O futuro é logo ali…

Ninguém pode acusar o H.E.A.T. de ser pretensioso ou de querer reinventar a roda. A fórmula aqui é simples: melodic hard rock com pitadas de aor, um leve flerte com o power metal e o metal tradicional, levadas contagiantes, refrões marcantes, riffs recheados de clichês do estilo, baixo bem marcado pulsando no groove da música e todo o aparato necessário para que os saudosistas dos anos 80 como eu fiquem extasiados.

Porém, desde a volta de Kenny Leckremo (que havia saído por questões de saúde após o segundo disco, o maravilhoso Freedom Rock), em 2020, a banda parecia querer seguir os passos deixados pelo seu substituto Eryk Gronwall, soando mais pesado do que o som que os haviam tornado conhecidos. Nesse contexto Force Majeure foi lançado em 2022, com uma produção “na cara” sem a ambiência característica do estilo proposto, cuja mudança retira um pouco do charme das canções devido a falta da estética sonora que nós, saudosistas, tanto amamos.

Mas o que isso tem a ver com esse Welcome to the Future, disco mais recente dos suecos? Nesse disco o H.E.A.T. parece ter  livrado Kenny da necessidade de mostrar que sua volta é merecida e que a banda não precisa soar mais agressiva ou pesada para ser considerada uma das melhores do gênero atualmente, e a segunda maior revelação do hard rock sueco (opinião pessoal do editor: o The Night Flight Orchestra ainda é a melhor coisa que rolou na Suécia nos últimos tempos). Dito isso, vamos às músicas.

Os singles Disaster, Bad Time For Love e Running to You deixam claro que os caras “têm o molho”. Puro suco dos anos 80, com cara de clássicos da sessão da tarde e uma leve tentativa de soar como seus conterrâneos do Nestor, o que não é de fato uma crítica. Call My Name tem belas cavalgadas de guitarra, com tecladeira tipicamente aor ao fundo. Que satisfação ouvir uma banda fazer um som desses em pleno século 21 sem se preocupar com modismos ou tendências (característica que mantém o H.E.A.T. com a dignidade intacta no cenário).

Aliás, as guitarras de Dave Dalone são parte essencial do som da banda, e se houver um resquício de justiça no mundo ainda, Dave será reconhecido como um dos maiores nomes da guitarra moderna mundial. Acha exagero? Dê uma conferida na trinca Losing Game, Children of the Storm e Rock Bottom. O H.E.A.T. atual expandiu seus horizontes ao adicionar elementos de heavy metal clássico em suas linhas melódicas (em alguns momentos percebe-se a influência de Adrian Smith até mesmo nos timbres da guitarra de Dave) e evocando ritmos dançantes como o The Night Flight Orchestra faz com maestria. Tear It Down (R.N.R.R) por exemplo começa com uma intro parecida com o Iron Maiden, riffs no refrão parecidos com o Rainbow da fase Stargazer e tempero glam oitentista, numa salada muito bem construída, tudo isso com solo arrasa quarteirão de Dave.

Com vocais limpos, afinados, transitando com perfeição entre o grave e o agudo, com muita personalidade, cozinha baixo e bateria azeitada e coesa, o H.E.A.T. mantém-se vivo, relevante, e o melhor de tudo, disposto a tornar seu som uma tendência de mercado, o que todo fã de hard rock se arrepia só de pensar. Se existe um futuro pro hard rock, ele está sendo apresentado pelo H.E.A.T. Não que eles vão reinventar a roda, pois como já disse, nunca tiveram essa pretensão. Esse disco é nada mais que uma declaração de amor a um estilo tido como morto por muitas mídias e uma parte do público de rock, mas que conta com fiéis seguidores e admiradores. Enquanto existir H.E.A.T. o hard rock vive. Bem vindos ao futuro!!!

TEXTO POR DIOGO FRANCO

NOTA: 4,5 / 5