O Halloween passou, a zombie walk foi mais morta que os próprios zumbis, graças à chuva que não deu trégua, mas a vontade de falar de Iron Maiden e de histórias de horror não passa nunca. Se você acompanhou a parte 1 dessa saga, conheceu um pouco mais da terrível carnificina causada pelo espírito de um albatroz vingativo, em “Rime of the Ancient Mariner”; ou ainda as aspirações de de Damien Thorne ou as coincidências de enredo de Colheita Maldita, Aldeia dos Amaldiçoados e “Children of the Damned”.
Mas o tema macabro não começa com “The Number of the Beast”, clássico irretocável de 1982, que marca a entrada de Bruce Dickinson na banda. Abrindo um parêntese no assunto, o baixinho já estava em território donzelistico desde setembro de 1981, fazendo seu primeiro show em 26 de outubro de 1981, em Bolonha, na Itália. Smallwood ficou receoso de Bruce estrear perto dos fãs e amigos de Di’Anno, com medo de algum tipo de represália. Meses antes, a Killers World Tour já havia passado pela Itália, então claro que, mesmo longe de casa, Dickinson teve problemas. O comandante deu um banho (literalmente) em parte dos reclamões e continuou o show.
Mas, embora esse fato deva ter sido um terror para encarar, não vamos falar sobre isso, pelo menos não agora…
Iniciada por uma introdução medonha, que causa arrepios nos mais corajosos, deixando a tríade do demônio com ares de lullaby, “Phantom of the Opera” (canção presente no primeiro álbum, de 1980) já foi indicada por Bruce Dickinson como a culpada por fazê-lo desejar estar na banda. Um homem deformado graças a um incêndio encontra abrigo no subsolo da Ópera de Paris. Um gênio da música, que se apaixona pela aspirante à “prima donna” Christine Daaé. Por conta desse amor ele financia as aulas de sua protegida e exige que a garota tenha melhores chances junto à companhia. Olhando assim, parece uma linda história de amor, como já foi retratada diversas vezes na Broadway (onde ficou em cartaz por 35 anos, encerrando suas atividades em abril de 2023) e no Royal Albert Hall, companhia que revelou Sarah Brightman.
Acontece que a história original que Gaston Leroux lançou em 1909 não é bem assim. Um gênio incompreendido treinava dia e noite em seu piano, para que sua melodia fosse perfeita. Obstinado segundo ele mesmo, obcecado na visão de seus vizinhos, o estranho homem de olhos profundos não falava com ninguém e era caçoado por todos. Uma noite, durante um estudo para sua composição “The Music of the Night”, o pequeno prédio onde morava pegou fogo. Desesperado por perder anos de estudo ali, diante do fogo, o homem quase morreu queimado tentando salvar suas partituras. Quando, quase morto, saiu do prédio, as pessoas que o viram fugiram apavoradas, ao invés de prestar socorro. Ele encontrou refúgio no porão da Ópera de Paris, onde jurou destruir qualquer um que cruzasse seu caminho. As pessoas sabiam de sua história, e o descreviam como um verdadeiro demônio. Todos os que se atreveram a procurá-lo, morreram. A fama cresceu, e sua genialidade também. O fantasma havia terminado sua obra e agora buscava alguém para interpretá-la e ser seu Anjo da Música.
Steve Harris conheceu a história através do clássico de 1925, o homônimo The Phantom of the Opera, estrelado por Lon Chaney e resolveu escrever sobre essa macabra personificação da obsessão. Em entrevista Burrrn! Magazine, de setembro de 1992, Harris conta que “Phantom of the Opera foi a primeira grande história que eu escrevi, mais ou menos porque me sentia como o fantasma – obcecado e obstinado”. O terror dessa letra se conta nos detalhes de como a sociedade tratava o fantasma “cubra os olhos e não olhe para o seu rosto”, quase como uma Medusa, “não cruze o seu caminho e fique longe”, o medo se confunde com a repulsa do que é diferente.
Ainda no período jurássico da Donzela, encontramos “Murders in the Rue Morgue”, inspirada no conto homônimo de Edgar Allan Poe, lançado originalmente na Graham’s Magazine, em abril de 1841, conta a história de uma série de assassinatos que ocorriam na rua do necrotério central. Na música Harris não descreve o assassino, mas os assassinatos. No filme de 1932, estrelado por Bela Lugosi, “Assassinatos na Rua Morgue” e no conto, os assassinos são macacos possuídos. O conto trata mais como se fosse apenas um instinto primal, selvagem. O filme descreve o assassino com uma aura sobrenatural. “Killers” vem para apimentar ainda mais esse instinto sanguinário. Já que Steve e Di’Anno descrevem a gana e prazer pela morte através da mente de um assassino de aluguel, que corre por toda a Europa, sem entender os motivos que o levam a sentir todo esse “bem estar”, matando suas vítimas, espreitando-as, caçando-as… aliás o disco Killers (1981) é uma ótima resposta ao novo subgênero do terror que estava dando passos fundamentais na década de ‘80, o slasher (que consiste num assassino em série atacando suas vítimas de forma cada vez mais brutal, com uma pitada sobrenatural, sempre com ênfase na perseguição), com franquias famosas como Halloween (iniciada em 1978), O Massacre da Serra Elétrica (iniciada em 1974), Sexta Feira 13 (1980) e A Hora do Pesadelo (1984) – tendo nessa franquia músicas de Dokken, Vinnie Vincent Invasion e Bruce Dickinson.
A trinca de assassinos do Iron Maiden, finaliza em 1990, com “Assassins”.
Vocês estão malucos para ouvir a playlist dessa matéria, né? Podem ficar tranquilos que eu vou disponibilizar na última parte. Ninguém entra numa matéria minha sem ouvir uma playlist… É como em “Uma Noite de Aventuras” (1987), “ninguém passa por aqui sem tocar um blues”.
Fiquem espertos porque ainda vamos falar do número da Besta e de todos os filmes de terror presentes nesse clássico, além de terrores psicológicos, terrores reais… Tem muita história para vir ainda, então, não vai perder, heim?!
E lembrando que nos dias 6 e 7 de dezembro, a Donzela mais poderosa do mundo, Iron Maiden, vai derrubar o Allianz Parque com sua Future Past Tour, uma brincadeira com o tempo pra falar de Senjutsu e Somewhere in Time. Os ingressos pelo site da Livepass estão esgotados. Mas, nas páginas especializadas do Facebook/Instagram, você consegue encontrar muitos blood brothers vendendo seus tickets. Um ano se passou desde o início das vendas, muita água passou por debaixo da ponte, não é? Mas, se você já está garantido em uma dessas duas datas, mas quer algo mais íntimo, mais próximo, você pode curtir o projeto solo do chefe Steve Harris, British Lion, no Fabrique Club, bem pertinho do metrô Barra Funda, no dia 5 de dezembro. Ainda tem ingressos disponíveis, então corre!
Nos vemos nos shows!
SERVIÇO:
British Lion + Tony Moore’s Awake
Local: Espaço Fabrique
Rua Barra Funda, 1071 – Barra Funda – São Paulo – SP
Horário: 19h (abertura da casa) 21h (show)
Ingressos: a partir de R$210,00 + Taxa de Conveniência
https://www.livepass.com.br/event/british-lion-espaco-fabrique-19330456/?affiliate=MKN
Ingressos Livre de Taxas: Estádio Morumbis – Bilheteria 5
Avenida Giovanni Gronchi, s/N – Morumbi – São Paulo – SP
Horário: de segunda a sábado, das 8h às 17h, exceto dias de jogo.
Texto por: Amanda Basso