Após uma busca atrás de um exemplar do CD “Holy Land” do Angra, consegui finalmente adquirir o meu e por acaso e sem se dar conta havia realizado a compra com Dener Ariani, grande fã da banda, colecionador de vários itens da mesma, além de idealizador do projeto “House of Bootleg“. Surgiu daí a ideia de um bate papo onde ele falou sobre vários temas, como sua coleção, a paixão pelo Angra, encontros com Andre Matos e como foi participar da live realizada por Rafael Bittencourt no aniversário de morte do cantor e você confere tudo em seguida:

DENER ARIANI: “Olá Marcio, tudo bem com você ?
Me chamo Dener Ariani, sou de São Paulo. Minha paixão por música foi herdada do meu finado irmão, vítima de acidente de moto aos 21 anos. Sou co-fundador da House of Bootleg, página que nasceu em 2015 graças a afinidades em comum, com Denis Roberto e Harisson Stoj, pelo Angra e seu legado.

HEADBANGERS BRASIL: Como começou essa paixão pelo Angra?

DENER ARIANI: Com 16 anos de idade e ouvia a 89fm e lá rolava o “89 Decibéis”, e foi então que rolou a “Wuthering Heghts” e na sequência Time, era um programa com as 10 mais e o Angra vinha em uma escalada chegando a ocupar a 10 posição. Comprei então o LP após procurar muito, em uma loja aqui em São MAteus, loja esta que já não existe mais. Foi então que pude ir ao festival Monsters of Rock após muita conversa para convencer o meu pai, que tenho certeza que se soubesse ao fundo do que se tratava teria me barrado (risos).
Meu primeiro show diga-se de passagem, já fui de festival, e lá vi o Angra pela primeira vez.

HB: Você ainda se lembra de quando comprou seu primeiro item e resolveu que seria um
colecionador?

DENER: Meu primeiro item é algo engraçado, pois foi um LP de novela, chamado Bambolê e que tenho até hoje. Depois foi um disco do Legião urbana, o “II”, e enfim um Black Sabath, “Sabath Bloody Sabbath”, o qual fiz a besteira de trocar por CD na Galeria do Rock quando veio o boom dos CD’s.

HB:Atualmente quantos itens compõem a sua coleção e qual deles é o seu favorito?

DENER: Olha, essa resposta será frustrante aos leitores, pois sei que é sempre uma curiosidade a quantidade, devo ter perto de 1200 itens em CD’s e uns 50 ou 70 em vinil. Do Angra que tenho um acervo maior deve estar beirando 180 exemplares atualmente. Fora Andre que tenho além da discografia solo, possuo também os projetos que ele participou.
Viper, Almah e Dr. Sin, seguem na mesmo toada.

HB: Você comanda o projeto “House of Bootleg”, com um canal no youtube com mais de 3 mil seguidores. De onde surgiu a ideia?

DENER: Sou co-fundador da House of Bootleg, página que nasceu em 2015 graças a afinidades em comum, Denis Roberto e Harisson Stoj, pelo Angra e seu legado. O canal veio em seguida e atualmente produzo quase que 100 % do conteúdo tendo uma colaboração do Denis quando ele pode. A ideia foi por causa de uma raça chamada trader, que tem materiais bootlegs raros e não divulgam, apenas trocam e alguns pegam o seu e nem mandam nada de volta, então um dia nos revoltamos e decidimos publicar tudo que temos nas redes para todos terem acesso. Em paralelo teve o fato de eu ter gravado trechos do show do Viper em 2012 do dvd, e depois o 1º Viper Day Manifesto com Andre nos vocais, e partir dali não parei mais, e fui aprimorando técnicas de gravação e adquirindo equipamentos para fazer o melhor boot possível. Fui inclusive convidado para gravar a “Rebirth of Shadows” no Carioca Clube e lá estava com uma equipe de 8 pessoas gravando e um escrevendo sobre o show. O mesmo se repete com outras bandas da cena, como o Angra, Viper, Andre , Anie, Golpe de Estado, Noturnall, Toyshop, Edu Ardanuy, Patrulha do Espaço que inclusive virou dvd oficial, estes dois últimos fui convidado por Michel Camporeze. Criou-se um elo de confiança, afinal eu ficava focado na gravação.

Canal House of Bootleg. Clique para conhecer.

Canal House of Bootleg

HB: Assim como você, também tenho apreço pelas mídias físicas. Gosto de ter o CD na mão, ler o encarte e afins. Mas atualmente, esse tipo de material tem ficado de lado perdendo espaço para a mídia digital. Como você vê mudança?

DENER: Inevitável e triste do ponto de vista colecionismo Marcio. Streaming é o futuro, não tem jeito, rezo para que os músicos, gravadoras e empresários zelem pelo lado do fã que curtir ter o material justamente para isso, folhear, ter o prazer de rolar no som, seja vinil, seja CD saca?! Precisam encontrar um equilíbrio, afinal tem tiragem mínima e não tem sentido ficar com um lote de CD’s empatando grana nos dias de hoje, vendo a banda com empresa claro.

Foto Priscilla Rodrigues/Dener Ariani

HB: Em algumas ocasiões, você esteve com o cantor Andre Matos. Você tem alguma coisa que poderia contar sobre esse encontro?

DENER: Ah Andre, ele sempre atencioso, guardo com carinho nossa última conversa lá no backstage do Aquarius Rock Bar. Ele havia autorizado gravar o show da “Holy Land 20th”, e lá estava eu com meu filho do meio, Victor e um no hospital vítima de atropelamento de moto. Quando fui falar com ele, levei o CD do Soulspell que ele havia participado, ele então toma das minhas mão e diz: ‘’Porra, ainda não tinha visto, ficou bonito”, e assim começou a folhear o encarte falando de todos ali que eram seus amigos, e apontando para o Kiko e dizendo , “este aqui é chato kkk, brincadeira’’. E então ele solta a pérola, elogiando as gravações que fiz, e então com um interrogação enorme perguntei de qual gravação ele se referia. Ele então diz que do piano e voz. Então disse que não entendia, já que ele estava com uma equipe de gravação lá. Ele então diz que deu tudo errado, que as câmeras eram muito enjoadas e deu tudo errado, e que o único registro que existia era o meu. E com sua educação exemplar solta a ´pergunta; “’Tem como você me enviar este material, gostaria muito de ter isso comigo”, e eu disse, “claro Andre”. No dia seguinte tratei de editar a fotos do show do Aquarius e enviei pra ele junto com os vídeos do piano e voz no Sesc Carmo. Ele então faz algo ainda mais fantástico, seleciona uma foto para ser publicada na página oficial, e isso é algo que me dá muita alegria e orgulho. Diversos foram nossos encontros, poderia passar horas aqui escrevendo sobre cada um deles. Mas destaco este por ter sido nossa última conversa, e como último contato um sorriso dentro do carro de sua companheira no backstage do Rock na Praça. Ele olha para mim e sorri, mas logo é levado por ela sem que eu conseguisse ao menos dar o recado do Guillas à ele, que era, “o Guillas te mandou um abraço Andre”. 

HB: No dia da morte de Andre, você esteve presente no que seria o show do Angra naquela noite e acabou virando uma homenagem ao cantor. O que você tem de lembranças daquele dia, o que você sentia ali estando presente naquele momento.

DENER: Bom Marcio, neste dia eu trabalhei , subi ao vestiário para me trocar e desliguei o celular,
quando liguei ele antes de ir embora, começou o bombardeio de mensagens e chamadas perdidas. Me faltou o chão, então liguei para o Rafael que já me atendeu chorando muito, então vi que não era um pesadelo e aquilo estava realmente acontecendo. Demorei mais de 1 hora para conseguir me equilibrar para ir embora. Lembro de sentar na sala após chegar do trabalho e chorar muito em silêncio. Mais tarde um pouco o Rafa me avisou que iria receber os fãs no local do show do Angra na Templo Music na Mooca aqui em São Paulo. Quando cheguei lá tinha a imagem do Andre gigante projetado no backdrop do palco, acho que é uma foto do Rock in Rio do show dele com o Viper. A sensação era de profundo vazio, desnorteado e desolado. Ele foi atendido no hospital que minha esposa trabalha, o Samaritano. E eu só pensava no que poderia ter sido feito para salvar sua vida. Não parecia real, Mas precisava me manter firme e honrar tudo que ele representava para mim e uma legião de fãs, e assim dei início a uma live para que o maior número de pessoas pudessem assistir e dividir um pouco desse sentimento, sei lá, se consolar. Lembro do Lione falando sobre uma mensagem de uma fã que dizia : ‘’Mago, faça sua mágica e traz ele de volta’’. Logo depois o Rafael desceu e ficou com os fãs em uma espécie de vigília, tocando violão e cantando. Gravei mas nunca consegui mexer com este material. Depois disso falava com o Rafa e o Baron, minha esposa e a esposa do Rafa estavam ali formando este pequeno círculo e então o Rafael desmaiou. Foi organizado uma missa pelo Felipe Machado a qual digo que foi uma despedida, na igreja uma legião de capas pretas tomaram os bancos e todo espaço disponível para homenagear nosso querido Andre. Ao final da missa, o padre permitiu que o Rafa tocasse um trecho de cada música, do Viper, Angra e Shaman. Na saída nos organizamos para cantar “Innocence” e assim prestar uma última homenagem ao maestro.

HB: Você foi um dos convidados da Live especial do Angra no aniversário de um ano da morte do Andre. Como surgiu esse convite e como foi participar?

DENER: O Rafael me mandou um mensagem fazendo o convite, disse que havia passado meu contato a uma moça que iria me abordar para combinar. Confesso que não dormi por dois dias. E ainda não acreditava que a banda que um dia eu aplaudi das arquibancadas do Pacaembu em 1994, lá no meio da multidão, sendo apenas um pontinho preto, um dia me convidaria para algo tão especial. Se fosse para dizer no futuro o que aconteceria em minha vida na esfera da música, afirmo que jamais poderia imaginar algo assim. Sempre fiz e faço por prazer tudo na House, nada é monetizado, faço questão que seja desta forma, e se um dia não conseguir mais fazer por questão financeira, paro e tudo bem, sou grato.

HB: Obrigado pela entrevista! Você pode usar este espaço para mandar um recado para seus
seguidores, fãs do Angra e colecionadores em geral.

DENER: Muito obrigado pela oportunidade Marcio, agradeço de coração o espaço para poder dar voz
a tanta coisa guardada aqui. Agradeço a todos que seguem, acompanham e colaboram com a House of Bootleg seja na página seja no canal do youtube. Sem vocês nada disso seria possível.