“Como um bom Scotch”
Pode fazer frio ou calor, não importa, pois vamos continuar falando sobre os grandes eventos que marcaram a década de 90. Como vocês se recordam semana passada falamos sobre o surpreendente retorno do Jethro Tull, apenas dois anos após sua primeira visita, uma coisa inédita se tratando de bandas internacionais em nosso país. E hoje vamos recordar uma estreia de outro grupo do Reino Unido, mas dono de uma identidade própria, os escoceses do Nazareth.
Desde setembro de 1990 vivíamos a expectativa das confirmações das atrações da segunda edição do Rock in Rio, agendada para o mês de janeiro de 1991 e claro que todo o resto meio que ficou para o segundo plano. Sobre o Rock in Rio 2 já vou adiantando que ele vai ganhar uma edição super especial aqui no “…PRA FICAR!!!”, que será publicada com muitos detalhes, informações, e principalmente lembranças de quem esteve lá. Em virtude desse importante evento completar 30 anos no próximo mês de janeiro de 2021, nós do HB optamos em destaca-lo da cronologia habitual desse nosso especial e pública-lo no mês de seu aniversário no início do ano que vem. Pode me cobrar depois, vai valer a pena esperar.
Mas apesar de todo o alvoroço com o futuro evento no Rio, um nome conseguiu deixar os bangers de queixo caído, mesmo que por poucos dias. De repente surgiu a notícia meio que na base da fofoca de uma possível vinda do Black Sabbath ao Brasil. Hoje isso pode até parecer normal, mas naquela época era quase como se fosse um milagre. Enquanto estava na base do ‘disse me disse’, muita gente achava possível, já outros desconfiavam mesmo com várias bandas gringas nos visitando com frequência, mas a festa foi geral durante o mês de novembro quando duas datas foram confirmadas no Dama Xoc, os dias 1 e 2 de dezembro. Bom como eu disse a alegria durou pouco e uma semana depois as tais datas foram canceladas. Um anúncio promocional chegou a ser publicado na revista Rock Brigade, mas naquela altura todos já sabiam que não seria daquela vez que o ‘Iommão’ viria mostrar seu arsenal de rifes aos pobres mortais brazucas – só mesmo em 1992, mas esse é assunto pra outro “…PRA FICAR!!!”.
Chamar o Nazareth de prêmio de consolação é maldade, mas foi assim que eu imagino que muitos fãs da música pesada devem ter pensado, eu pelo menos me senti assim. Mas vamos explicar direito. A produção dos shows do Nazareth em nada tinha a ver com a produtora que ia trazer o Sabbath e a Metal Produções fez um trabalho muito bom, pois realizou a exemplo do que já tinha feito com o Jethro Tull, uma tour a nível nacional. Ao todo foram oito apresentações: dias 7 e 8 de dezembro no Dama Xoc em Sampa; dia 9 no Aramaçâ em Santo André-SP; dia 12 no Canecão no Rio; dia 13 na cidade de Santos-SP; dia 14 em Curitiba no Paraná; dia 15 em Brasília e dia 16 novamente em Sampa na festa de aniversário da 89FM, que foi realizada no Ginásio do Ibirapuera.
A divulgação foi exemplar com chamadas diárias e entrevista na rádio 89FM, promoção de ingressos e anúncios em revistas especializadas e jornais. A banda também participou de uma edição do programa Fúria Metal na MTV Brasil. A única mancada foi no anúncio com as datas, que ao invés de Santo André estava escrito São Bernardo do Campo e quem é aqui do ABC sabe bem como um engano desses gera muita polêmica.
Minha opção dentro das datas mais acessíveis foi a de Santo André. Eu já tinha ido em festa de formatura no Aramaçâ e até já tinha jogado bola no clube, mas seria o primeiro show que iria assistir no local – e não foi o último, pois ao longo dos anos o Aramaçâ recebeu, e eu pude ir lá assistir, bandas do nível de Faith No More, Deep Purple, Blind Guardian e Dream Theater. Os ingressos também estavam mais em conta para o evento no ABC, Cr$ 700,00 (cruzeiros), que fez desse evento em especial o show internacional mais barato daquele ano. A abertura no dia 9 ficou por conta do grande Golpe de Estado.
Eu comprei o meu ingresso durante aquela semana em uma loja da Wave Wizard, que se situava no Best Shopping em São Bernardo Campo-SP. Shopping esse que nem existe mais, pois ele faliu no final da década de 90 – sabia que um shopping pode falir? Pode sim… e ele ficou abandonado por anos, até que recentemente, o que ainda restava da estrutura após muita depredação, acabou sendo demolido.
Com as ruas enfeitadas para o Natal e com chuva peguei o ônibus para o local do evento naquele domingo na esperança de assistir a dois bons shows. O Nazareth não era uma das minhas especialidades e eu só conhecia as músicas mais manjadas como “Hair of the dog” e a “Love Hurts”. Então eles podiam tocar músicas mais recentes ou mais antigas, para mim não faria diferença. O ginásio, ou pode se dizer, o salão de festas do Aramaçã era muito amplo e tinha mezaninos laterais, que estavam disponíveis para quem optasse por assistir aos shows lá em cima, o que era muito legal. E foi lá de cima que eu acompanhei ao bom show do Golpe, que quando se apresentava no ABC literalmente jogava em casa.
Não demorou muito e o Nazareth entrou no palco. Como eu não conhecia o repertório da banda eu procurei prestar atenção individualmente na atuação dos músicos e o vozeirão do cantor Dan McCafferty sobressaia com uma elegância e técnica, que só mesmo um cara com a bagagem dos anos 70 poderia demonstrar. A banda toda foi muito bem e assim como para um bom Scotch, o tempo fez bem para eles. Importante salientar também que o público, assim como na apresentação do Jethro Tull, era muito eclético e contava com fãs de longa data do Nazareth, que cantavam todas as canções e todos visivelmente emocionados. Outra coisa inesquecível sobre aquele dia, é que eu tomei chuva na ida e mais chuva ainda na volta para casa.
Na edição número 56 da revista Rock Brigade foi publicada uma breve entrevista com o cantor Dan McCafferty e um adendo sobre o giro tupiniquim. Durante sua passagem pelo Brasil, o Nazareth participou de programas na MTV Brasil, como o Fúria Metal e concedeu uma ótima entrevista para a rádio 89FM.
Eu ainda assistiria ao Nazareth mais uma vez, em 1995 no Olympia, ao lado do Uriah Heep, mas esse show de 90 foi marcante, pois colocou o Grande ABC na rota dos locais capacitados para receber eventos internacionais definitivamente.
O ano de 1990 estava se despedindo das bandas gringas, talvez sem o brilho de 1989, mas outros passos foram dados durante um ano de muitas dificuldades, principalmente econômicas, para o país. O Rock in Rio 2 já estava batendo na porta e anunciando um ano de 1991 muito promissor e é nesse ano que vamos nos concentrar a partir da semana que vem. Mas vamos reforçar o aviso, que pelos motivos já explanados, sobre o Rock in Rio 2 nós vamos falar a respeito em janeiro próximo; e na próxima semana vamos nos pautar na visita marcante do Morbid Angel, que estava no seu auge naquela época, aos nossos palcos.
Mas esse assunto nós vamos tratar na semana que vem, pois as lembranças dos shows mais importantes da década de 90 estão no HB “…PRA FICAR!!!”
Nazareth Brazilian Tour ’90:
– São Paulo: 7, 8 e 16 de dezembro;
– Santo André: 9 de dezembro;
– Rio de Janeiro: 12 de dezembro;
– Santos: 13 de dezembro;
– Curitiba: 14 de setembro;
– Brasília: 15 de dezembro.
Setlist básico das apresentações:
- Night Woman
- Razamanaz
- I Want To (Do Everything for You)
- Beggars Day
- Dream On
- Bad Bad Boy
- Cocaine
- Big Boy
- Right Between the Eyes
- Whiskey Drinkin’ Woman
- Vigilante Man
- This Flight Tonight
- Love Hurts
- Hair of the Dog
- Tush
- Broken Down Angel
- Rock Me Baby
N.R.: Já é um costume do “…PRA FICAR!!!” postar vídeos de pelo menos uma apresentação da banda em questão até agora. Infelizmente mesmo com tantos shows realizados pelo Nazareth em 1990, não encontramos registro algum em vídeo dessa vez. Nem mesmo em minha coleção particular em VHS eu possuo algo do tipo. Mas para não passar batido, vamos postar a participação da banda, mesmo que breve, no programa Fúria Metal da MTV Brasil e uma ótima entrevista para a rádio 89FM.
(Créditos das fotos: Paulo Márcio)