“Caótico”

Eu já disse isso em inúmeras resenhas esse ano, mas serei obrigado a me tornar repetitivo mais uma vez. Nesse perdido ano de 2020 com todos os problemas que estamos enfrentando, uma das poucas coisas boas estão sendo os lançamentos que a bandas, principalmente as mais antigas, estão nos proporcionando e “Manifesto” é outro exemplo de um disco que vai marcar época.

Lançado em seis de novembro via o selo Listenable Records, “Manifesto” é o oitavo trabalho de estúdio – o anterior é “Burial Ground” de 2014 – e traz a banda francesa Loudblast mais pesada e caótica do que nunca.  Ao lado do líder e membro original, Stéphane Buriez (vocal e guitarra) estão Hervé Coquerel na bateria, Jérôme Point-Canovas na guitarra e Frédéric Leclercq no baixo. O encaixe dessa nova formação pode ser sentido nas canções recheadas de peso e passagens complexas, que exigiram talento individual e que foi prontamente correspondido pelos músicos.

Se você é um fã das antigas e conhece o clássico “Sublime Dementia” (1993), gravado no período do auge do death metal, vai se orgulhar de “Manifesto”, pois é um disco que resgata as bases fundamentais do estilo e que muitas bandas em nome da ‘evolução’, acabaram por deixar de lado, o que em muitos casos, foi um grande erro. Vamos, faixa a faixa, conhecer melhor “Manifesto”.

“Todestrieb” abre o disco sem perda de tempo. Nada de intro dedilhada ou sons sintéticos. O rife começa invadindo as caixas acústicas e a voz grave de Buriez soa esmagadora. As mudanças de andamentos são recheadas de bumbos sendo espancados sem dó com baixo e guitarras trabalhando em conjunto. “Relentless Horror” começa com quebras típicas do estilo e muita velocidade nas escalas das guitarras. Impossível um banger novato acompanhar esse ritmo sem sofrer alguma lesão no pescoço. Já fica o aviso.

Hora de cadência do tipo ‘racha mármore’ com “Erasing Reality”. Que maravilha ouvir esse som pesado, denso e compacto, com um trabalho instrumental coeso e muito bem encaixado. As partes rápidas intercalam com o peso de uma maneira perfeita, é uma grande música. “The Promethean Fire” começa com um som opaco e tribal, e vai ganhando aos poucos um ritmo constante. Rifes ganchudos (SIC) determinam o caminho e a voz assustadora de Buriez a percorre como um furacão que está prestes a arrastar o que estiver pela frente. O solo é rápido e técnico e a base sólida.

Lembra que a pouco eu disse que nesse álbum encontraríamos algumas das bases fundamentais do death metal? Pois bem, escute só o trabalho da bateria de Hervé Coquerel em “Preaching Spiritual Infirmity”. É simplesmente fantástico, uma verdadeira aula. Outra excelente faixa. “Invoking To Justify” começa calma, com uma linha de baixo definida e as guitarras vão se agregando á melodia aos poucos. Obviamente essa passagem era temporária e a carnificina recomeça com outro instrumental muito inspirado e incisivo. O refrão é mortal. Em seguida temos “Festering Pyre” que talvez seja a faixa com as passagens mais antagônicas, pois apresenta aquela velocidade supersônica nas guitarras, rifes destacados no melhor estilo dos anos 90 e uma parte quase que (supostamente) orquestrada com sons macabros de fundo, que reforçam ainda mais o ótimo arranjo. É uma das melhores do disco certamente.

Hora de demolir algumas paredes com “Into the Greatest of Unknowns”, que é leve feita uma viga de aço e poderia muito bem servir como um tipo de contagem regressiva para o final do mundo. “Solace In Hell” nos apresenta o verdadeiro significado de densidade. O som é tão agrupado que parece que falta espaço na sala para ele se propagar e a sensação de desespero é nítida e sensacional. O solo encaixado na melodia é muito técnico e o trabalho baixo/bateria, destacado – uma cortesia de Coquerel e Leclercq . Fechando o álbum temos a intensa “Infamy Be to You”, que invoca tudo o que tem de mais pesado nesse planeta para criar um rife monstruoso.

Como são felizardos os mais jovens, pois se não tiveram a oportunidade de viver o início dos anos 90 e toda época de ouro do death metal, bandas icônicas como o Loudblast continuam firmes e decididas no intuito de propagar o mais puro e letal som, que o tradicional death metal pode transmitir. “Manifesto” é rápido, é pesado, é caótico. E sério candidato a figurar entre os melhores discos de 2020. Confira,

 

Nota: 4,5/5

Tracklist:

1.Todestrieb                      

2.Relentless Horror                    

3.Erasing Reality              

4.The Promethean Fire              

5.Preaching Spiritual Infirmity                       

6.Invoking to Justify                    

7.Festering Pyre               

8.Into the Greatest of Unknowns                  

9.Solace in Hell                 

10.Infamy Be to You

 

Loudblast:

Stéphane Buriez – vocals, guitar 

Hervé Coquerel – drums 

Frédéric Leclercq – bass

Jérôme Point-Canovas – guitar

Fique ligado:

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