BRAZIL? [subst. masculino] extermínio deliberado é o título do primeiro álbum solo de Leandro Sant’Ana, conhecido músico de Santo André, com passagem por bandas como Leeds e War Industries Inc. O material é um lançamento da Abraxas Records no streaming e também está no Youtube.

Neste registro de duas músicas – Vertigem e Humano, Leandro Sant’Ana experimenta com ruídos, sonoras de telejornais, dark ambient, synths, linhas de contrabaixo e outros elementos para expurgar o sentimento acerca do momento brasileiro atual – pandemia descontrolada, conluio do governo com o neofascismo e o neoliberalismo pungente que massacra as parcelas mais pobres da sociedade.

É um material urgente, necessário para furar a bolha e expor a construção do que nos fez brasileiros até aqui. Abandonei de forma consciente as regras técnicas, teóricas e harmônicas para propor ideias e conceitos de vanguarda”, afirma Sant’Ana.

A composição, produção, edição, mixagem e masterização, além de todo o conceito artístico do álbum é assinado por Leandro Sant’Ana. O único instrumento utilizado nas gravações foi um contrabaixo elétrico, além de efeitos e ambiências.

Busquei explorar ao máximo as possibilidades sonoras do formidável instrumento que é o baixo. Afinações distintas, uso de arco e objetos para produção de som e também alguns efeitos básicos”, conta o músico.

A arte da capa é a foto do céu noturno de Santo André e retrata, através da poluição provocada pela presença de um polo petroquímico que altera a cor das nuvens, a linha tênue que margeia nossas escolhas enquanto sociedade.

Junto ao disco, Sant’Ana lançou um fanzine para complementar a ideia. É o Brasiliana. Música e letras se complementam, caminham na mesma direção quanto ao pensamento ‘o que somos, nós brasileiros?’.

Durante o processo de composição, conta o baixista, manteve conversas com o Tiago Silva, autor de ‘Brasiliana’. “Ambos compartilhamos a indignação que víamos, não só no governo e nos que o apoiam, mas também em toda a parcela da população que se dizia oposição, mas parecia satisfeita em assistir lives, fazer caridade para inflar o ego e dar uma escapadinha aos finais de semana para ir a praia, afinal, ‘vida que segue’ ou ‘tenho que cuidar da minha saúde mental’. A sociedade, em partes, está perdendo a empatia”, desfere Sant’Ana.

O texto não busca um revisionismo histórico, apenas aponta sobre os pilares da construção da nossa sociedade brasileira, quais nossos heróis, quem escreveu a história, usurpada por uma elite mesquinha, como bem descrito pelo professor Jessé de Souza, uma “elite do atraso”.

“A obra toda, que também conta a participação de grandes fotógrafos da região, pede para olharmos no espelho a olhos nus, e irmos até as últimas consequências quanto às verdades que construímos até aqui, como sociedade”, ele finaliza.