afinal fazia muitos anos que não estava num palco para fazer um show inteiro, mas estávamos lá para dar nosso melhor e foi o que fizemos, a recepção foi incrível pois além dos amigos e fãs que estavam presentes, conseguimos conquistar pessoas que não nos conheciam ainda, as vendas de merchand foram um sucesso e terminamos o show com aquele gostinho de quero mais!

HB – Posso definir o estilo do Ego Absence como um power metal, mas sem aquele tradicionalismo apenas, vocês incrementam elementos mais modernos. Como surgiu essa inspiração para este resultado final?

RD- Bom o Power Metal embora alguns achem um estilo musical cheio de adjetivos como “Manjado”, “Clichê” ou “Ultrapassado”, mas é o estilo que mais têm evoluído nos últimos tempos na minha opinião, pois mais do que nunca, estão surgindo bandas de power metal que têm sua essência inicial. Indo desde bumbos velozes e palhetadas na velocidade da luz, mas ao mesmo tempo se tem visto novos elementos somados fazendo com que as bandas sejam únicas, seja por guitarras com afinação em Drop ou com 7 ou 8 cordas, sintetizadores, mais elementos sinfônicos e por ai vai. No caso da Ego Absence pensamos justamente na soma do que há de melhor nesse meio, desde os elementos mais tradicionais até os elementos mais modernos, e está funcionando muito bem.

Ego Absence

HB- Como é fazer metal para o público brasileiro?

RD- Quando tem público realmente interessado e engajado é simplesmente uma festa maravilhosa onde trocamos as melhores energias e saímos todos satisfeitos da casa de show. Mas infelizmente nem sempre isso é possível, e na minha visão o motivo para isso está fragmentado, pois a responsabilidade disso é de todos que estão inseridos nessa cena,.

O público é responsável por não estar sempre presente, alguns veículos de mídia só se preocupam com bandas com a vida já ganha para manter seus views em alta. Muitas bandas também persistem em não divulgar seu trabalho por meio de engajamento com os fãs e impulsionamentos em redes sociais, tudo isso se torna uma bola de neve que vai crescendo cada vez mais, temos que todos fazer nossa parte para que possa existir uma cena forte e saudável para todos.

HB – O Ego lançou recentemente um vídeo especial para a “Against the Tide” em formato acústico. Como surgiu essa ideia?

RD – Inicialmente foi graças ao convite do Lucas “Moita” do Heavy Talk que nos fez o convite e aceitamos imediatamente, pois além de um grande amigo da banda, ele também tem um dos canais mais importantes de metal do país, logo discutimos para ver qual música faríamos,. E então surgiu essa versão acústica de Against The Tide que foi rearranjada pelo Guto e depois fomos gravando nossas partes interpretando dentro desse contexto novo, dando um sabor diferente a música.

HB – Quais as inspirações da banda e em especial como surgiu a ideia do nome Ego Absence?

RD- A banda tem como inspiração as maiores bandas clássicas e atuais do estilo, que vão de Helloween, At Vance, Borealis, Kamelot, Wizards, DGM e muitos mais… Sobre o nome da banda, ela veio de uma citação do guru indiano Osho, onde dizia “A ausência da consciência é o Ego, onde o Ego Está ausente, o amor está presente” Essa frase me impactou muito e foi inevitável não fazer uma referência.

HB- Como vocês enxergam o mercado musical, em especial o do rock/metal no pós pandemia?

RD- Eu acredito e espero que depois de tudo que estamos passando no meio desse “pandemonium” que vejam a classe artística com mais amor e seriedade. E quem sabe larguem um pouco de mão a toxicidade das brigas em redes sociais por causa de bandas, política e religião que no fim das contas não leva a nada e realmente se dediquem a adquirir um pouco mais de cultura seja indo a shows, teatros, peças sinfônicas, exposições e etc…

Pois acho que a falta da cultura no cotidiano das pessoas tem sido responsável também pelo desinteresse e descaso que o Metal tem sofrido desde o começo dos anos 2000,. Espero realmente que o mercado musical da música pesada se profissionalize tal como outros estilos populares do nosso país.

HB – Qual música do Ego pode definir melhor o ano de 2020?

RD- Against the Tide com certeza! Pois nesse momento vivemos muita perda, solidão, dores e mais dores, mas estamos ainda assim, firmes , vivendo e nadando contra a maré que são os obstáculos no nosso caminho!

HB – E quais os planos do Ego para o pós pandemia?

RD- Estaremos nos preparando para produzir o segundo play da Ego que provavelmente será finalizado no fim de 2021, pois depois dessa bagunça iremos finalmente promover nosso primeiro álbum ao vivo e armar shows e mais shows com as bandas parceiras da cena que estão também fazendo a coisa acontecer.

HB – Muito obrigada pela entrevista e use o espaço para um recado aos leitores e o que mais achar interessante citar.

RD – Só tenho a agradecer a vocês da Headbangers Brasil pelo espaço, carinho e cuidado, a você, Jéssica em fazer essa entrevista com perguntas tão bem elaboradas, agradecer aos nossos amigos e fãs que estão sempre nos apoiando, seja compartilhando nosso material, ouvindo nossas musicas nas plataformas legais, comprando merchand, vocês fazem toda a diferença, e ainda digo mais, conheçam as bandas do Brasil! Tem centenas delas por ai do rock mais pop até som mais brutal e extremo, basta procurar e verão o valor e o poder de fogo que temos!

Um abraço forte a todos e se cuidem.

Conheça mais o trabalho da Ego Absence

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