Dia 09/11/2023 pode ser considerado o dia que o Tokio Marine Hall em São Paulo estava em chamas. Trocadilhos a parte, eu explico.

Depois de sua última passagem por terras brasileiras em 2017, na divulgação do álbum Battles, a banda sueca In Flames, formada atualmente por Anders Fridén (vocal), Björn Gelotte (guitarra), Chris Broderick (guitarra), Liam Wilson (baixo), que entrou na banda após a saída recentemente de Bryce Paul, e Tanner Wayne (baterista), a banda veio para sua única data no Brasil para a divulgação de seu mais recente álbum, Foregone, lançado em meados de 2023.

Antes do show principal, a banda de abertura foi a Kryour. Não conhecia a banda e fiquei muito impressionado com a qualidade do som deles ao vivo. Eles fazem uma mistura de Death, Children Of Bodom e Machine Head. Ao menos foi essa sensação que eu tive ao conhecer o som dos caras. Eles estavam divulgando músicas de seu mais recente EP, lançado dia 29 de setembro, chamado Creatures Dwell My Room. É uma banda formada por garotos muito competentes, bons músicos e que prometem um caminho brilhante pela frente.

Mas vamos ao show principal da noite, o In Flames. A banda que é famosa pelo Gothemburg Sound, ou por fazer o Melodic Death Metal, fez o mesmo setlist que já vinha fazendo nessa excursão pela América do Sul. Depois da introdução The Beginning of All Things That Will End, já vieram os primeiros riffs da primeira música a ser tocada, de seu mais recente álbum, a agressiva The Great Deceiver, seguida pela mais que conhecida Pinball Map e logo depois pela Everything’s Gone. Depois dessa grande abertura, nessa altura o público já estava em êxtase. Terminada essa sequência, Anders tentou fazer sua primeira interação com a platéia, mas foi interrompido pelo uníssono coro de “Olê, Olê, Olê, In Flames, In Flames”. Não sei se foi alguma previsão da banda, mas ela postou exatamente essa frase em seu Instagram oficial quando anunciaram que já estavam em terras brasileiras para o show da noite.

Em seguida veio a grande surpresa da noite, ao menos para esse que vos escreve, Ordinary Story, do melhor álbum da banda, na minha opinião, é claro, Colony (que me desculpem os fãs do Clayman). Na sequência veio Deliver Us do álbum Sounds of a Playground Fading. Mais uma vez, ao acabar a música o coro de Olê, Olê veio a tona, deixando não só o vocalista, mas como todos os outros membros da banda boquiabertos. O barulho foi tanto que Anders tentou por várias vezes explicar quais seriam as próximas músicas. Até o baterista, entrou na onda e marcava o canto com os toques no bumbo da bateria. Passada a euforia toda, a banda faz um resgate ao passado tocando uma faixa de cada álbum na sequência. Behind Space do Lunar Strain, Graveland do The Jester’s Race e por último a The Hive do disco Whoracle, fazendo com que o fã mais antigo da banda ficasse feliz e representado.

Terminado essa sequência, mas uma vez toda a platéia do Tokio Marine, começou o coro. Era tão alto e forte que Anders dessa vez pede para que o baterista Tanner Wayne grave esse coro. Durante a gravação do coro, feito com o celular, era nítido ver brilho no olhar dos membros, tamanha era a felicidade deles de ver o calor do público. Anders até arriscou um tipo de dancinha em cima do palco nessa hora. Após a gravação, o vocalista diz que isso era tão bom que deveria ser a introdução do próximo disco da banda ou de alguma nova música deles. Resta saber agora, se ele estava sendo político com a platéia ou sincero mesmo, só saberemos no futuro.

O show teve sequência com a Cloud Connected, The Quiet Place, Foregone Pt.1, State Of Slow Decay e a já cansada baladinha Alias do disco A Sense of Purpose. Essa sinceramente, acho que poderia ter sido tirada do setlist e colocado a Meet Your Maker, do Foregone, que era pedida insistentemente por algumas pessoas aos berros nos finais das músicas.

Após mais um discurso da banda dizendo que estavam felizes demais por estar no Brasil e que eles iriam morar em nossas casas tamanha era a felicidade, também falaram que a capital mais Metal da América do Sul, era São Paulo. Por aí já dá pra ter uma noção de como a banda estava muito feliz e empolgada com a reação do público presente.

O show continuou com The Mirror’s Truth, que antes de começarem a tocar, Anders pediu que abrissem uma rodinha. Depois do pedido prontamente atendido pelo público que estava lá, e antes de tocarem I Am Above, do álbum I, The Mask, Anders apresentou uma a um dos seus integrantes, fazendo até uma brincadeira entre eles dizendo que o melhor guitarrista era Björn e não o Chris, como ele tinha dito anteriormente pois o mesmo foi apresentado antes. Por fim encerram com a ótima Take This Life do Come Clarity.

O In Flames é uma banda que vem crescendo musicalmente durante os anos, apesar de só constar atualmente com dois membros “originais” da banda, Anders e Björn, suecos, o restante dos integrantes são todos americanos. Foi um show que conseguiu agradar tanto aos fãs mais antigos, e por assim dizer mais “hardcore” da banda, como também os fãs mais novos, do disco Rerout To Remain para frente. Mas a minha percepção foi que tinham mais novos fãs da banda do que os antigos. Isso mostra que a banda ainda tem uma vida pela frente. Foi mais um show inesquecível da banda.

Mas nem tudo são flores, o som do show em si não estava tão bom. O vocal eu conseguia ouvir mais pela voz do vocalista, por que estava perto do palco, do que pelo som nas caixas de som. Também perguntei para outras pessoas se eles tiveram essa sensação, e a resposta foi afirmativa. Mas isso não apagou a chama e muito menos o calor do público numa noite memorável, em que a casa de show pegou fogo.

TEXTO POR FLÁVIO CONTRUCCI e FOTOS POR TAMIRA FERREIRA