Quem é você aos 18 anos? São 72 estações vividas, a personalidade já formada, mas tanto ainda pra aprender. Medos bobos, sonhos tolos, mas os mesmos sonhos que você ainda guardará com carinho tantos anos depois e, se não os mesmos medos, outros com as mesmas raízes. O Titanic ainda nem afundou. E quantas vezes ainda ele irá afundar? Não dá pra saber. E nem quem caminha ao seu lado vê as mesmas núvens que você vê.

É disso que fala o novo álbum do METALLICA, um álbum com ares de conceitual sem ser conceitual. Como já resenhamos o álbum aqui, vamos nos concentrar agora no que foi mostrado nos cinemas do mundo inteiro nesta noite de quinta, a listening party. A propósito, você pode conferir o que disse o nosso Augusto Hunter a respeito do disco no link abaixo.

Resenha: Metallica – 72 Seasons (2023)

O filme começa com os quatro músicos em um sofá verde (só sabemos que é verde porque eles falam – as imagens são em branco e preto). Castigados pelo tempo, nenhum deles parece ter os dezoito anos sobre o que querem falar. Estão mais para vovôs de netos com essa idade. Mas logo somos contagiados pela empolgação deles ao falar do novo trabalho. E, claro, pela jovialidade da matadora canção que abre o disco, chamada justamente de “72 seasons”. E este é também o melhor dos clipes que veremos.

Ainda sobre o conjunto do trabalho novo, eles fazem questão de pontuar que o álbum teve início nos riffs, ao invés de alguma composição específica. “Pegamos riffs bons é começamos a escrever”, dizem. Sobre a primeira canção, Kirk lembra que acordou (e que gosta de tocar guitarra ao acordar de vez em quando) e “viu o riff flutuando no universo e o conectou à sua guitarra”.

Antes de cada canção, pelo menos dois membros da banda (você não espera que eu diga os nomes aqui como se você não soubesse, né?) falam algo sobre o que os inspirou, ou como compuseram, de onde veio a ideia ou o que a canção representa ou lembra. Sobre “Shadows Follow“, eles lembram os RAMONES e encontram similaridades entre seus riffs e os que faziam o quarteto punk. Quem é você? O que brilha em você? O que não brilha? Que prazer te dói? A canção parece perguntar.

Continuando na vibe das florestas míticas da Inglaterra e dos “Siouxsie and the Banshees” (segundo eles – é difícil encontrar os pontos comuns pra validar a comparação), o álbum (e o filme) continuam com a também já conhecida “Screaming Suicide”, o suicídio gritante, e a old-school (nas palavras deles) “Sleepwalk My Life Away”. Adiante, Lars faz questão de pontuar que “You Must Burn!” termina com um ponto de exclamação e tem um “grrr” extra. Por outro lado, Rob lembra o quanto “Lux Aeterna“, o primeiro single lançado, exige de suas mãos. A música, não podemos deixar de falar, foi um excelente cartão de visitas desta revisita aos 18 anos. Seu clipe é um dos que mais empolga o pessoal no cinema. “Toda velocidade ou nada”. Algo lembra “Am I Evil?”. Am I Evil? Não. Santo Diamond Head. Santo Motorhead.

Hora de virar a fita (ou passar pro segundo vinil), com “Crown of Barbed Wire“. Nossa viagem no tempo está na metade. E James comenta o quanto gosta do trabalho de Lars na canção. E não adianta procurar pela luz. James já arremata (e ainda no início) em “Chasing Light” que não há luz. A canção provavelmente ficará um bom tempo nos setlists porque Lars a compara com “Fuel” e pela forma como ela começa com vocal antes dos instrumentos (embora o vocal em si não seja uma unanimidade).

“Tentação”. A palavra é repetida várias vezes na próxima canção, que foi uma das quatro já conhecidas. “Se a escuridão tivesse um filho, aqui estou”. Nas entrelinhas, James parece cantar que “toda luz que vem de você vai desaparecer na escuridão e no movimento. Então não há com o que se preocupar. Até mesmo a tentação vai se apagar”. E em “Too Far Gone”, “eu já fui longe demais?” é a pergunta. Ainda consigo ser salvo?”. “Room of Mirrors”, por sua vez, fala sobre o reencontro com as famílias após as turnês. “Cada familiar vai te mostrar seu eu verdadeiro, como um espelho”.

Além das canções que já viraram singles, poucas canções ganharam clipe. Alguns aumentam a experiência de imersão. Outros… que vergonha! O “clipe” para “”Shadows Follow” é até aceitável, mas os de algumas outras são terríveis. É vergonha alheia que chama? Quanto dinheiro ganharam esses diretores pra colocar seus nomes (e suas reputações) em algo tão idiota? Sim, eu faria melhor programando em Pascal em 1995, com minhas 72 estações. Faria melhor não. Eu fiz.

O de “Room of Mirrors” até que é interessante, mas inadequado. Questão de velocidade.

Vamos acabar com isso. Então, no fim, tudo isso era sobre estar apaixonado? James está. A gente soube disso. Mas “Inamorata” não é exatamente uma canção de amor (e, não, “72 Seasons” não tem nenhuma balada). Está mais para “My Friend of Misery“, cuja “misery” é mencionada novamente uma e outra vez. “Ela precisa de mim, mas eu preciso dela ainda mais. Ela me ama, mas eu a amo ainda mais. Ela me mata, mas eu dou fim a esta guerra. Ela me preenche, mas não é por ela que eu vivo”. A canção é a primeira do METALLICA com mais de 10 minutos, mas, como disse Lars, é curtinha, curtinha. É tão boa que eu não diria que se passaram nem quatro minutos. A “Empire of the Clouds” do METALLICA é realmente linda. Uma hora dessas, você já sabe o quanto.

Pra terminar, uma grande notícia que fez toda a sala se empolgar. A experiência de ouvir o METALLICA (quase como se fosse presencialmente) em shows transmitidos ao vivo no cinema vai se repetir. Os mencionados dois sets diferentes serão transmitidos em duas sessões em 18 e 20 de agosto. Vamos estar lá novamente. E se os cinemas escorregarem no volume um pouquinho pra cima, ainda ficaremos mais felizes.

Por enquanto, foi essa a nossa viagem de volta aos nossos 18 anos. Estamos aqui de novo porque uma das maiores bandas de heavy metal do mundo resolveu nos trazer aqui. “72 Seasons“, com seus riffs, suas canções, seu poder, nos transporta de volta a esse tempo de descoberta de quem somos de verdade, a esse país estrangeiro onde não saberemos o que vai acontecer amanhã. Nos transporta de volta até mesmo ao que podemos ter esquecido. E se eu estou de volta a 1995? Que merda! Parece que vou mesmo ter que comprar uma geladeira. E agora? O que faço com meus pés?